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RAÍZES DO CEDRO
Força Nacional do SUS realizou mais de 2,4 mil atendimentos a repatriados do Líbano
Foto: Rafael Nascimento/MS
A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) concluiu a operação de acolhimento aos repatriados do Líbano, região em conflito no Oriente Médio. No total, foram 2.442 atendimentos, sendo 1.815 psicossociais e 627 assistenciais. Desde 6 de outubro, a Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, operava com tendas equipadas para primeiros socorros, além de espaços como brinquedoteca e áreas de oração, respeitando aspectos culturais e religiosos dos repatriados.
Renato Santos, enfermeiro da FN-SUS, destacou a satisfação em concluir a missão humanitária de atendimento aos repatriados, ressaltando a eficiência e a sensibilidade das equipes envolvidas, inclusive o SAMU de Guarulhos, que se fez presente durante os 13 voos. Segundo ele, os atendimentos demonstraram o comprometimento com a dignidade e os direitos humanos. “ A operação Raízes do Cedro foi considerada uma resposta exemplar do SUS em situações de crise internacional, focando no acolhimento e na preservação da saúde e bem-estar dos repatriados e suas famílias”, afirmou.
O trabalho da FN-SUS começou semanas antes da chegada dos 13 voos de repatriação. A equipe, composta por 169 profissionais — médicos, enfermeiros, psicólogos e tradutores —, participou de treinamentos presenciais e online para alinhar cuidados médicos, psicológicos e culturais.
“Realizamos uma reunião conjunta entre Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, FNSUS e a comunidade árabe. Buscamos construir uma resposta humanizada para proporcionar bem-estar aos repatriados”, explicou Amanda Dantas, coordenadora da missão.
As equipes incluíram homens e mulheres, além de profissionais que dominam árabe, francês, inglês e português. “Um acolhimento humanizado requer respeito à cultura e particularidades de cada pessoa, pilares do SUS, como equidade e integralidade”, complementou Amanda.
A atuação foi organizada em três frentes:
- Equipe de acolhimento, que recepcionava os repatriados em sua língua materna
- Equipe de urgência e emergência, pronta para atender casos mais graves
- Equipe na tenda, com estrutura para suporte médico e psicossocial
No desembarque, informações sobre as condições físicas e emocionais dos passageiros eram compartilhadas por profissionais da Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo um atendimento rápido e direcionado. Casos mais comuns incluíram desidratação leve, picos hipertensivos e atendimentos psicológicos iniciais.
Segundo Amanda, a equipe de profissionais recebeu uma espécie de manual de costumes do país, envolvendo cultura, comportamento, vestimenta, linguagem, religião e alimentação para prestar um atendimento acolhedor. “A FN-SUS está preparada para realizar uma resposta eficiente à situação dos repatriados, levando assistência em saúde, com foco na preservação da dignidade humana e no respeito aos direitos dos migrantes, sendo essa uma das maiores ações de repatriação já realizada. ”, concluiu Amanda.
Foto: Rafael Nascimento/MS
Histórias de acolhimento
Para Rabiha Taha, uma das repatriadas, o atendimento foi acolhedor e trouxe segurança. “Eu andava com o coração na mão lá no Líbano. Medo e bomba estavam para todo lado. Fiquei com a família dividida, mas precisava trazer minha mãe para junto dos meus irmãos. Recebi um atendimento respeitoso, carinhoso e acolhedor. Foi um alívio retornar”, declarou.
A operação também recebeu relatos emocionantes, como o de Mariam Nagi Deghaidi, técnica de enfermagem de dupla nacionalidade, brasileira e libanesa. Integrante da equipe de acolhimento, Mariam aceitou, com gratidão, o convite para servir na missão. Além de falar árabe, o que trazia segurança aos repatriados, ela vivenciou duas guerras e, juntamente com sua família, foi resgatada para o Brasil, onde se tornou profissional de saúde. Hoje, Mariam é voluntária na Força Nacional do SUS. “Passei por essa situação duas vezes. Além da língua e da cultura, entendo o sentimento do meu povo”, disse.
No Brasil, Mariam fixou residência, mas parte de sua família continuou no Líbano, o que trouxe grande preocupação por conta do clima de tensão. Ela estava há seis dias sem notícias de seus parentes, quando no acolhimento dos repatriados, viu descerem do avião sua vó e sua tia. “Não sabíamos se tinha alguém vivo. Quando as portas do avião se abriram, vi minha vó descendo junto com a minha tia. Foi uma mistura de alívio e alegria. Choramos muito”, contou a profissional, emocionada.
Nour Adnan Haidar, também libanesa e brasileira, chegou ao Brasil em 2006, após fugir da guerra com sua família. Hoje, médica em São Paulo, Nour participou da operação como forma de retribuir. “A FN-SUS representa esperança. Poder acolher essas pessoas é uma honra. É um recomeço para elas e um orgulho para mim como libanesa e brasileira”, afirmou.
“A Força Nacional do SUS representa esperança e recomeço. Poder recebê-los é o mínimo que posso fazer. Me sinto bem representada e grata”, detalhou a médica, exaltando o trabalho humanizado do SUS. “Essa forma acolhedora tem feito toda a diferença no recomeço de ciclo dessas pessoas. O SUS tem sido fundamental para isso”, acrescentou.
O trabalho da FN-SUS fez parte da Operação Raízes do Cedro, organizada pelo governo brasileiro em resposta ao agravamento do conflito entre Israel e Hezbollah no Líbano. Coordenada pelo Itamaraty, a ação contou com apoio da FAB e da embaixada brasileira em Beirute, que manteve contato constante com a comunidade de brasileiros na região para organizar retornos seguros.
Força Nacional do SUS
Criada pelo Ministério da Saúde, a FN-SUS atua em situações emergenciais, como desastres e crises de saúde pública, oferecendo assistência, medicamentos, suporte técnico e reestruturação de redes locais de saúde. Na operação de Guarulhos, reforçou seu compromisso com atendimento humanizado e eficaz, representando um alívio e um novo começo para centenas de famílias.
Vanessa Rodrigues
Ministério da Saúde