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SORRISO SAUDÁVEL
Ministério da Saúde inicia maior pesquisa de saúde bucal do país em Belo Horizonte (MG)
Foto: Laísa Queiroz
A situação dentária influencia a saúde das pessoas em todos os âmbitos da vida. Para entender as doenças e agravos mais comuns na população hoje, o Ministério da Saúde iniciou a terceira edição da SB Brasil, uma pesquisa que vai avaliar mais de 50 mil pessoas em todo o País. A primeira cidade a receber a iniciativa foi Belo Horizonte (MG).
“Esse é o maior levantamento de saúde bucal do Brasil”, destaca o secretário de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, Raphael Câmara. A secretaria abriga a Coordenação- geral de Saúde Bucal (CGSB) e financia totalmente a pesquisa. “O objetivo é usar os dados coletados como subsídio para o planejamento, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas que melhorem a qualidade de vida dos brasileiros”, explica.
A pesquisa é realizada em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 422 municípios, incluindo todas as capitais do País, e se baseia na busca ativa: a equipe de campo vai até a casa das pessoas para fazer a avaliação. O aposentado José Nascimento dos Santos foi um dos participantes do primeiro dia da SB Brasil, e recomenda. “Eu acho esse tipo de trabalho muito importante, porque pode despertar a pessoa para procurar um dentista e cuidar da boca. Eu estou cuidando dos dentes que sobraram”, disse, rindo da situação.
O bairro Jardim Felicidade, onde ele mora, também abriga a residência da pequena Tayla Madrona da Silva, de cinco anos, outra participante no dia de estreia do levantamento. Ela contou que gosta de doces, mas sabe que não deve comer todos os dias e que a higienização dos dentes precisa estar presente na rotina. “Eu escovo todo dia antes de dormir, para os dentinhos não ficarem podres”, justificou.
Próximos passos
No restante do país, a pesquisa será iniciada em janeiro de 2022, após o fim do piloto em Belo Horizonte, que pode oferecer eventuais ajustes. As fases do levantamento epidemiológico são:
- Coleta de dados socioeconômicos, por meio de questionário;
- Avaliação da saúde bucal, por meio de exame físico de pessoas das seguintes idades: 5 anos, 12 anos, 15 a 19 anos, 35 a 44 anos e 65 a 74 anos. Entre os agravos avaliados, estão cárie dentária, traumatismo dentário, condição periodontal e condição da oclusão dentária;
- Levantamento de dados sobre a necessidade de tratamento dentário, urgência de tratamento e próteses dentárias.
- Esse trabalho é realizado por equipes de campo compostas por 2.544 profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Brasil. Eles estão divididos em três frentes:
- 848 arroladores (agentes de endemias, agentes comunitários de saúde ou outros profissionais da APS que conheçam o território para percorrer os setores censitários e identificar previamente pessoas das faixas etárias selecionadas para a pesquisa);
- 848 anotadores (técnicos e auxiliares de saúde bucal, cuja função é anotar as informações do exame e outras relativas ao levantamento, e cuidar do descarte e armazenamento dos materiais) e;
- 848 examinadores (cirurgiões dentistas que fazem os exames bucais).
A coleta de dados está prevista para ir até junho de 2022 e os resultados devem ser publicados no final do ano que vem.
Participe
A cirurgiã dentista da unidade básica de saúde (UBS) Jardim Felicidade I, Mariana Rodrigues Pereira, é uma das examinadoras das equipes de campo de Belo Horizonte, e fez questão de participar da pesquisa, pois a partir desses dados, é possível entender o que a população realmente precisa.
“Hoje a gente trabalha muito com casos de cárie e de doença periodontal, cenário bem diferente daquele da primeira pesquisa, época em que as pessoas perdiam dentes muito cedo e não tinham muita necessidade de tratamento periodontal. A gente tem uma situação diferente de 20 anos atrás, e só sabemos disso por causa dos levantamentos epidemiológicos feitos ao longo dos anos”, explica.
Para a auxiliar de saúde bucal Maria Rosilene Xavier, que acompanha a dentista, participar dessa pesquisa, entendendo onde se quer chegar, dá uma motivação a mais para trabalhar. “Se você não faz um diagnóstico, não tem como planejar. Sem conhecer a real situação, como atacar os gargalos e definir as prioridades?”, questiona. Ela acredita que, para a população, também é importante participar, pois gera conscientização e a sensação de que algo novo está acontecendo e que ela é parte disso.
Mariana deixa o convite: “Se a pessoa puder participar da pesquisa, se puder abrir a porta de casa para nos receber, a gente está fazendo tudo com muito cuidado, com muita atenção. Está todo mundo da equipe vacinados, todo mundo bem paramentado, a gente faz de tudo para manter a biossegurança. Tudo isso para devolver em serviços de saúde bucal para a população”.
Essa edição da pesquisa inova em relação aos levantamentos anteriores por utilizar ferramentas digitais no treinamento da equipe de campo, o que reduz a necessidade de deslocamentos presenciais para a realização da pesquisa. A novidade tem perspectiva de racionalizar e otimizar recursos educacionais e financeiros. O material desenvolvido está disponível para uso e apoio aos municípios e estados que desejem realizar suas próprias pesquisas.
A pesquisa
A SB Brasil é um levantamento epidemiológico conduzido pelo Ministério da Saúde, por meio da CGSB, que, além da parceria com a UFMG, conta com apoio das secretarias estaduais e municipais de saúde, do Conass, do Conasems, de universidades e institutos de pesquisa em saúde pública, e de diversas instituições representativas da área de odontologia no País. O estudo é realizado no âmbito Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), mais conhecida como Brasil Sorridente.
Os resultados, representativos dos estados, contribuem para a formulação de estratégias e intervenções compatíveis com os principais problemas odontológicos da população, além de disponibilizar subsídios para a avaliação dos efeitos das estratégias vigentes e necessidades de melhorias. A SB Brasil também fornece parâmetros de comparabilidade longitudinal da situação de saúde bucal dos brasileiros e a comparação com outros países. A edição atual reforça a finalidade e a necessidade dessas coletas, assegurando a regularidade na atualização dos dados.
Segundo o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), o número de pessoas que procuraram os serviços odontológicos na APS em 2020 foi de 13,6 milhões, número bem abaixo dos 33,2 milhões atendidos em 2019, antes da pandemia. Desta vez, a pesquisa conta com a maior amostra de todos os levantamentos feitos: 50.800 pessoas de 422 municípios.
Os agravos identificados terão estimativas por estados, capitais e regiões de municípios do interior. A população das faixas etárias elegíveis para o estudo e residente nos domicílios de setores censitários sorteados para a amostra será entrevistada e examinada por equipes treinadas.
A SB Brasil estava programada para o ano passado e teve a etapa de campo adiada para 2021 e 2022, em decorrência da pandemia. De 2020 ao primeiro semestre deste ano, foram realizadas atividades preliminares à coleta de dados, como disponibilização de consulta pública do projeto; realização de ajustes no plano amostral; elaboração de questionários e de materiais de apoio envolvidos na pesquisa; e, principalmente, adequação de instrutivos e materiais envolvidos na coleta que reforçassem a biossegurança no contexto da covid-19.
Laísa Queiroz
Ministério da Saúde