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Saúde Indígena
Mais de 6,6 mil atendimentos realizados no DSEI Guamá-Tocantins durante Missão Interministerial
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A pandemia causada pela COVID-19 não alcançou os indígenas do Polo Base de Oriximiná (PA), no Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá-Tocantins (DSEI GUATOC). São 21 aldeias das etnias Wai-Wai, Kaxuiana, Tiriós e Tunayana que estão nas margens dos rios Cachorro, Mapuera e Trombetas, em meio à selva amazônica, em locais de difícil acesso. A distância dos centros urbanos e o cumprimento do isolamento social orientado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, impediu que a doença atingisse as aldeias, que em sua maioria são da etnia Wai-wai.
Para que os indígenas permaneçam em isolamento, mas tenham atendimento médico especializado, o Governo Federal levou a Missão Interministerial de Combate à COVID-19 até o DSEI GUATOC, no período de 23 a 30 de novembro. Foram mais de 6,6 mil atendimentos realizados durante a Missão, envolvendo aproximadamente 140 profissionais de saúde do Ministério da Saúde e do Ministério da Defesa. “Nós pudemos avaliar que os profissionais que se envolveram nesta missão foram além da parte técnica, o pessoal que trabalhou se empenhou diretamente no cumprimento da Missão. Houve a possibilidade de conhecer o ambiente e valorizar o trabalho que a SESAI desenvolve ao cumprir esta nobre missão”, avaliou o coordenador da Missão pela SESAI, Geraldo Cavalcanti Jr.
A SESAI enviou mais de 31 mil itens de insumos como medicamentos, testes rápidos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para o Polo Base de Oriximiná. O Ministério da Defesa enviou 21 profissionais de saúde das Forças Armadas entre eles médicos generalistas, pediatras, ginecologista, infectologista, ortopedista, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Além disso, também foram veterinários militares para controle de zoonoses nas aldeias. A logística das Forças Armadas possibilitou que o atendimento fosse realizado em dez aldeias e abrangesse mais 11 em torno delas. Diariamente helicópteros do Ministério da Defesa levaram as equipes de saúde até os locais de atendimento. A Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena do DSEI GUATOC aguardava a chegada dos médicos com os pacientes indígenas já triados para a consulta médica.
Na oportunidade, o DSEI realizou mutirão de tratamento odontológico, testagem para COVID-19 e outras doenças, entre outras ações de Atenção Básica. “Essas aldeias estão distantes em até 3h de voo da cidade mais próxima, Oriximiná, que é pequena. A vantagem de se ter um médico e outros profissionais como dentista, enfermeiros e técnicos de enfermagem dentro da aldeia é que o atendimento é imediato”, afirma o coordenador do DSEI Guamá-Tocantins, Stanney Nunes. Foram mobilizados profissionais do Polo Base de Oriximiná e da sede do Distrito, em Belém, para esta ação.
O professor e presidente do Conselho Local da aldeia Mapuera, Pedro Tiotio, está há meses sem sair de sua aldeia e aproveitou a Missão para consultar com o médico clínico geral. “Até agora não chegou essa doença chamada coronavírus em nossa aldeia porque respeitamos o cacique geral, Eliseu Wai-wai, que trancou para ninguém descer pra Oriximiná. Eu nunca mais fui à cidade, estou há 8 meses aqui. Quem está protegendo a gente é o cacique e o enfermeiro Cristiano (do DSEI GUATOC) para gente não descer para lá e trazer a doença para aldeia”, explica.
O responsável técnico pelas aldeias do Polo Base de Oriximiná, o enfermeiro Cristiano Adson, esclarece que o atendimento médico especializado diretamente nas aldeias é um benefício que poupa os indígenas de uma viagem de até 4 dias navegando pelos rios. “Nós trabalhamos a Atenção Básica, não temos a média e a alta complexidade nas aldeias. Conseguimos trazer profissionais especialistas para atender nossa demanda reprimida durante a pandemia. Os médicos fecharam os diagnósticos na hora e referenciaram os que não puderam ser atendidos nas aldeias. Vamos recebê-los na Casai (Casa de Saúde Indígena) de Oriximiná para levar aos municípios de referência”, informa o enfermeiro do DSEI GUATOC.
A Missão Interministerial foi de grande benefício também para o idoso de 84 anos, Carakó Wai-wai, que não sai da rede, na aldeia Bateria, por dores nas articulações. Ele recebeu a visita domiciliar de um ortopedista das Forças Armadas para receber o diagnóstico e o tratamento de sua doença durante a Missão. Dos atendimentos realizados, foram mais de 1,5 mil testes de sorologia, COVID-19 e outras doenças, sendo que não foi detectado nenhum caso de COVID-19. Mais de mil pessoas passaram pela triagem da enfermaria e foram realizadas 1,7 mil consultas médicas, 587 exames diversos, 242 procedimentos odontológicos e os veterinários atenderam 37 animais nas aldeias. Durante a Missão, os médicos identificaram dois casos que necessitaram de remoção urgente, uma criança com infecção no joelho e uma adolescente com princípio de pneumonia que foram imediatamente removidas por aeronave do DSEI para um hospital.
Para alguns profissionais de saúde esta foi a primeira missão em área indígena. A major Silvana Santiago é pediatra do Exército Brasileiro e se surpreendeu ao encontrar as aldeias tão bem assistidas pela Saúde Básica do DSEI GUATOC. “A gente tem a impressão que vai chegar num local de difícil acesso e encontrar as crianças desassistidas, mas me chamou a atenção o fato de que elas estão sendo muito bem acompanhadas na atenção básica de saúde”, afirmou.
As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) do Distrito são formadas por diversos profissionais, entre eles estão os Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e os Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN), que são responsáveis pelo acompanhamento dos pacientes nas aldeias, realizam a atualização vacinal, análise da qualidade da água, destinação dos resíduos sólidos, informações sobre saúde básica, entre outras ações. Um trabalho constante que exemplifica a presença do Estado Brasileiro em mais de 6 mil aldeias em todo País e beneficiando mais de 750 mil indígenas em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas.
“Então a SESAI nos passou que teríamos um apoio durante a Missão, mas de fato, não esperávamos ter a estrutura que encontramos aqui. Logicamente os profissionais de saúde não tem a mesma estrutura que tem nas grandes cidades, mas todos que vieram estavam motivados a ajudar. Estamos vivendo um ano difícil, um ano de pandemia, onde a sociedade fica descrente sobre as nossas pessoas e nossos valores, mas eu tive a oportunidade de testemunhar, nesta semana, estes jovens homens e mulheres, militares e civis, que trabalharam arduamente num bem comum que foi a saúde indígena”, destacou o coronel Fábio Felippe, coordenador da Missão pelo Ministério da Defesa.
Esta é a 18ª Missão Interministerial de Combate à COVID-19 em áreas indígenas. A SESAI já destinou aproximadamente 40 toneladas de medicamentos, testes rápidos para COVID-19 e EPIs para atender a população indígena nas aldeias. A próxima missão ocorre no DSEI Alto Rio Solimões, no Amazonas, no período de 7 a 14 de dezembro.