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Governo federal retoma cooperação técnica entre Brasil e Angola para atenção às pessoas com doença falciforme
- Foto: Divulgação/MS
O governo federal está retomando iniciativa bilateral firmada entre Brasil e Angola, com foco na atenção integral às pessoas com doença falciforme. Os Ministérios da Saúde dos dois países se reuniram, nesta segunda (10) e terça-feira (11), para trocar experiências sobre estudos, políticas públicas e o modelo de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) para esta população. Em Angola, a doença é um grave problema de saúde pública. A estimativa oficial é que quase 2% dos nascidos vivos possuam essa hemoglobinopatia e a taxa de pessoas com o traço falciforme é de aproximadamente 20%.
Durante a reunião, o Ministério da Saúde do Brasil apresentou a Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados; o Programa Nacional de Triagem Neonatal; e a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. Conjuntamente, as equipes técnicas brasileira e angolana construíram um Plano de Comunicação em triagem neonatal, doença falciforme e doação voluntária de sangue, principal objetivo da viagem ao Brasil.
A visita também contou com a apresentação do curso EaD ‘Teste do Pezinho’, envolvendo técnicos em triagem neonatal do Ministério da Saúde do Brasil e professores da Universidade Federal do Paraná. O objetivo é que o projeto de cooperação técnica permita a adequação do curso oferecido pela UFPR à realidade do sistema de saúde do país africano. Serão ofertadas 200 vagas para técnicos laboratoriais, médicos e gestores angolanos. O treinamento online está previsto para começar em 30 dias.
O médico pediatra Francisco Domingos, do Instituto Hematológico Pediátrico de Luanda, explica que Angola processa cerca de 150 mil bolsas de sangue por ano, mas apenas 20% da doação vem de voluntários. Segundo ele, a cooperação com o Brasil prevê, ainda, projetos para qualificação da doação de sangue, utilizando a experiência brasileira na captação de voluntários de modo a ampliar a estratégia no país africano.
A visita da comitiva angolana ao Brasil, coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), contempla, ainda, reuniões com instituições de referência na área da doença falciforme nas capitais Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA).
A primeira fase da cooperação técnica entre os dois países foi realizada entre 2010 e 2016, com capacitação de profissionais de saúde do Hospital Pediátrico David Bernardino de Luanda, para qualificação dos serviços prestados à população angolana no que se refere ao atendimento clínico, diagnóstico laboratorial e por imagem, recuperação de lesões ósseas, triagem neonatal, tratamento básico, entre outros.
Centro de Referência em Salvador (BA)
O novo Centro de Referência de Doença Falciforme da Bahia foi inaugurado pelo governo federal e começou a funcionar em 14 de março. Para apoiar na construção, o Ministério da Saúde destinou cerca de R$ 3,4 milhões para o serviço. A unidade vai ampliar e qualificar o atendimento à população do estado, que possui um dos maiores índices de doença falciforme do mundo. A expectativa é atender 125 mil pessoas ao ano. A estrutura é um avanço para a região, uma vez que a doença falciforme é mais comum na população negra, que corresponde a 76,3% da população baiana.
Doença falciforme
É uma condição genética que causa alteração na forma das células do sangue, a hemoglobina, comprometendo o transporte de oxigênio e para cérebro, pulmões, rins e outros órgãos. As manifestações da condição podem ser expressas de maneiras diferentes nos indivíduos. Entre os sintomas mais comuns estão a anemia crônica, crises dolorosas associadas ou não a infecções, retardo do crescimento, infecções e infartos pulmonares, acidente vascular cerebral, inflamações e úlceras.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima o nascimento de 2,5 mil pessoas com doença falciforme por ano. Embora a condição seja mais comum em indivíduos negros, no Brasil, devido à miscigenação, pode ser observada em pessoas socialmente vistas como brancas ou pardas. Os três estados com maior número de casos são Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O diagnóstico é feito na triagem neonatal com o Teste do Pezinho e pelo exame de eletroforese de hemoglobina.
Bianca Lima
Ministério da Saúde