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ARBOVIROSES
Brasil celebra 10 anos do método Wolbachia de controle da dengue
Foto: Alessandro Vieira/Fiocruz
Nos dias 30 e 31 de outubro, Curitiba (PR) sediou um evento que celebrou uma década de implementação do método Wolbachia no Brasil, uma inovação fundamental no controle de arboviroses como dengue, chikungunya e Zika. Com a participação de representantes de 11 municípios beneficiados pela tecnologia, além de integrantes do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o encontro destacou os avanços, desafios e perspectivas dessa iniciativa transformadora.
O método Wolbachia utiliza uma bactéria que, ao ser introduzida em mosquitos Aedes aegypti, impede a replicação dos vírus que causam essas doenças. Desde o início dos estudos no Brasil, em 2012, o número de pessoas contempladas pela tecnologia cresceu de cinco mil para mais de quatro milhões – e a expectativa é alcançar cinco milhões até 2025. Durante o evento, o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Rivaldo Cunha, enfatizou a importância do avanço: “A implementação do método Wolbachia é um marco em nossa luta contra as arboviroses. Os investimentos realizados pelo Ministério da Saúde são essenciais para expandir essa tecnologia e proteger a saúde da população”.
A coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses, Lívia Vinhal, compartilhou a satisfação com os resultados obtidos até agora. “A troca de experiências entre os municípios beneficiados mostra que estamos no caminho certo. O método Wolbachia é uma solução sustentável e inovadora para o controle de doenças transmitidas pelo Aedes”, afirmou.
O evento contou com painéis que apresentaram experiências de municípios da Região Sul do Brasil, como Joinville (SC), Foz do Iguaçu e Londrina (PR), além de cidades da Fase 2 do projeto, incluindo Presidente Prudente (SP), Uberlândia (MG) e Natal. Nessas discussões, foram colocados os desafios enfrentados e os resultados encorajadores que vem sendo alcançados.
Curitiba foi escolhida como sede do evento devido à construção da maior fábrica de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia (wolbitos), que promete beneficiar mais de 70 milhões de brasileiros nos próximos cinco anos. Localizada no Parque Tecnológico da Saúde, a biofábrica será essencial para a produção em larga escala de mosquitos com Wolbachia.
Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, líder do Word Mosquito Program (WMP) no Brasil, e responsável pela introdução e condução do método no país, compartilhou as expectativas em relação à biofábrica. “Estamos em um momento histórico. Com a construção de novas biofábricas, como uma prevista para o Ceará, a expansão do método se tornará ainda mais ampla, beneficiando mais cidades e aumentando a proteção da população”, enfatizou.
Durante a atividade, foi anunciada a implementação da tecnologia em seis novos municípios, incluindo Joinville, Foz do Iguaçu, Londrina, Presidente Prudente, Uberlândia e Natal, abrangendo cerca de 1,7 milhão de pessoas.
Ações
A atuação do Ministério da Saúde tem sido essencial para o progresso do método Wolbachia, com investimentos que evidenciam um sólido compromisso da gestão com a saúde pública. Para 2025, o ministério já anunciou um investimento de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, valor que será destinado à aquisição de vacinas contra a dengue, insumos laboratoriais para a testagem de arboviroses, e à implementação de novas tecnologias, como o método Wolbachia e estações disseminadoras de larvicidas. Além disso, haverá suporte aos municípios para custeio assistencial, que será ajustado de acordo com as necessidades específicas de cada território.
Segundo Rivaldo Cunha, o método não apenas representa uma abordagem inovadora no controle de arboviroses, mas também traz consigo promessas de resultados duradouros e sustentáveis para a saúde da população brasileira. “O evento em Curitiba não só celebrou as conquistas passadas, mas também delineou um horizonte promissor para as próximas fases dessa iniciativa, reafirmando a importância da colaboração entre instituições e a necessidade de investimentos contínuos na saúde pública”, concluiu.
Entenda o método
A Wolbachia é uma bactéria encontrada em cerca de 60% dos insetos, incluindo alguns tipos de mosquitos, mas não ocorre naturalmente no Aedes aegypti. Quando introduzida nesse mosquito, a bactéria impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya se desenvolvam, contribuindo para a redução dessas doenças.
O método consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia, que se reproduzem com os mosquitos locais, formando gradualmente uma nova “população”, todos portadores da bactéria. Com o tempo, a proporção de mosquitos que contêm Wolbachia aumenta até atingir um nível estável, eliminando a necessidade de novas liberações. Esse efeito torna o método autossustentável e viável a longo prazo.
Os Wolbitos, como são chamados os mosquitos infectados pela bactéria, não são organismos transgênicos e, portanto, não sofrem modificação genética, além de não transmitirem doenças. A Wolbachia não pode ser transmitida para humanos ou outros mamíferos.
João Moraes
Ministério da Saúde