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ENFRENTAMENTO À DENGUE
Colóquio com diversos especialistas debate o atual cenário da dengue no país
Foto: Walterson Rosa/MS
A dengue é um problema de saúde pública em mais de 100 países no mundo. Nas Américas, por exemplo, 19 países e territórios relataram a circulação de sorotipos de dengue 1, 2 e 3 como é o caso do Brasil, Costa Rica, Guatemala, Honduras e México. Com esse cenário global e local, debater erros e acertos dos gestores públicos na condução da epidemia de dengue foi tema do colóquio “Avanços e Perspectivas no Enfrentamento à Dengue”, ocorrido nesta quarta-feira (17), na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. O encontro reuniu, ao longo de todo o dia, especialistas brasileiros em arboviroses e representantes da Opas e Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na ocasião, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, atualizou o cenário epidemiológico da dengue no país e apresentou as principais ações para prevenção e controle da doença. Na parte da manhã, aconteceram duas mesas de debates que trataram do cenário epidemiológico da enfermidade e outra sobre ações para enfrentamento da epidemia.
Pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, apontou que a compreensão de que a epidemia é culpa dos gestores de saúde é equivocada. “Desde 1986, com raras exceções, todos os anos temos registrado epidemias de dengue no Brasil, mudando apenas as localidades nas quais elas ocorrem”, enfatizou o especialista. “É tempo mais que suficiente para gestores públicos, profissionais da saúde e sociedade aprenderem a lidar com a doença”, complementou.
Já a representante da Opas no Brasil, Socorro Gross, frisou que mesmo com o avanço da ciência até os dias atuais, ainda se trabalha para combater o mosquito Aedes Aegipty. Segundo ela, os determinantes de saúde e sociais influenciam na questão. “Temos as mudanças climáticas, a urbanização com pouco planejamento e muitas desigualdades onde precisamos atender uma população cada vez mais condensada em meios urbanos”, observou.
Ainda no turno da manhã, o médico infectologista David Uip salientou que não adianta apontar o dedo para culpados em casos de epidemias. “Basta sentar numa cadeira dessas de gestor de saúde pública ou privada para ser culpado e não é assim que funciona. Sou solidário aos gestores, estamos tratando de dengue há décadas e só agora veio a vacina. Só vamos melhorar quando entendermos que estamos em um outro momento do mundo”, afirmou um dos maiores especialistas em infectologia do Brasil.
Experiência dos estados
No turno da tarde, foram ouvidas as experiências dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará sobre as ações de combate à dengue. Também foram ouvidos especialistas e pesquisadores experientes em arboviroses e epidemias, que apontaram a dificuldade em enfrentar a resiliência do Aedes Aegipty - o transmissor da doença -, como destacou a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Maria da Glória Teixeira. “Essa fêmea garante a sua prole, ela se vira para se adaptar e garante também a reprodução da espécie. Não estamos sabendo como combater tal resiliência”, opinou.
Ao final do encontro, representantes da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), responsável pela organização do colóquio, informaram que ele deverá ser repetido no próximo mês para condensar as experiências trocadas sobre o momento em que o mundo passa com as mudanças climática e o fenômeno do El Niño, bem como a possibilidade de que as vacinas sejam amplamente produzidas para atender a população em médio e longo prazo. O evento foi realizado de forma híbrida, e contou com participação de também de especialistas e pesquisadores de fora do Brasil.
Ministério da Saúde