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ATENÇÃO PRIMÁRIA
Saps finaliza rodada de encontros com especialistas para enfrentamento da mortalidade materna frente à pandemia
Ao longo de quatro meses, de março a julho deste ano, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps/MS) realizou, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 159 encontros diários e regionalizados com médicos e enfermeiros. O objetivo foi apoiar a tomada de decisão dos profissionais de saúde na assistência às gestantes e puérperas acometidas pela covid-19 e demais intercorrências obstétricas ameaçadoras à vida materna.
Mais de 8 mil profissionais de saúde puderam experimentar um ambiente de diálogo e aprendizado com gestores e especialistas na busca de soluções e alternativas para a redução da mortalidade materna no contexto da pandemia, abordando casos clínicos na Atenção Primária e na hospitalar. “Aprendemos nessa troca entre universidades, especialistas, gestores e profissionais de saúde a importância da constituição de uma rede conectada de boas práticas na atenção obstétrica, para compreender as peculiaridades do Sistema Único de Saúde (SUS) de dimensão continental, frente ao desafio de enfrentarmos a mortalidade de gestantes e puérperas no País”, destacou o Dr. Antônio Braga Neto, diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (Dapes/Saps/MS).
Para o médico, o combate à mortalidade materna e suas causas proximais - hemorragia, hipertensão e infecção - para além daquelas determinadas pela covid-19, constitui uma das principais metas da atual gestão. “Conseguimos discutir centenas de casos de gestantes acometidas por covid-19, muitas internadas em unidades de terapia intensiva, cuja discussão com painel de especialistas permitiu ajuste de condutas”, pontuou.
Como resultado desse trabalho, será atualizado o Manual de Recomendações para a Assistência à Gestante e Puérpera frente à Pandemia de Covid-19, durante a próxima reunião da Câmara Técnica de Mortalidade Materna, publicada por meio de portaria, prevista para agosto.
Balanço
Em todo o período de quatro meses, apenas um dia não houve encontros, devido à cerimônia realizada na Unifesp com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Os encontros contaram com a participação de professores que fazem parte do GT do Ministério da Saúde para a elaboração do manual, além de duas colegas da Universidade de São Paulo (USP). Confira como foi a capacitação em números:
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16 professores
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159 encontros diários
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Média de participantes em cada sessão: 53 pessoas
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Média geral do público presente: 8.480 pessoas
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Maior parte do público composta por médicos e enfermeiros
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Encontros diários de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h, com duração de aproximadamente 1 hora
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155 vídeos postados no canal do YouTube (todas as gravações das sessões tira-dúvidas estão disponíveis aqui)
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Total de visualizações dos vídeos: 5.177
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Total de pessoas inscritas no canal: 797
Casos clínicos
Para a Dra. Rosiane Mattar, professora titular de obstetrícia da Unifesp e coordenadora do grupo de trabalho responsável pela elaboração do manual, foi muito enriquecedor aprender sobre a realidade de diferentes locais do Brasil. “Mesmo discutindo casos que já aconteceram, foi muito interessante conhecê-los, porque estamos mais preparados para tomar decisões em futuros casos”, defendeu.
Um dos médicos responsáveis por apresentar um caso clínico foi o residente de ginecologia e obstetrícia Dr. Matheus Borges, que trabalha no Hospital Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, Alagoas. No dia 16 de julho, ele trouxe a história de uma paciente “que lutou pela vida e muito nos ensinou”: trata-se de uma gestante de 25 anos, obesa, IG 28 semanas, admitida com diagnóstico confirmado de covid-19 por teste rápido e sintomas gripais. No exame físico obstétrico, não apresentava alterações, ausência de dinâmica uterina, BCG 142bpm, tônus uterino normal. Evoluiu com piora clínica e necessidade de suporte de O2 crescente sob Máscara de Hudson, sendo optado por interrupção da gestação e IOT. “Infelizmente o RN veio a óbito após 48h de vida. A puérpera, em contrapartida, teve boa evolução clínica, tolerou extubação e recebeu alta após 18 dias de internamento na unidade”, contou.
Para ele, a pandemia desolou muitas famílias, mas ao menos trouxe para a saúde um aprendizado que será útil no futuro. E as apresentações dos casos foram importantíssimas para definir o melhor manejo, orientações quanto aos fluxos de atendimento, abordagem inicial - desde a manifestação dos primeiros sintomas até a internação da mulher - além de esclarecimentos sobre a melhor conduta e o momento para a realização do parto e cuidados e a essas pacientes de acordo o quadro clínico. “A troca de experiências com diversos profissionais da área foi de extrema importância. Agradeço pela oportunidade e gostaria de dizer que estarei presente nos próximos eventos do Ministério”, comentou.
Em todos os encontros, o manual foi insistentemente divulgado. “Nós divulgamos o link para download e mostramos páginas do material que eram importantes para a assistência”, contou a Dra. Rosiane Mattar, que também recomendou aos participantes que assistissem as vídeoaulas disponíveis no canal da Saps no Youtube, principalmente o vídeo da técnica de pronação para gestantes. “Além disso, nós falamos muito das vacinas para a covid-19, incentivando os colegas a realizarem a vacinação das gestantes”, afirmou.
A série de encontros
Nomeada Encontro de Especialistas: Discussão de Casos Clínicos de Gestantes e Puérperas com Covid-19, a iniciativa foi possível a partir de uma parceria com a Universidade de São Paulo (Unifesp) para a realização de encontros virtuais, regionais e gratuitos. Para a identificação e seleção dos casos, o MS contou com o apoio das coordenações estaduais de saúde da mulher para a articulação com os hospitais e maternidades, juntamente com todos os técnicos da Coordenação da Saúde da Mulher (Cosmu/Dapes/Saps).
As propostas discutidas no encontro seguiram estes critérios: apresentação do caso; antecedentes e fatores de risco; dados do pré-natal; dados do parto; dados de anestesia; dados do RN; dados do puerpério; dados do óbito; dados da atenção hospitalar; e relato da família.
Além de levar casos clínicos de sua prática e explorar particularidades, os profissionais envolvidos tiveram a oportunidade de tirar dúvidas como os especialistas (como verificar se os exames solicitados estavam adequados e realizar a avaliação de vitalidade fetal).