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INICIATIVA INTERMINISTERIAL
Doenças socialmente determinadas: saiba mais sobre a esquistossomose e as geo-helmintíases
O saneamento básico, o acesso à água potável e a destinação adequada do lixo e dejetos são medidas muito importantes para evitar doenças como a esquistossomose e as geo-helmintíases. Essas enfermidades possuem diagnóstico e tratamento disponíveis gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). A esquistossomose, conhecida popularmente como “xistose” ou “barriga d’água”, é uma infecção adquirida quando um indivíduo entra em contato com água doce onde existam caramujos com parasitas infectados. Já as geo-helmintíases são um grupo de doenças parasitárias intestinais.
A esquistossomose está presente na maioria dos estados brasileiros, mas principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Os estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo, Maranhão e Minas Gerais são endêmicos, com transmissão estabelecida. Entre janeiro de 2010 e outubro de 2022, mais de 10,7 milhões de exames foram realizados nessas áreas endêmicas do Brasil, com a detecção de ovos de S. mansoni em 410.654 (3,8%) das amostras de fezes examinadas. Também foram registrados 23.333 (0,2%) resultados com infecções severas, com 17 ou mais ovos detectados. No mesmo período, foram registradas 2.389 internações e 6.130 óbitos, representando uma média de 472 óbitos por ano.
As geo-helmintíases estão distribuídas por todo o país, principalmente nas zonas rurais e nas periferias dos centros urbanos. Crianças de cinco a 14 anos são um importante grupo de risco para as infecções, por estarem em um período de crescimento físico intenso, rápido metabolismo e com maiores necessidades nutricionais, que, se não satisfeitas adequadamente, as tornam mais susceptíveis.
Além disso, são um público com frequente exposição à água ou ao solo contaminados, muitas vezes sem a conscientização necessária sobre os hábitos de higiene adequados. Segundo dados do último inquérito nacional de prevalência, promovido entre 2010 e 2015, foram examinados 197.564 escolares e diagnosticados 5.192 (2,7%) casos de ancilostomíases, 11.531 (6%) casos de ascaríase e 10.654 (5,4%) casos de tricuríase. As maiores prevalências foram encontradas nas regiões Norte e Nordeste.
A prevenção da esquistossomose consiste em evitar contato com águas onde existam os caramujos hospedeiros intermediários infectados, além da implementação de medidas de saneamento básico e de educação em saúde. Já as geo-helmintíases podem ser prevenidas com as seguintes ações: lavar bem as mãos antes das refeições e após ir ao banheiro, beber água filtrada ou fervida, não andar descalço, lavar bem os alimentos e armazená-los corretamente, e não evacuar próximo ou nas águas de rios, açudes e lagos.
Sintomas
A esquistossomose é caracterizada como uma doença assintomática para a maioria dos portadores. Entretanto, na fase aguda, o paciente pode apresentar febre, dor de cabeça, calafrios, suores, fraqueza, falta de apetite, dor muscular, tosse e diarreia. Na forma crônica, a diarreia se torna mais constante, alternando-se com prisão de ventre, podendo aparecer sangue nas fezes. Nos casos mais graves, o estado geral do paciente piora bastante, com emagrecimento, fraqueza acentuada e aumento do volume do abdômen. Quando não é tratada adequadamente, pode evoluir para formas clínicas extremamente graves, que podem levar a internações e óbitos.
Os portadores dos geo-helmintos, na maioria das vezes, também são assintomáticos. Contudo, altas cargas parasitárias e ocorrência de poliparasitismo podem desencadear algumas manifestações clínicas severas. Na fase inicial, o paciente pode apresentar febre, suor, fraqueza, palidez, náuseas e tosse. Após o surgimento das formas adultas no intestino, pode ocorrer desconforto abdominal, cólicas intermitentes, perda de apetite, diarreia, dores musculares e anemia.
Nas infecções mais intensas com Ascaris, pode ocorrer déficit nutricional. Nos pacientes acometidos pelos ancilostomídeos, é possível verificar lesões cutâneas devido penetração ativa das larvas e, no caso de reinfecções, pode haver o desenvolvimento de processos de hipersensibilidade. Nas infecções por T. trichiura, observam-se manifestações semelhantes às descritas para os ancilostomídeos, com a diferença do acometimento de parte do intestino.
Saiba mais sobre a esquistossomose
Saiba mais sobre as geo-helmintíases
CIEDS
De forma inédita, nove ministérios se reuniram para elaborar estratégias de eliminação de doenças que acometem, de forma mais intensa, as populações de maior vulnerabilidade social. O Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDS) foi instalado no início do mês de junho.
Coordenado pelo Ministério da Saúde, o grupo irá funcionar até janeiro de 2030. Dados da pasta apontam que, entre 2017 e 2021, as doenças determinadas socialmente foram responsáveis pela morte de mais de 59 mil pessoas no Brasil. O plano de trabalho inicial inclui enfrentar 11 dessas enfermidades – como malária, esquistossomose, Doença de Chagas e hepatites virais - além da transmissão vertical da sífilis, hepatite B e do HIV. Essa estratégia está prevista nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
A meta é que a maioria dessas doenças sejam eliminadas como problema de saúde pública – são elas: Doença de Chagas, malária, hepatites virais, tracoma, filariose, esquistossomose, oncorcercose e geo-helmintíases. Para outras enfermidades, como tuberculose, HIV e hanseníase, o objetivo é atingir as metas operacionais de redução e controle propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) até 2030. Já para doenças como HIV, sífilis e hepatite B, a meta é eliminar a transmissão vertical, ou seja, quando a doença é passada de mãe para filho.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, defende que a iniciativa é uma ação abraçada por todo o governo federal e, também, uma importante relação entre governo e sociedade civil. “Não é possível pensar o Ministério da Saúde sem abrir essa grande angular, para que nela possa caber um país com tantas desigualdades, mas também com tantas potências, como é o Brasil. Por isso estamos todos juntos. Essa agenda significa a possibilidade de eliminar doenças como problema de saúde pública, algumas, inclusive, históricas. Esse comitê busca reduzir as desigualdades, para que tenhamos, efetivamente, saúde para todos”, acredita.
A instalação do CIEDS é parte da premissa que garantir o acesso apenas ao tratamento em saúde não é suficiente para atingir essas metas. É preciso propor políticas públicas intersetoriais que sejam voltadas para a equidade em saúde e para a redução das desigualdades sociais, fator diretamente ligado às causas do problema.
Ministério da Saúde