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ATENÇÃO PRIMÁRIA
Em um ano, SUS registrou 1,3 milhão de atendimentos a casos de asma na Atenção Primária
Foto: Reprodução da internet
A asma é um dos problemas de saúde respiratória mais recorrentes no Brasil. Estima-se que 23,2% da população vive com a doença, e a incidência varia de 19,8% a 24,9% entre as regiões do País. Apenas na Atenção Primária, a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), foram registrados 1,3 milhões de atendimentos no ano passado - aproximadamente 231 mil consultas a mais que em 2020 (1,1 milhão).
Entre maio e junho de 2021, os atendimentos de asma tiveram o maior pico (cerca de 158 mil), o que coincidiu com um período crítico da pandemia de covid-19 no País, com crescimento de casos e flexibilização do isolamento e distanciamento social. “A partir de julho, o número de consultas de pacientes com asma diminuiu significativamente nas unidades básicas de saúde (UBS), o que provavelmente está relacionado ao aumento da vacinação, já que asma é uma comorbidade para a covid-19”, ressalta a diretora do Departamento de Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Juliana Rezende.
Ela lembra, no entanto, que o SUS está preparado para atender os casos. “O Brasil é um dos poucos países do mundo a disponibilizar gratuitamente o tratamento para a doença”, reforça. Neste Dia Mundial de Combate a Asma, o Ministério da Saúde reúne informações úteis para cidadãos e profissionais de saúde. Confira:
O que é
Caracterizada como uma doença heterogênea que pode acometer todas as faixas etárias, a asma é usualmente identificada como uma doença crônica não transmissível inflamatória das vias aéreas ou brônquios, definida pela história clínica e sintomas respiratórios. Os mais comuns são: falta de ar ou dificuldade para respirar; sensação de aperto no peito ou peito pesado; chio ou chiado no peito e tosse. Eles variam em severidade e frequência de pessoa para pessoa (podem ocorrer várias vezes ao dia ou semana em indivíduos afetados, piorando à noite ou de madrugada e com as atividades físicas), e podem desencadear outros quadros, como insônia, fadiga diurna, redução dos níveis de atividade e absenteísmo escolar e profissional.
Durante uma crise de asma, o revestimento dos brônquios torna-se edemaciado, estreitando as vias aéreas e reduzindo o fluxo de ar, tanto na inspiração, quanto na expiração pulmonar. Embora não tenha cura, o tratamento adequado da asma pode controlar os sintomas e crises, melhorando e estabilizando a função pulmonar e melhorando a qualidade de vida.
Tem como prevenir a asma?
Nem sempre. A asma pode ser detectada ainda na primeira infância, devido a fatores genéticos. Mas também pode aparecer ao longo da vida, em decorrência de hábitos e estímulos externos. A utilização do tabaco, por exemplo, é um fator de risco que pode contribuir para o desenvolvimento da doença (além de agravar casos já existentes). Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a fumaça do cigarro é prejudicial mesmo quando a pessoa não faz uso direto de tabaco, mas convive de maneira próxima com os cigarros de outras pessoas - é o caso dos fumantes passivos, que podem ter aumento na inflamação dos brônquios por conta dessas situações. Além disso, o tabaco prejudica a saúde pulmonar de forma geral, e pode desenvolver ou agravar outras doenças pulmonares.
Outro fator de risco para a asma é a obesidade (com prevalência de 25,9% na população adulta, sendo que o excesso de peso já atinge mais de 60% dos maiores de 18 anos). Ela está relacionada ao agravamento de sintomas de asma, inclusive causando hiperresponsividade brônquica, inflamações sistêmicas e níveis séricos de citocinas pró-inflamatórias elevados. Dessa forma, indivíduos obesos apresentam respostas piores ao tratamento e têm mais dificuldade para controlar os sintomas. Embora a relação de causa e efeito entre os dois agravos ainda não seja totalmente compreendida, estudos apontam que o início tardio da asma cresce de maneira expressiva quando o índice de massa corpórea (IMC) das pessoas é maior ou igual a 30. Ou seja, o controle saudável do peso também pode ajudar na prevenção do quadro.
O sedentarismo também tem influência direta sobre a asma. A inatividade física, associada a mudanças no estilo de vida atual, está diretamente relacionada ao desenvolvimento e agravamento de doenças crônicas, inclusive as respiratórias. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas insuficientemente ativas fisicamente têm maior risco de mortalidade (são cerca de 3,2 milhões de óbitos em todo o mundo). Portanto, o combate ao sedentarismo também entra como uma ação de prevenção e controle da asma. No caso de quem já tem a doença, cabe ressaltar a importância do acompanhamento médico para orientações sobre a capacidade respiratória adequada ao exercício escolhido de forma segura.
Por último, para prevenir a asma em bebês, a principal recomendação é incentivo ao aleitamento materno. O leite humano oferece fator protetor para evitar o desenvolvimento de problemas respiratórios em crianças.
Onde procurar atendimento?
Caso a pessoa esteja com sintomas de asma ou qualquer dificuldade respiratória não-emergencial, é indicado procurar a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima de sua residência - a Atenção Primária à Saúde (APS) ordena a rede, sendo o primeiro contato preferencial entre a população e o SUS. O diagnóstico ocorre a partir dos exames físico e de função pulmonar (espirometria) combinados com a história clínica do indivíduo. Em crianças de até cinco anos, apenas o diagnóstico clínico, a partir da dificuldade na realização de provas funcionais, é suficiente.
Para a coordenadora de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo, Patrícia Izetti, o estímulo ao autocuidado é uma das principais vantagens nesse nível de atenção. “Nem todas as estratégias precisam ser medicamentosas, isso depende da gravidade da asma para cada pessoa”, explica. Quando necessário, o paciente receberá o encaminhamento para a atenção especializada (podendo incluir consultas com pneumologistas, fisioterapeutas respiratórios e, quando necessário, psicólogos) ou para as unidades de pronto atendimento e hospitais, em casos de crises graves.
O tratamento farmacológico consiste no uso contínuo de medicamentos com ação anti-inflamatória, chamados controladores, sendo corticosteroides inalatórios (popularmente conhecidos como “bombinhas”) os principais. O efeito broncodilatador traz alívio ao paciente asmático, e os profissionais de saúde do SUS estão aptos para ensiná-lo a usar corretamente os dispositivos.
Já o tratamento não medicamentoso inclui orientações de educação em saúde para evitar o contato com substâncias que desencadeiam crises (alérgenos); identificar os sintomas da asma; e como agir em casos de crises. As UBS também são capacitadas para oferecer ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde (por meio de atividades individuais e coletivas) e acompanhamento longitudinal dos casos suspeitos ou já diagnosticados, oferecendo atenção integral para a população.
Para os gestores e profissionais de saúde, o Ministério da Saúde observa, ainda, que, para ser efetiva, a assistência à asma deve considerar fatores socioeconômicos, psicossociais e culturais, além do nível de tratamento disponibilizado localmente.
Confira, também, algumas ações da pasta sobre a pauta:
Projeto Tele-Espirometria para Suporte ao Atendimento de Pessoas com Doenças Pulmonares Crônicas na Atenção Primária à Saúde
Trata da aquisição de equipamentos para as UBS para suporte no atendimento à asma e a doenças pulmonares crônicas. Contempla a oferta de espirômetros portáteis (aparelho que avalia a capacidade dos pulmões) em unidades de Atenção Primária de referência; capacitação de profissionais para a realização do exame; implantação de um sistema de transmissão do exame; emissão do laudo e envio do mesmo por via eletrônica à unidade solicitante.
Linha de Cuidado de Asma
Lançada em março de 2022, em parceria com o Iats, a LC de Asma está disponível online para orientar pacientes, gestores e profissionais de saúde sobre o fluxo de atendimento para a doença no SUS.
Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNTC)
Orienta a atuação profissional nas unidades da Atenção Primária para o acompanhamento e manejo de fumantes ativos e passivos e para a cessação do uso do tabaco, importante fator de risco para desenvolvimento e descompensação da asma.
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Asma
Publicado pelo Ministério da Saúde em agosto de 2021, o documento traz recomendações e orientações aos profissionais de saúde sobre critérios para o diagnóstico da asma e tratamentos disponíveis no SUS.
Laísa Queiroz