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LEGADO
Boate Kiss: após 10 anos da tragédia, Ministério da Saúde reconhece que aprendizados do SUS permanecem até hoje
Foto: Divulgação/arquivo
Em 2013, o Sistema Único de Saúde (SUS) atendeu uma das maiores emergências da história do Brasil. Na madrugada de 27 de janeiro daquele ano, 242 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas em razão do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Após 10 anos da tragédia, o Ministério da Saúde anuncia a produção de uma série documental com depoimentos, relatos e lembranças sobre os aprendizados desde então. Três episódios estarão disponíveis, em breve, no canal do MS no Youtube.
Como forma de apoio à emergência local, 67 voluntários foram enviados ao estado por meio da Força Nacional do SUS. Eles se juntaram às equipes de saúde local logo no primeiro dia, onde permaneceram por quase um mês. O Ministério da Saúde investiu R$ 3,3 milhões para atendimento da tragédia. Pelo menos 97% dos pacientes graves levados até os hospitais da região foram salvos pelo Sistema Único de Saúde.
Junto aos 25 enfermeiros, 24 médicos, 11 técnicos de enfermagem, três fisioterapeutas, dois psicólogos, um administrativo e um profissional de comunicação, estava Paulo de Tarso, coordenador-geral de Urgência e Emergência da FN-SUS à época.
“Em Santa Maria foi feito o primeiro transporte com mais de dois pacientes; eram seis pacientes graves, de Santa Maria para Porto Alegre. Esse foi o maior transporte aeromédico da história: 56 pacientes críticos foram removidos”, relembra Paulo, em trecho disponível no documentário.
Apoio psicossocial
Segundo levantamento da pasta, a asfixia em função do cianeto - gás tóxico produzido pela queima da espuma que revestia o local - causou a maior parte das vítimas. Com isso, o desafio das equipes de saúde foi atender a um grande número de pessoas com problemas respiratórios e, ao mesmo tempo, dar apoio psicossocial às famílias. Ainda assim, 577 pacientes foram atendidos na primeira hora pós-incêndio.
Um Núcleo de Atenção Psicossocial foi constituído no próprio dia 27 de janeiro, composto por voluntários, profissionais de saúde mental do Estado, do município e de outras regiões do país. Entre janeiro e fevereiro daquele ano, mais de 1 mil atendimentos foram realizados.
Ivan Paiva, então consultor de Urgência e Emergência da Força Nacional do SUS, recorda da preocupação em dar assistência imediata. “Logo foi feito um mapeamento de todos os pacientes que tinham ido à óbito”, conta Ivan, no documentário.
Legado
A metodologia de montar uma política de atendimento psicossocial para familiares e profissionais envolvidos, ao mesmo tempo em que se atendiam às vítimas nos hospitais, ficou como legado para outras emergências, como o rompimento das barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Além disso:
- O Ministério da Saúde ocupou posição oficial de porta-voz, disponibilizando dados, orientações e atualizações;
- O antídoto ao cianeto, a hidroxicobalamina, não era um remédio autorizado para uso no Brasil. Em poucos dias houve articulação do Ministério da Saúde para a liberação do remédio na Anvisa e o transporte das doses doadas por outros países. Em razão disso, há estoque do remédio no Brasil atualmente;
- Foi firmado um termo de compromisso entre Ministério da Saúde e organizações locais para continuidade da atenção à saúde das vítimas, familiares e profissionais de saúde envolvidos;
- Houve aumento da fiscalização sobre a estrutura necessária para evacuação de grandes públicos em eventos e normas técnicas de prevenção a incêndios.
Força Nacional do SUS
Para apoiar estados e municípios no enfrentamento a emergências de saúde pública ou situações críticas que afetem diretamente a rede de saúde local, o governo federal criou, em novembro de 2011, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS). Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, entre outros profissionais, atuam conforme a necessidade.
Desde a criação, a Força Nacional do SUS realizou missões de apoio a situações de desastres naturais, como enchentes e deslizamentos; gestão de grandes eventos, como Rio+20, Círio de Nazaré, Copa do Mundo e Olimpíadas; desassistência e apoio à reorganização da Rede de Atenção à Saúde, como migração de haitianos e assistência indígena, a exemplo da crise humanitária vivida atualmente pela população Yanomami; além de atuar em situações de tragédia, como o incêndio na boate Kiss. Entre 2020 e 2021, a FN-SUS também participou ativamente no enfrentamento aos momentos mais críticos da pandemia por Covid-19.
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Bianca Lima
Ministério da Saúde