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JULHO AMARELO
Hepatite: entenda as diferenças entre os cinco tipos virais
Foto: Rodrigo Nunes/MS
“Contraí hepatite A tomando um suco na rua. Na época, aos 26 anos, morava em Recife e, por ser muito quente, me refrescava em algumas paradas. Ocasionalmente, percebi meus olhos amarelados e, após passar por exames, tive o diagnóstico. Precisei ficar de repouso até as taxas diminuírem para retomar minha rotina”. Esse é o relato do jornalista Ênio Lucciola, 60 anos, morador de Brasília. Pensando em casos como o dele, o Ministério da Saúde preparou um material para dar orientações e diferenciar os cinco tipos de hepatites virais: A, B, C, D e E.
As hepatites virais são um problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, os tipos mais comuns são o A, B e C. Na região Norte do país, em especial, é possível encontrar casos do tipo D. A hepatite E é a mais rara, com maior incidência nos continentes africano e asiático.
Hepatite A
A hepatite A é uma infecção causada pelo vírus HAV. Na maioria dos casos, é uma doença autolimitada, transmitida por ingestão de alimentos ou água contaminados por fezes ou devido aos baixos níveis de saneamento básico e higiene pessoal. No caso do jornalista Ênio, a contração pode ter acontecido pela conservação incorreta do suco que ele bebeu.
A contaminação também pode ocorrer por contatos pessoais ou próximos entre pessoas com a infecção e por contatos sexuais. Crianças menores de 5 anos, a partir dos 12 meses de idade, podem se vacinar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para prevenir a infecção pelo vírus.
Para evitar o contato com a doença, é necessária uma higienização adequada das mãos, alimentos, pratos, talheres e instalações sanitárias. Usar preservativos e manter as regiões genitais limpas antes e após as relações sexuais também são métodos de prevenção.
Não há nenhum tratamento específico para a hepatite A. Com o medicamento mais adequado prescrito por um médico, o paciente terá uma melhora e vai garantir o balanço nutricional, incluindo a reposição de nutrientes perdidos pelos vômitos e diarreia. A hospitalização é indicada apenas nos casos de insuficiência hepática aguda.
Hepatite B
Considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), uma das principais formas de contrair a hepatite B é por meio de relação sexual desprotegida. É uma doença infecciosa causada pelo vírus HBV, presente no sangue e nas secreções. Cerca de 20% das pessoas adultas infectadas cronicamente pelo vírus podem desenvolver cirrose e câncer de fígado. Por isso, é importante realizar a testagem de gestantes durante o pré-natal e a profilaxia para a prevenção da transmissão vertical.
O compartilhamento de seringas, agulhas, cachimbos, canudos, lâminas de depilação, escovas de dentes, alicates de cutícula ou outros objetos perfurantes também podem acarretar na contração da hepatite B.
A vacina é a melhor forma de prevenção para a doença e está disponível para todas as pessoas no SUS. Em crianças, deve ser aplicada em quatro doses, sendo a primeira ao nascer e as seguintes aos 2, 4 e 6 meses de idade (a pentavalente). Os adultos que não se vacinaram na infância precisam tomar três doses em um intervalo de 6 meses. Pessoas com imunossupressão ou que vivem com HIV precisam de um esquema especial, com o dobro do volume em cada dose, administrada nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
Hepatite C
É um processo infeccioso e inflamatório causado pelo vírus HCV. Pode se manifestar na forma aguda ou crônica, sendo a segunda a mais comum. É uma doença silenciosa que acomete o fígado e, em alguns casos, pode desenvolver uma cirrose. Há também o risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (CHC) e de descompensação hepática.
Apesar de não apresentar sintomas na maioria dos casos, a hepatite C pode se manifestar com febre, fadiga, náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, urina escura e icterícia. A infecção pode ocorrer pelo contato com sangue contaminado, compartilhamento de objetos perfurantes e cortantes e falhas de esterilização.
A testagem espontânea da população prioritária é imprescindível no combate a esse tipo da doença. O tratamento é feito com antivirais de ação direta por 12 ou 24 semanas. Todas as pessoas infectadas pelo HCV podem receber o tratamento pelo SUS nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Hepatite D
Também chamada de Delta, a hepatite D é uma infecção causada pelo vírus HDV. Para se replicar, precisa estar associado ao vírus da hepatite B. Desta forma, a contaminação pelo HDV está associada sempre em pessoas com HBV e só assim pode causar inflamação das células do fígado. A forma crônica é considerada a mais grave, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, carcinoma hepatocelular e morte.
A transmissão da doença é idêntica à do tipo B. Por isso, a vacina contra o HBV também protege contra o HDV. Os sintomas, quando aparecem, são cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. O tratamento da hepatite D acontece por meio do controle do dano hepático e todas as pessoas com este tipo da doença podem realizar as terapias disponibilizadas pelo SUS. Além do tratamento medicamentoso, recomenda-se que a pessoa não consuma bebidas alcoólicas.
Hepatite E
A hepatite E é uma infecção causada pelo vírus HEV de curta duração e autolimitada. Na maioria dos casos, é de caráter benigno. Porém, a hepatite E pode ser grave em gestantes e, mais raramente, causar infecções crônicas em pessoas que tenham algum tipo de imunodeficiência.
É transmitida via fecal-oral e pelo consumo de alimentos e de água contaminada, em locais com infraestrutura sanitária inadequada, além da ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais, transfusão de produtos sanguíneos infectados e transmissão vertical de uma mulher grávida para seu bebê. As formas de prevenção e tratamento são semelhantes à da hepatite A.
Brasil Saudável
Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde lançou o programa Brasil Saudável, que visa eliminar ou reduzir doenças determinadas socialmente – isto é, doenças que afetam mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade social. As hepatites virais estão no escopo da ação, com base nas metas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os tipos B e C são fortemente influenciados por determinantes sociais: baixo nível educacional, pobreza e falta de acesso a cuidados de saúde adequados têm sido associados a uma maior prevalência e gravidade dessas doenças. Pessoas em situação de rua, usuários de drogas, trabalhadores do sexo, pessoas privadas de liberdade, migrantes, entre outros grupos, muitas vezes são expostos a situações que aumentam sua vulnerabilidade à infecção pelos vírus HBV e HCV.
Ana Freire
Ministério da Saúde