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NOVEMBRO AZUL
Dez por cento dos homens dirigem após consumirem bebidas alcoólicas, alerta Ministério da Saúde
Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) apontam que um em cada cinco homens morre antes dos 50 anos. É nessa faixa etária que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas podem se agravar, com índice de mortalidade até 50% maior entre os homens.
Após ouvir sobre a rotina de 20 mil brasileiros, a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2023) do Ministério da Saúde constatou que os homens têm apresentado com frequência hábitos que aumentam os riscos ou pioram o prognóstico para esse tipo de doença. Práticas como o tabagismo, consumo abusivo de álcool, sobrepeso, inatividade física e alimentação inadequada com ingestão de alimentos ultraprocessados são alguns exemplos.
Nesse sentido, o coordenador substituto de Atenção à Saúde do Homem, Fernando Pessoa de Albuquerque, explica que, entre as medidas de prevenção, o autocuidado é fundamental, além da necessidade do cuidado integral proposto por profissionais de saúde. “A orientação nutricional adequada, juntamente com a redução do consumo de álcool e a cessação do tabagismo, são medidas altamente benéficas na prevenção das DCNTs. Essas ações desempenham um papel fundamental na redução das complicações associadas”, alerta.
Consumo de álcool
Em todo o mundo, cerca de 3 milhões de mortes são causadas pelo consumo nocivo de álcool a cada ano. E, nessa questão, os homens têm indicadores preocupantes: 10,2% afirmaram conduzir veículos motorizados após o consumo de bebidas alcoólicas, uma proporção notadamente maior que as mulheres, com 2,2%. Cidades como Palmas (24,5%), Teresina (23,2%) e Boa Vista (20%) registram os números mais altos entre a população masculina.
Em relação ao uso abusivo dessas substâncias (ingestão, em uma mesma ocasião, de quatro ou mais doses para mulheres; ou cinco ou mais doses para homens) nos 30 dias anteriores à pesquisa, a população geral registrou 20,8%, com maior incidência entre pessoas do sexo masculino (27,3%) em todas as faixas etárias.
Tabagismo
O uso de tabaco é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), líder mundial nas causas de mortes evitáveis. O hábito de fumar ou o tabagismo passivo podem desencadear problemas crônicos como câncer, doenças pulmonares e cardiovasculares.
Segundo os dados da Vigitel 2023, a frequência de fumantes pelo Brasil é de 9,3%, sendo maior no sexo masculino (11,7%) do que no feminino (7,2%), com índice particularmente alto nos homens com até oito anos de estudo (14,6%). Em relação aos trabalhadores que convivem com o tabagismo passivo no ambiente de trabalho, os homens registram mais que o dobro da porcentagem (10, 2%) em comparação com as mulheres (4,3%).
Alimentação inadequada
Para a prevenção de doenças crônicas e uma alimentação adequada e saudável, o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda o consumo de alimentos variados in natura ou minimamente processados e preparações culinárias, além de evitar ultraprocessados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de, pelo menos, 400 gramas diárias de frutas e hortaliças e, em relação a esse fator de proteção, as mulheres estão na frente (23,2%) se comparadas aos homens (19,3%). O consumo de ultraprocessados também foi mais elevado na população masculina, com um índice de 22,0%, contra 14,1% entre as mulheres.
Sobrepeso e obesidade
Outro ponto de atenção para a prevenção das DCNTs é o sobrepeso. Pessoas com sobrepeso têm maior predisposição a desenvolver doenças como diabetes e hipertensão que, com o tempo, podem resultar em casos de insuficiência cardíaca. A maior parte dos entrevistados (61,4%) afirmou ter excesso de peso. Entre os homens, o índice foi de 63,4% contra 59,6% de mulheres.
Para evitar sobrepeso e obesidade, um ponto-chave é o combate ao sedentarismo. Outra publicação do Ministério da Saúde, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, traz orientações para diversos ciclos de vida e contextos sociais, com exemplos que incentivam uma rotina mais ativa.
Diabetes e hipertensão
Apesar de concentrarem o maior número de mortes por doenças crônicas não transmissíveis, os homens apresentaram na pesquisa um índice menor do que a média em diagnósticos como diabetes e hipertensão. A porcentagem total de entrevistados que afirmou ter hipertensão arterial ficou em 27,9% - sendo 29,3 % mulheres e 26,4% homens. No caso da diabetes, a frequência também foi menor no público masculino (9,1%), abaixo dos 11,1% apresentados pela população feminina.
Neste ponto, Albuquerque lembra que os homens não acessam os serviços de atenção primária voltados à prevenção e promoção da saúde, buscando-os apenas em situações de diagnóstico tardio, quando já ocorreram lesões em órgãos-alvo, ou seja, em casos de extrema emergência, atendimento especializado ou urgência.
“As razões pelas quais os fatores de risco para as DCNT afetam desproporcionalmente os homens estão relacionados às maneiras como a sociedade os educa em relação às necessidades de acessar os serviços de saúde”, observa.
Segundo o técnico, a Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel crucial no acompanhamento de longo prazo e na coordenação dos cuidados de saúde. Através dela, é possível identificar, orientar e controlar os fatores de risco, além de realizar rastreamentos e, se necessário, encaminhamentos para outros níveis da rede de atenção à saúde. “O desafio é aumentar o acesso dos homens a esses serviços, promovendo a adoção de práticas preventivas e de promoção da saúde”, conta.
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH)
Nessa perspectiva, em 2009, foi criada pelo ministério a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que visa reduzir a mortalidade da população masculina, por meio do acesso a serviços de saúde abrangentes e ações preventivas.
O Brasil é o único país latino-americano que possui uma política de saúde planejada especificamente para o atendimento ao homem, composta por linhas de cuidado divididas em cinco eixos: acesso e acolhimento; saúde sexual e reprodutiva; paternidade e cuidado; doenças prevalentes na população masculina; e prevenção de violências e acidentes.
Nadja Alves dos Reis
Ministério da Saúde