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SECA EXTREMA
Ribeirinhos relatam impactos da escassez de água para consumo em cidade paraense
A professora Nubia Melo junta galões d’água na própria casa, a serem distribuídos nas escolas da comunidade ribeirinha de Vila Nascimento (Foto: Gabriel Bandeira/MS)
Cinco horas de voadeira – tipo de barco de metal motorizado - é o tempo que levou para que a equipe técnica da Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde chegasse até a comunidade ribeirinha de Vila Nascimento, no município de Chaves (PA). Esta semana, os profissionais caminharam cerca de quatro horas sob pontes de madeira e bambu para conversar com as famílias atingidas pela seca na região.
“Já tive que acompanhar mulheres em trabalho de parto ao longo de uma viagem de barco”, relatou a enfermeira Iza Fonseca, do posto de saúde referência dos 256 habitantes da vila. Em um mês, a equipe do posto realiza, em média, 1,8 mil atendimentos. Em agosto e setembro, casos de Doença Diarreica Aguda (DDA), dores abdominais, vômitos, assim como casos de hipertensão por conta da água do mar aumentaram.
O relato faz parte do processo de escuta e coleta de informações dos técnicos em campo. Com profissionais da Atenção Primária à Saúde (Saps), da Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), em parceria com a Secretaria de Saúde Pública do Pará (SESPA) e da Secretaria Municipal de Saúde de Chaves, a equipe faz um diagnóstico situacional da emergência na região.
“A Sala de Situação está monitorando e acompanhando estados e municípios atingidos para que não haja nenhuma situação de desassistência”, observa o técnico do Programa Nacional de Vigilância em Saúde dos Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres) e líder da equipe em Chaves, Antonio Alvarado.
Assim como a Vila Nascimento, a emergência atinge outras comunidades ribeirinhas. Segundo a secretaria de saúde local, 5.056 mil pessoas que moram na região do litoral foram afetadas. A área sozinha reúne 66,8% dos atingidos em toda a cidade. Das 19 comunidades ribeirinhas, apenas a população do Rio Taperinha não está com água salinizada. Todas foram impactadas pela estiagem.
Água insuficiente nas escolas
Com a falta de chuvas, o nível do Rio Amazonas, que banha Chaves, está baixo. Assim, a água salgada do Oceano Atlântico começa a chegar próxima das comunidades ribeirinhas, tornando a água imprópria para consumo humano, irrigação e pesca, principais fontes de subsistência dos chaveenses.
Nas 11 escolas matrizes e quatro anexos escolares da comunidade, já há impactos na saúde dos 534 alunos. “O consumo médio diário da comunidade escolar é de 200 litros, enquanto, atualmente há apenas 2 mil litros disponíveis. Com esse ritmo, o estoque de água própria para consumo deve durar apenas dez dias”, alertou a professora e diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Júlia de Paula Moraes, Núbia Melo, que gere todas as matrizes.
Outros cinco municípios visitados
Em outubro, a missão esteve nos municípios paraenses de Altamira, Marabá, Itupiranga, Santarém e Bom Jesus do Tocantins, em decorrência do aumento dos focos de incêndio. Após a visita técnica a essas cidades, encerrada no último dia 18, a Sala de Situação decidiu também estender a missão até Chaves, que sofre com a seca intensa.
As missões da Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde já passaram pelos estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Amapá, e agora, o Pará. Após essas visitas, Acre e Amazonas enviaram ao governo federal um ofício com a declaração de emergência em saúde.
Considerando a condição de saúde local, a situação epidemiológica, a necessidade de atendimento à população e a sobrecarga da rede assistencial, foram liberados mais de R$ 1,2 milhão para ajudar os estados da região Norte, por meio da Portaria Nº 5.506/2024, assinada pela ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Gabriel Bandeira
Ministério da Saúde