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OUTUBRO ROSA
Após um ano de investigação, Fátima foi diagnosticada com câncer de mama e hoje está curada
- Foto: Arquivo pessoal
“Hoje eu estou curada e casada. Ano que vem estarei liberada para fazer pausa na medicação e engravidar. Depois que o bebê nascer, retomo a medicação”. Essas são as palavras da representante farmacêutica Fátima Albuquerque, moradora de Brasília (DF), hoje com 37 anos de idade. Apesar do resultado positivo do tratamento contra o câncer de mama, o diagnóstico mudou uma série de planos que ela tinha desenhado para sua vida.
Fátima conta que nasceu em família humilde e sempre lutou muito para conquistar seus sonhos. “Eu estava me preparando para um intercâmbio no Canadá. Já tinha tudo organizado. Passagem, escola, dinheiro. Mas a viagem não aconteceu”, relembra, explicando que descobriu a doença em 2021. “Eu sentia minha mama diferente, mas ninguém achava as alterações”, descreve.
Em consulta com um ginecologista, ela relatou as mudanças na mama. O médico solicitou ultrassom e o resultado não indicou alteração de imagem. "Achei estranho, porque exames anteriores apontavam cistos de água transitórios, que vão e voltam, mas essas novas máquinas não enxergavam esses cistos também", conta Fátima, que insistiu com outro médico e pediu um novo ultrassom. "Fiz um novo exame, que também não indicou nada de errado. Mudei de clínica outra vez, mas também não enxergaram alterações na minha mama", relembra.
Em dezembro, quase 11 meses depois do primeiro ultrassom, Fátima ainda queria um exame mais específico. Foi através de uma ressonância com contraste que ela descobriu o tumor de 1,3 centímetro.
Fátima levou os resultados para a médica ginecologista, que imediatamente a direcionou para uma mastologista. Essa profissional solicitou um exame chamado mamotomia e a direcionou para outro médico, especialista em identificar tumores. "Só de encostar o ultrassom na mama, ele já enxergou o tumor. Esperei uns dias até sair o resultado da biópsia. Lembro que eram 7h30 da manhã quando abri o laudo e estava lá: o carcinoma invasor da mama", relata.
"Eu sempre soube que tinha algo diferente na minha mama, mas quando vi o diagnóstico, meu chão abriu. Fiquei muito desesperada”, admite. “Encontrei um especialista em reconstrução de mama que é oncoplástico. Ele me pediu uma bateria de exames e aconselhou que eu congelasse óvulos, porque talvez teria que fazer quimioterapia. Concordei. Quando finalizei o processo, marcamos a cirurgia. Ele conseguiu retirar o tumor e o linfonodo sentinela pela axila. Por ser oncoplástico, não mexeu tanto na estrutura da minha mama. Tudo foi novamente para biópsia e os resultados já vieram melhores. Os marcadores que sinalizavam quimioterapia, vieram muito mais baixos", relembra.
Mesmo com tudo caminhando aparentemente bem, Fátima teve medo do tumor voltar, já que optou por não retirar as mamas. "Não retirei pois tive medo. Uma cirurgia relativamente simples, poderia virar um problemão, se houvesse necrose do tecido ou algo semelhante. Também pensei muito no estigma da queda de cabelo, de passar muito mal em razão da quimioterapia. Tudo isso mexeu muito comigo. Mas no fim das contas, o médico me deu a notícia de que eu não precisaria fazer quimio", conta.
Ainda assim, Fátima fez radioterapia. "Fiz 18 sessões: 15 na mama e na axila e outras três de reforço na axila. Acho que esse foi o tratamento mais pesado. Eu tenho a pele bem sensível. Sentia como uma queimadura solar, então eu precisava fazer compressas, passar pomadas e medicamentos. Não foi fácil, mas em julho de 2021, eu terminei as sessões de radioterapia e já iniciei a endocrinoterapia para tomar um bloqueio hormonal. Isso foi necessário porque o tumor que apareceu na minha mama tem receptores para progesterona e estrogênio. Vou tomar por cinco anos esse bloqueador", explica.
A medicação tem sérios efeitos colaterais, mas Fátima permaneceu confiante. "Deus cuidou de mim nos detalhes. Apesar do diagnóstico de câncer de mama, conheci uma pessoa maravilhosa, que hoje é meu marido, Anderson. Nós descobrimos a doença juntos. Ele esteve comigo em todo esse processo, parceria que foi crucial para eu levar o tratamento com mais leveza, ainda mais depois de terminar um longo casamento. Eu era jovem e fiquei muito tempo sozinha. Mas hoje eu estou curada, casada e vou ter meu bebê", conta, emocionada, explicando que a medicação ainda precisa ser administrada por mais dois anos e meio.
O intercâmbio para o Canadá também não foi esquecido. "Vou seguir os meus sonhos. Hoje dou valor a coisas que antes do diagnóstico eu não dava. Olho com muito mais carinho para a minha mãe, para minha família", diz. "Me preocupava muito a forma como minha mãe ia reagir ao diagnóstico, como ela ia se comportar com relação ao meu tratamento. Eu não queria que ela sofresse, mas não temos para onde correr. Ela sofreu sim, emagreceu, ia para a igreja todos os dias. Mas hoje, minha relação com ela é muito mais próxima", avalia Fátima, acrescentando que "o diagnóstico vem com um peso grande, mas reaproxima pessoas e traz ressignificado para muitas coisas".
Fátima conclui com uma mensagem para outras mulheres. "Por me conhecer tanto, eu sabia que havia alguma coisa errada. Então sejam insistentes, se conheçam, procurem profissionais de saúde. Busquem tratamento. Toquem suas mamas. Ninguém melhor do que a gente para conhecer o próprio corpo", defende.
Bianca Lima
Ministério da Saúde