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Primeiro dia de fórum sobre temas emergentes na APS debate atenção a crianças com 2 mil profissionais de saúde
Palestrantes apresentaram pesquisas sobre covid-19 com menores, orientaram a identificação e encaminhamento de casos nas UBS e responderam a perguntas. Próximo webinário será dia 23/5
Publicado em
16/05/2021 00h00
Atualizado em
15/02/2024 12h22
Na última quinta-feira (13) começou o I Fórum de Debates: Temas Emergentes para a APS, iniciativa do Ministério da Saúde, por meio da Coordenação-Geral de Formação e Provisão de Profissionais para a Atenção Primária (CGPROP/Desf/Saps), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a UNA-SUS.
O primeiro encontro, em formato webinário, teve como tema o cuidado na APS para crianças com suspeita ou confirmação de covid-19 e contou com a participação de mais de 2 mil pessoas de todas as regiões brasileiras, em sua maioria profissionais de saúde da Atenção Primária, e parte deles oriundos do Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB).
A abertura do evento foi feita pelo coordenador da CGPROP, o médico de família e comunidade Alexandre Fortes. Ele lembrou que a criação do fórum é uma resposta para os vários médicos brasileiros que entraram em contato com o Ministério da Saúde nos últimos meses pedindo suporte para identificar casos de covid-19 precocemente nas unidades básicas de saúde (UBS).
A primeira apresentação foi feita pelo presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e professor de pediatria da Santa Casa de São Paulo, Marco Aurélio P. Sáfadi. Ele trouxe o contexto da covid-19 no atendimento a crianças e adolescentes, com base em sua experiência profissional e lições aprendidas. Um dos casos que o especialista utilizou como exemplo foi o de uma menina de 8 anos, previamente saudável, que teve covid-19 antes da instalação de quadro de hemiparesia, que evoluiu para um choque, e ela precisou ser atendida na UTI.
Sáfadi explicou que, a partir do final de abril, alguns países começaram a identificar casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (Simp) temporalmente associada ao Sars-Cov-2 (no Brasil, isso foi identificado em maio). “A patogênese da Simpainda está sob investigação, mas nosso entendimento é que ela é fruto de uma reação inflamatória oriunda de uma resposta imune desequilibrada do organismo”, disse. Por isso, ele reforçou a importância da notificação desses casos ao Ministério da Saúde para ajudar a entender a situação. Também citou os critérios da OMS, segundo os quais os médicos devem prestar atenção para casos graves de covid-19 em crianças e adolescentes: pelo menos três dias de febre e pelo menos dois sinais clínicos entre uma série de opções, como disfunções miocárdica, conjuntiva e cutânea, além de inflamação elevada.
Entretanto, Sáfadi lembrou que casos graves são raros nessa faixa etária (atualmente, os óbitos até 19 anos representam 0,3% do total no Brasil), e que hoje entende-se a transmissão de outra forma. No início da pandemia, a hipótese de que crianças seriam grandes vetores da doença tinha muita força. Mas com o tempo percebeu-se o inverso: é mais comum que elas peguem a doença de adultos, como mostrou um estudo feito em favelas do Rio de Janeiro. “Adultos jovens, sim, são os mais relevantes no contexto da transmissão”, relatou. “Em crianças abaixo de 12 anos, de forma geral, a carga viral encontrada no trato respiratório foi substancialmente menor que nos adultos”, complementou, com base em estudos feitos nos Estados Unidos.
Ao final, apresentou um protocolo de manejo correto de Simp aos profissionais da APS. As medidas passavam por abordagem multidisciplinar (preferencialmente incluindo especialistas em doenças infecciosas, cardiologia, imunologia, entre outros), atenção a sinais vitais, hidratação, eletrólitos e estado metabólico. “Antecipar os sinais de um pior prognóstico é o papel mais importante da APS agora”, defendeu.
Importância da APS
Já a médica Maria Inez Padula Anderson, diretora científica e de desenvolvimento profissional contínuo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), focou a apresentação no trabalho e na importância da Atenção Primária, especialmente nas unidades que utilizam a Estratégia Saúde da Família (ESF). A ESF apresenta uma equipe multiprofissional, trabalho em equipe, acompanhamento longitudinal e criação de vínculo que, de acordo com a profissional, “pode ajudar muito no acompanhamento das crianças, inclusive no que diz respeito aos efeitos colaterais que elas podem sofrer com a covid-19”.
Para Anderson, o fortalecimento da Atenção Primária precisa ser uma preocupação central - o que dialoga com a portaria que destinou quase R$ 1 bilhão em incentivos federais para a APS nesta semana. “O papel da Atenção Primária à Saúde é, seguramente, a identificação precoce e o acompanhamento longitudinal das crianças e das famílias que têm casos de covid-19, mesmo em adultos, que podem transmitir às crianças”, pontua.
Além disso, a enorme capilaridade do SUS por meio da APS, que faz com que a saúde chegue às populações mais vulneráveis e de mais difícil acesso, principalmente pelo trabalho dos agentes comunitários (ACS), evita trajetos desnecessários e possibilita cuidar de outras dimensões que levem em conta todas as necessidades da criança. "Os profissionais da APS podem se atentar para situações de saúde mental, violência familiar, luto, insegurança alimentar, que agravam todas as outras enfermidades, inclusive a covid-19, cobertura vacinal para outras patologias, sedentarismo e obesidade, que também são fatores de risco para crianças, semelhante ao que ocorre com os adultos", ressalta.
Ambos os palestrantes ainda ressaltaram a desigualdade com que o vírus afeta as crianças (e toda a sociedade), apresentando diferenças dramáticas em decorrência de pertencimento étnico e da pobreza.
A mediadora Martha Gonçalves Vieira, técnica da Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (Cocam/Saps/MS), finalizou explicando os sete eixos da Política Nacional de Atenção à Saúde da Criança (PNAISC) e deu um panorama dos programas do Ministério da Saúde que contemplam a saúde de crianças e adolescentes e que podem impactar diretamente o atendimento dos casos de covid-19 na APS. Reforçou, ainda, a importância da troca de informações entre os níveis de atenção (primária e a especializada) para trabalharem conjuntamente no enfrentamento da covid-19. Depois, os palestrantes responderam às perguntas do público, que deixaram diversos elogios à iniciativa no chat.
Quer saber mais? O webinário está disponível na íntegra no canal da Secretaria de Atenção Primária à Saúde no Youtube. O próximo encontro terá como tema o manejo clínico das arboviroses no contexto da pandemia e o diagnóstico diferencial de covid-19 no âmbito da APS. Acompanhe as notícias pelo site do Programa Mais Médicos para o Brasil e não perca nenhum encontro.