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RIO GRANDE DO SUL
Mulheres do COE: liderança feminina é maioria na emergência no RS
Foto: Carol Sampaio/MS
As lideranças femininas são maioria no Comitê de Operações Emergenciais (COE) para o Rio Grande do Sul. Elas estão à frente das áreas de planejamento, saúde mental, previsão meteorológica e análise de dados, entre outras. Mais de 20 mulheres já passaram pelos cargos de liderança do COE desde 5 de maio, já que os postos são rotativos. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, comanda a operação em resposta ao desastre que afetou 97% do território do estado.
Atuando de maneira ativa, as decisões e articulações delas norteiam o trabalho que o Ministério da Saúde tem feito após as enchentes. Uma dessas mulheres é Maria Celeste de Souza da Silva, superintendente estadual do Ministério da Saúde no Rio Grande do Sul.
Celeste, como é chamada no cotidiano, participa da gestão do COE. Ela, que é moradora de Porto Alegre, traz em seu trabalho a visão de quem teve a rotina alterada pelas cheias. Cabe a ela participar de reuniões com os governos locais e estadual para afinar as ações.
A superintendente afirma que o olhar feminino influencia na gestão da crise. “Nós ainda vivemos em uma sociedade extremamente machista, preconceituosa e excludente. Ter muitas mulheres na liderança é uma afirmação de que aqui tem mulheres com competência, condições e qualificadas para ocupar espaços de poder”, pondera. Celeste ressalta que o arcabouço da equipe feminina é de acúmulo técnico. “Contamos aqui com mulheres com muita capacidade. Estamos vivendo em uma conjuntura muito rápida, muito dinâmica. Vejo nas nossas gestoras muito conteúdo profissional, o que é essencial para a tomada de decisão”, frisa.
A geógrafa que faz a previsão do tempo
Todos os dias, a reunião de briefing do COE começa com informações sobre a previsão do tempo – essencial para o deslocamento de equipes de saúde e planejamento de ações. Quem reúne, analisa e apresenta esses dados é a geógrafa Cristilene Delfino, do Programa Nacional de Vigilância em Saúde dos Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres).
Firme, mas sempre bem-humorada, ela destaca a importância do trabalho que está sendo realizado no estado. “Nenhuma emergência é igual a outra. Cada resposta a um desastre é singular e necessita de ações e atividades personalizadas. Estar na resposta à emergência das chuvas intensas no Rio Grande do Sul vem sendo uma experiência profundamente gratificante e desafiadora. Cada ação tomada reflete crucialmente no nosso trabalho e impacta diretamente a saúde e bem-estar da população”, comenta.
Cristilene não esconde o orgulho em integrar o Sistema Único de Saúde (SUS) como trabalhadora, especificamente no Vigidesastres: “O programa permite que a preparação e resposta a desastres sejam feitas de forma coordenada e eficiente. Através dessa iniciativa, fortalecemos a resiliência, promovendo uma saúde pública mais forte, equitativa e minimizando danos”.
A geógrafa enaltece a força na ação. “Enquanto mulher e pesquisadora, ocupar o espaço das emergências me permite contribuir com conhecimento técnico e científico. Nessa resposta, atuo na interpretação dos dados meteorológicos, na busca de assegurar as ações das equipes de campo. E estar aqui com um time de técnicos majoritariamente feminino, composto por mulheres resilientes, criativas, amáveis, extremamente qualificadas e especialistas em suas áreas, rompe barreiras de gênero mostrando que a ciência e a liderança em emergências são campos abertos a todos”, conclui.
Dados também é assunto de mulher
Embora a área da Saúde seja um campo composto em sua maioria por mulheres, a Epidemiologia e a área de Análise de Dados são tradicionalmente exercidas por homens. Porém, no COE do Rio Grande do Sul, Talita Batista, consultora técnica do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI), é quem faz esse trabalho.
“É um prazer ter tido a oportunidade de ter sido treinada pelo SUS, no programa EpiSUS (Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde), e hoje poder me colocar a serviço do nosso sistema de saúde, representando as muitas mulheres que exercem tão bem o cuidar do povo, que é a finalidade máxima do nosso SUS”, enfatiza.
A importância do pensamento multifacetado
Débora Noal, psicóloga e consultora do Ministério da Saúde, é responsável pelos planos de saúde mental dos trabalhadores da Força Nacional do SUS e da população gaúcha. Para ela, o pensamento multifacetado da mulher faz a diferença em campo. “A maior força de trabalho da saúde em desastres são as mulheres. A força que propulsiona a gestão e a ação no território é feminina. A visão feminina traça diferentes perspectivas da estratégia que conecta técnica, afeto e matrizes das relações. Os detalhes que fazem os desastres. A cabeça multifacetada, que analisa o desastre de várias formas, que olha para o mundo de vários prismas, faz uma melhor resposta”, defende.
Otávio Augusto
Ministério da Saúde