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INTEGRAÇÃO EM SAÚDE
Uma Só Saúde: comitê integra as saúdes humana, animal, vegetal e ambiental
Foto: Walterson Rosa/MS
Os desafios para enfrentar as ameaças na saúde humana, animal, vegetal e ambiental exigem uma atuação intersetorial e interdisciplinar que reconheça a interconexão entre elas. Essa é a premissa do Comitê Interministerial Uma Só Saúde, instituído pelo presidente Lula através do Decreto 12.007, de abril de 2024.
O comitê visa promover a abordagem de "Uma Só Saúde" que fortalece a mobilização entre diversos setores, disciplinas e comunidades em vários níveis da sociedade para o enfrentamento de alguns dos maiores desafios para a saúde global, como crises decorrentes das mudanças climáticas, epidemias, pandemias, zoonoses, resistência antimicrobiana e arboviroses como a dengue.
Sob a coordenação da pasta da Saúde, o grupo é composto por 20 órgãos, entre ministérios, institutos, agências reguladoras e conselhos de classe com representantes das áreas de biologia, veterinária, pesquisa agropecuária, farmácia, medicina, enfermagem, meio ambiente, biodiversidade, entre outras.
“A criação do comitê é um marco significativo para a saúde pública brasileira. Ele reforça a importância de uma abordagem integrada dos órgãos, para juntos, protegermos nossa sociedade”, acredita a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), Ethel Maciel.
Uma Só Saúde
O conceito “Uma Só Saúde” se consolidou na construção da aliança quadripartite, formada pelas organizações Mundial da Saúde (OMS), Mundial de Saúde Animal (OMSA), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Essas quatro organizações realizam um movimento global no desenvolvimento de ações para o alcance de todos os objetivos do Desenvolvimento Sustentável, um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente, o clima e garantir que as pessoas possam desfrutar de paz e de prosperidade.
“Devemos nos orgulhar da construção do SUS, das políticas que dizem respeito à agricultura familiar, à preservação da natureza, em colocar comida saudável na boca das pessoas, de combater a pobreza, de garantir direitos, igualdade e equidade nos processos. Isso é o Comitê Uma Só Saúde”, afirma o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberger Barbosa. “Estamos juntando o que há de melhor na equipe das instituições para dizer que não abrimos mão de construir, com a força que temos, um mundo, uma sociedade, um Brasil melhor em uma só saúde”.
Relação entre as saúdes
O estudo integrado da saúde humana, animal, vegetal e ambiental é de grande importância na atualidade. Dados da OMSA mostram que aproximadamente 60% das doenças infecciosas humanas têm origem zoonótica, e quase 75% das doenças infecciosas emergentes, como covid-19 e Mpox, também têm origem animal. De cada cinco novas doenças humanas que aparecem todos os anos, três são de origem animal e 80% dos agentes com potencial de uso como armas biológicas são patógenos zoonóticos.
Fatores como esses alertaram o Ministério da Saúde para melhor compreender, controlar e prevenir a transmissão de doenças entre espécies distintas. Isso reforça que a saúde humana e a animal estão interligadas e que é preciso compreender os ciclos dos fenômenos de transmissão.
Mudanças climáticas
A mudança climática afeta os determinantes sociais e ambientais da saúde – ar puro, água potável segura, comida suficiente e abrigo seguro. Prova disso é a mudança de comportamento e mutação de alguns vírus ao longo dos últimos anos, além da circulação de vários sorotipos em várias regiões do Brasil ao mesmo tempo.
Um artigo publicado na revista Nature em 2022 reforça os motivos de alerta mostrando a importância de ações integradas como a criação do Comitê de Uma Só Saúde. De acordo com o artigo, entre 2030 e 2050, espera-se que a mudança climática cause aproximadamente 250 mil mortes adicionais por ano, devido à desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico; 277 doenças de alto impacto para a saúde pública podem ser agravadas pelas mudanças climáticas; para as doenças infecciosas que mais impactam a saúde pública, 58% são afetadas pelas mudanças climáticas direta ou indiretamente.
Resistência aos antimicrobianos (antibióticos)
A resistência aos antimicrobianos é um dos principais desafios da saúde pública mundial, sendo responsável por aproximadamente 1,3 milhão de mortes anuais. O uso indiscriminado de antimicrobianos na saúde humana, animal e nos meios de produção agroalimentares, em conjunto com fatores sociais e ambientais, são os principais responsáveis por sua aceleração.
Observa-se que 20% dos óbitos por resistência a antibióticos ocorrem entre crianças até 5 anos, mulheres durante a gravidez, aborto e puerpério. Populações vulneráveis são os grupos mais propensos a contraírem uma infecção resistente. Anualmente, 750 mil mortes poderiam ser evitadas a partir do fortalecimento das ações de prevenção às infecções, imunização, higiene e saneamento básico, uma das linhas de ação do Comitê.
Ações do Comitê
- Elaborar e revisar o Plano de Ação Nacional de Uma Só Saúde;
- Apoiar, monitorar e propor ajustes à implementação do Plano de Ação Nacional de Uma Só Saúde;
- Articular com estados e municípios com vistas a orientar medidas interfederativas e multissetoriais para a implementação do Plano de Ação Nacional de Uma Só Saúde;
- Assessorar tecnicamente o governo brasileiro em agendas domésticas e internacionais sobre o tema;
- Apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre o tema.
Vanessa Rodrigues
Ministério da Saúde