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DIA DO CORAÇÃO
Prevenção é o melhor remédio contra doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares, muitas vezes, chegam devagar e sem alarde. Porém, as consequências podem ser graves e repentinas. Elas configuram a principal causa de morte em todo o mundo, além de fazerem parte das principais causas de incapacidade e de anos de vida perdidos, segundo o Global Burden of Disease. No Brasil, uma em cada quatro pessoas adultas tem obesidade, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde 2020 e, dentre as pessoas com hipertensão, 70,3% apresentam excesso de peso e 33,2% obesidade (Vigitel 2019), que são fatores de risco para doenças do coração. Todavia, a redução de 5% a 10% do peso corporal já diminui o risco do desenvolvimento de problemas cardiovasculares e reduz em até 5 mmHg da pressão arterial descontrolada.
“Nesse contexto, não é exagero dizer que a questão cardiovascular está na agenda prioritária do Sistema Único de Saúde (SUS) e de todo o Ministério da Saúde”, garante o secretário de Atenção Primária (APS) da pasta, Raphael Câmara. Em 2020, a APS registrou 22,9 milhões de atendimentos a pessoas com hipertensão, 2,2 milhões a pessoas com obesidade e 492 mil às pessoas com risco cardiovascular. Até agosto deste ano, já foram realizados na APS 18,1 milhões de atendimentos a pessoas com hipertensão, 2,3 milhões com obesidade e 411 mil às pessoas com risco cardiovascular.
Por isso, o secretário reconhece a necessidade de ampliar ainda mais o acesso a cuidados básicos, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade. “Até hoje, a prevenção continua sendo a forma mais eficaz de reverter o cenário das doenças cardiovasculares e, por isso, a APS é tão importante. Hábitos de vida saudáveis devem ser estimulados pela esfera pública, bem como o acesso a melhores condições ambientais e socioeconômicas, para que que as pessoas possam fazer as escolhas mais adequadas”, defende.
Hábitos efetivos
Evitar o comportamento sedentário, a alimentação não saudável, o uso de tabaco e derivados e o consumo excessivo de álcool são dicas básicas, e quanto mais cedo se começa a desenvolver esses hábitos, melhor a manutenção ao longo da vida. O programador e empresário goiano João Batista Alves dos Reis, de 59 anos, passou boa parte da vida priorizando o trabalho atrás de um computador. Em 2006, resolveu acompanhar um amigo que andava de bicicleta e pedalou por 2,5 quilômetros.
“Gostei, comecei a evoluir rápido, e resolvi ir ao médico para ver como estava a saúde e entender o que eu podia aguentar, já que antes eu não fazia nada e ia até na padaria da esquina de carro ou de moto”, conta. Fez os exames, descobriu que tinha hipertensão, devido ao passado sedentário, e imediatamente começou a ser medicado.
Como ele não parou de pedalar, começou a sentir tontura depois de alguns meses, e, então, o médico decidiu reduzir a dosagem do remédio (que havia sido receitado com base na rotina de uma pessoa sedentária). “Depois de mais alguns meses, segui com o acompanhamento médico e consegui ficar sem o remédio por alguns anos, já que a pressão estava sendo controlada pela atividade física”, lembra.
Com a idade avançando, João voltou a ser medicado, mas não tem dúvida dos benefícios proporcionados pelo ciclismo. “Sem a bicicleta eu poderia estar tomando dosagens altíssimas ou até mesmo já ter infartado”, opina. Ele nunca mais parou de pedalar, e treina atualmente de três a quatro vezes na semana, além de participar de competições, de ter sido presidente da Federação Goiana de Ciclismo e de ter fundado o Clube de Esportes Os Goiabas. A maior distância pedalada por ele em um dia foi 300 quilômetros!
Na alimentação, a principal mudança foi a diminuição do consumo do açúcar e do sal. “Como boa parte das pessoas da minha geração, cresci comendo refeições mais salgadas, não havia muita informação sobre os riscos. Também é importante dizer que o ciclismo de alta performance faz com que os praticantes percam muito sal nessas pedaladas mais longas”, explica.
Por onde começar
Para ajudar os brasileiros a desenvolver hábitos mais saudáveis, o Ministério da Saúde recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira, documento reconhecido e elogiado ao redor do mundo, que traz informações e recomendações simples de como ter uma alimentação mais saudável a partir dos 2 anos de idade. Para as crianças brasileiras menores de 2 anos, foi publicado um outro guia que traz recomendações direcionadas a esse público. A regra de ouro é: fazer dos alimentos in natura e minimamente processados a base da alimentação e evitar o consumo dos alimentos ultraprocessados.
Outra publicação lançada pela pasta, é a Alimentação Cardioprotetora, um guia curto, que aborda, principalmente, uma alimentação baseada no Guia Alimentar para a População brasileira e adaptada para pessoas que já têm (ou apresentam risco de ter) doenças ou riscos cardiovasculares.
Dentre as orientações, está a redução do consumo de sódio. “Ele é responsável por mais de 47 mil mortes por doenças cardiovasculares e por mais de R$ 600 milhões em custos diretos de tratamento de doenças ao SUS”, informa a coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Gisele Bortolini.
“A redução do consumo de sódio, que está não só no sal que usamos para temperar, mas em grande quantidade nos alimentos ultraprocessados também, é benéfica à saúde cardiovascular tanto de pessoas hipertensas quanto normotensas, que é como chamamos quem não tem pressão alta”, complementa.
Além da alimentação, outro ponto crucial é a prática regular de atividade física, já que a inatividade e o comportamento sedentário estão associados a diversas doenças crônicas não-transmissíveis, como no caso de João. Por isso, em junho deste ano, o Ministério da Saúde lançou o Guia de Atividade Física para a População Brasileira. O documento apresenta informações e recomendações para que as pessoas tenham uma vida mais ativa fisicamente.
“A prática regular de atividades físicas está relacionada à redução de doenças, como a hipertensão, e no Guia nós lembramos que todo movimento é válido, desde a faxina em casa e o deslocamento a pé para algum lugar até as corridas e práticas esportivas ”, ressalta a coordenadora-geral de Promoção da Atividade Física e Ações Intersetoriais, Dalila Tusset.
Essas publicações estão disponíveis para qualquer cidadão e são indicadas para o uso de todos os profissionais de saúde do SUS, independente da área de atuação.
Cuidados médicos
Além dos hábitos que são construídos ao longo da vida, as doenças cardiovasculares também são influenciadas por fatores genéticos. Por isso, mesmo não sendo identificada hipertensão é importante ter o cuidado de ir uma vez a cada dois anos à unidade de saúde para aferir a pressão arterial. De janeiro a dezembro de 2020, a Atenção Primária realizou 61,2 milhões de aferições de pressão. E de janeiro a agosto deste ano, esse número já é de 68,9 milhões.
Atualmente, a aferição de pressão constitui um dos sete indicadores do pagamento por desempenho, um dos componentes do Previne Brasil, o novo modelo de financiamento da Atenção Primária em Saúde. Na prática, isso significa que quanto mais aferições as equipes de saúde conseguirem fazer, mais repasses federais o município pode receber no pagamento por desempenho. “É uma forma de incentivar gestores e profissionais de saúde a ampliar o atendimento, dentro da realidade do território”, defende o secretário de APS, Raphael Câmara.
A partir da avaliação do risco cardiovascular feita na Atenção Primária é possível prescrever um cuidado mais adequado, que pode exigir a adoção de medidas medicamentosas e não-medicamentosas. Além disso, em março deste ano o Ministério da Saúde aderiu à iniciativa HEARTS, estratégia internacional liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para promover as melhores práticas de prevenção e controle das doenças cardiovasculares, com ênfase na APS.
Em outubro, será lançada a Estratégia de Saúde Cardiovascular na Atenção Primária à Saúde, que tem como objetivo qualificar a atenção integral às pessoas com doenças cardiovasculares, contribuindo para o controle dos níveis pressóricos e glicêmicos, o aumento da adesão ao tratamento e a redução de complicações, internações e morbimortalidade. Em fase de pactuação, a estratégia baseia-se em promoção da saúde e prevenção das doenças cardiovasculares na APS; educação em saúde; qualificação da abordagem clínica; qualificação da gestão; e fomento à pesquisa. Com o objetivo de incentivar a implementação pelos municípios, ainda será instituído um incentivo financeiro federal de custeio.
Laisa Queiroz
Ministério da Saúde