Notícias
DIA MUNDIAL DO CORAÇÃO
Conheça histórias de pacientes e profissionais ligadas a doenças cardiovasculares
Órgão central no sistema circulatório, responsável por bombear o sangue para atender às necessidades de todos os tecidos e garantir o funcionamento do corpo humano, o coração segue o compasso de seu próprio ritmo. Nesta quarta-feira, 29 de setembro, data em que é comemorado o Dia Mundial do Coração, o Ministério da Saúde conta a história de pessoas que têm uma relação muito especial com o coração, de gente que lutou para mantê-lo batendo e hoje transformadas depois de superadas as adversidades.
No Brasil, cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença cardiovascular e, pelo menos, 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no país, números que podem estar sendo agravados pela pandemia da Covid-19. O objetivo do Ministério da Saúde é conscientizar sobre a importância de manter hábitos saudáveis e preservar o músculo cardíaco.
Cuidados com o coração
Neste Dia Mundial do Coração, o Ministério da Saúde busca conscientizar sobre a importância de manter hábitos saudáveis e preservar o músculo cardíaco. No Brasil, cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença cardiovascular e, pelo menos, 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no país, números que podem estar sendo agravados pela pandemia da Covid-19.
Neste cenário, a hipertensão arterial é a principal causa de mortes em todo o mundo, vitimando mais de 10 milhões de pessoas por ano. Cerca de 30% dos brasileiros são hipertensos. Por se tratar de condição frequentemente assintomática, a hipertensão costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. Ela é o principal fator de risco modificável com associação independente, linear e contínua para doenças cardiovasculares – entre elas o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC), doença renal crônica e morte prematura. Sua identificação e tratamento precoces, reduzem a mortalidade por causas cardiovasculares.
Iniciativas
O Ministério da Saúde possui uma série de políticas públicas voltadas para a saúde do coração dos brasileiros. De 2017 a 2020, por exemplo, o Sistema Único de Saúde realizou 343 mil procedimentos cirúrgicos e intervenções cardiovasculares. A pasta elaborou o Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2021-2030 e aderiu à HEARTS, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que cuida da implementação de estratégias de cobertura universal e fortalecimento da atenção primária.
Em junho, o ministério lançou o Programa Renasce, com o objetivo de melhor atender crianças com doenças cardiovasculares congênitas no Brasil. A expectativa é a de que cerca de R$ 14 milhões sejam investidos e custeados para ações estruturantes da rede de atendimento especializado.
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) realizou oito incorporações nos últimos dois anos voltadas para a saúde cardiovascular. Dentre as aprovações estão equipamentos, diretrizes, medicamentos e protocolos clínicos.
Nascimento de um sonho
Em 23 de outubro de 2009 vinha ao mundo a pequena e prematura Ana Beatriz de Lima Quadros. O início, no entanto, não foi fácil. Bia, como toda a família a chama, nasceu com 36 semanas de gestação e o parto precisou ser feito às pressas. A mãe, Nadja Quadros, esperava fazer apenas mais uma ecografia, como as dezenas de outras que já havia feito durante a gravidez.
"Vamos ter que fazer o parto agora", disse o médico. Pega de surpresa, Nadja sequer conseguiu fazer contato com a equipe que a acompanhou ao longo dos últimos meses e precisou correr para a maternidade.
Aos 35 anos e grávida de Ana Beatriz, ela descobriu que a filha nasceria com síndrome de down nos primeiros exames de pré-natal. Fisioterapeuta e com ampla vivência no atendimento a crianças com deficiência, desde então a mãe começou a se preocupar com os problemas de saúde aos quais a filha era predisposta; o principal deles, em casos de pessoas com a síndrome, eram as cardiopatias.
Em seus primeiros momentos de vida, Bia deu um choro sonoro e, momentos depois, já conseguia mamar leite materno direto no peito. Ela não precisou passar pela UTI neonatal e, até aquele momento, parecia que tudo ia bem. A pequena, no entanto, começou a ficar muito cansada quando a mãe tentava amamentar, o que fazia baixar a saturação do sangue. Vários exames foram realizados e revelaram que a menina tinha um problema nas válvulas do coração.
"Ela nasceu super bem, até que ocorreu uma série de desdobramentos antes que descobríssemos o que ela tinha. Passamos uma semana em investigação e enfrentamos um dilema se iríamos operá-la em Brasília ou em São Paulo", conta Nadja.
"Ela nasceu super bem, até que ocorreu uma série de desdobramentos antes que descobríssemos o que ela tinha. Passamos uma semana em investigação e enfrentamos um dilema se iríamos operá-la em Brasília ou em São Paulo" - Nadja Quadros.
Ana Beatriz foi operada no hospital Beneficência Portuguesa, numa cirurgia de peito aberto em que foi necessária transfusão de sangue e implantação de um marca-passo. O procedimento foi um sucesso, mas Bia sofreu uma infecção que a obrigou passar mais 28 dias no hospital, sob o risco de precisar submeter-se novamente à cirurgia.
"Foi uma séria de milagres, de providências, para mim foi um grande chamado, eu entendi que eu tinha que dedicar a minha vida à síndrome de down", emociona-se Nadja.
Estimulada desde os primeiros meses de vida, Bia leva uma vida como qualquer outra criança de sua idade. Aprendeu a ler aos 6 anos de idade, antes de muitos de seus colegas, e estuda em uma escola regular em Brasília. As matérias preferidas são geografia e biologia, uma das disciplinas em que mais se aplica, pois é relacionada à profissão que deseja seguir um dia.
"Quero ser fisioterapeuta, igual à minha mãe", conta.
Por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, Ana Beatriz parou de frequentar as aulas em 2020 e ainda não retornou para a escola. Mesmo com todo o cuidado, a menina não se livrou de contrair a doença. "Foi o maior desafio das nossas vidas, ela ficou bem grave e precisou ir para a UTI. Foi um trabalho de conscientização muito grande com ela, de que ela também precisava colaborar nesse processo. Ela venceu a Covid e hoje a gente está aqui para comemorar essa vitória", lembra a mãe.
Renascimento de um sonho
Assim como ocorreu com Beatriz, o coração é o protagonista na história de vida de Cid José dos Reis, 50 anos. Mineiro de Salinas, cidade próxima da divisa com a Bahia, Cid chegou ao Planalto Central nos anos 90 e se fixou nos arredores de Brasília, onde vive com a esposa e a filha.
Nascido e criado no interior do país, Cid contraiu e conviveu com a doença de chagas por mais de uma década. Causada por um protozoário e transmitida pela picada do barbeiro, a doença pode causar danos ao coração, provocando arritmia e insuficiência cardíaca.
A picada do pequeno inseto de corpo amarronzado, com manchas avermelhadas e de aproximadamente três centímetros foi apenas o início de uma longa luta pela vida. Os sintomas começaram com um cansaço generalizado e falta de ar.
"Isso foi em 2012, quando eu descobri e comecei a fazer o tratamento. Eram uns cinco tipos de remédio, que me faziam levar uma vida normal. Em 2020, essa doença me atacou de verdade. Eu não conseguia ir do sofá até o portão sem sentir falta de ar. Na época, eu trabalhava como vigilante à noite e meus pés começaram a inchar, eu comecei a me sentir mal. Então, me levaram ao médico e meus batimentos estavam em 35 por minuto", recorda Cid.
Esse foi o primeiro de um longo ciclo de hospitalizações e altas. Depois do episódio do inchaço e baixíssima frequência cardíaca, o ex-vigilante, agora aposentado, passou por um procedimento para a implantação de um marca-passo.
Eu não conseguia ir do sofá até o portão sem sentir falta de ar. Na época, eu trabalhava como vigilante à noite e meus pés começaram a inchar, eu comecei a me sentir mal. Então, me levaram ao médico e meus batimentos estavam em 35 por minuto", Cid José dos Reis - 50 anos.
"No primeiro mês seguinte, eu fiquei bom, mas comecei a piorar dali para a frente. Comecei a sentir os mesmos sintomas de antes e os inchaços voltaram. Me internaram de novo e eu fiquei mais 60 dias no hospital, tive arritmia e uma parada cardíaca, mas conseguiram me reanimar", conta.
O aposentado precisou substituir o marca-passo por um desfibrilador implantável (CDI) antes de voltar para casa novamente. Medicamentos e aparelhos não adiantaram para reparar os dados causados pela doença de chagas.
Cid viu sua vida sair de um homem saudável, capaz de fazer serviço pesado e a reforma da própria casa, para uma pessoa que não conseguia mais ir da sala ao banheiro caminhando. Saiu de seu peso normal, cerca de 75 quilos, para apenas 49 quilos. Já não conseguia se alimentar nem se locomover como antes, até que precisou novamente ser internado, quando recebeu a notícia que encarou como uma sentença: ele precisava de um transplante de coração urgente.
Cid e a família aguardaram ansiosos até que aparecesse um doador. A notícia mais esperada, de que havia um coração compatível e que precisava ser transplantado imediatamente, chegou. Cid ainda guarda a recordação daquele dia: uma cicatriz no meio do peito, no local onde se separam as costelas. O vigilante aposentado não viu o que aconteceu com ele durante as horas que passou na mesa de cirurgia. Quando pensa na família do doador, o sentimento é de gratidão a quem salvou a sua vida.
"Eu sei que tem a questão do sigilo, mas eu gostaria muito de conhecer a família e agradecê-los pessoalmente. Não foi só a minha vida que ele salvou, mas de muitas outras pessoas, porque outros órgãos também foram doados. Eu já estava desenganado pelos médicos, eles chamavam a minha esposa quase todo dia para que ela se preparasse para o caso de eu não resistir. Essa doação salvou a minha vida e eu me sinto eternamente grato", emociona-se.
"Me emociona cada história"
Responsável pela cirurgia de Cid José e mais de 300 outros transplantes de coração, o chefe de cirurgia cardiovascular e transplantes do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), Fernando Atik, conta que sente a mesma emoção no olhar de cada paciente depois de um transplante bem-sucedido.
Não existe maior gratificação para um médico do que passar por uma experiência dessa e ter no olhar do paciente, dos seus familiares, aquele agradecimento eterno pelo que você fez", Fernando Atik - médico cirurgião cardiovascular.
"Não existe um caso em que eu nominaria como aquele que eu acho que seja único, mas existem muitos casos que foram marcantes, especialmente aqueles em que o paciente está em estado gravíssimo. Você sabe antes do transplante, você sabe que se não aparecesse um órgão para ele naquele momento, ele morreria em questão de um dia ou às vezes até horas e, do nada, aparece um doador para ele nos 45 minutos do segundo tempo" contou.
"Você faz o transplante e literalmente salva a vida do paciente e ele sai bem. Não existe maior gratificação para um médico do que passar por uma experiência dessa e ter no olhar do paciente, dos seus familiares, aquele agradecimento eterno pelo que você fez. Então, o transplante, mesmo depois de ter feito muitos, me emociona muito cada história que eu vivencio", relata o cirurgião.
Texto: Fernando Caixeta
Fotos: Myke Sena e Walterson Rosa
Ministério da Saúde