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Brasil está preparado para conter avanço das doenças sexualmente transmissíveis
Os jovens são o público de maior risco por não usarem camisinha. Basta uma relação desprotegida para que a pessoa seja infectada
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são causadas por mais de 30 vírus e bactérias. Elas são transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual sem o uso de camisinha, com uma pessoa que esteja infectada. A transmissão de uma IST pode acontecer, ainda, da mãe para a criança durante a gestação, o parto ou a amamentação. O tratamento das pessoas com estas doenças melhora a qualidade de vida e interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções. O atendimento e o tratamento são ofertados de forma gratuita nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).
Outra questão importante é que as ISTs aumentam em até 18 vezes a chance de a pessoa ser infectada pelo HIV. Isso porque para ser infectado pelo HIV, a relação, além de contato com secreções, precisa ter contato com sangue. As ISTs, geralmente causam lesões nos órgãos genitais, o que aumenta a vulnerabilidade para a pessoa adquirir o HIV. Sem contar que as IST, como sífilis, gonorreia e clamídia, por exemplo, podem causar morte, malformações de feto, aborto, entre outros. As IST têm impacto direto na saúde reprodutiva e infantil, pois podem provocar infertilidade e complicações na gravidez e parto, além de causar morte fetal e agravos à saúde da criança.
Pesquisas demonstram que o uso do preservativo vem caindo com o passar do tempo, principalmente entre o público jovem. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) todos os dias ocorrem 1 milhão de novas infecções. Doenças antigas, que remontam à Idade Média, como a Sífilis, por exemplo, ainda hoje pode ser considerada uma epidemia.
Abrir mão do uso do preservativo nas relações expõe a pessoa e os parceiros com as quais ela se relaciona às IST, incluindo o HIV - que não tem cura. Homens e mulheres apresentam sinas e sintomas distintos para as diferentes ISTs, como é o caso do HPV e da gonorreia, e somente o diagnóstico pode assegurar se ocorreu a infecção; somente o tratamento pode levar à cura; e somente a prevenção pode evitar que haja reinfecção.
Confira a entrevista com a coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) do Ministério da Saúde, Angélica Espinosa Barbosa Miranda.
Temos visto um crescimento no número de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no mundo. Você acredita que os jovens perderam o medo das ISTs?
No Brasil, das doenças sexualmente transmissíveis, apenas a sífilis, as hepatites virais e o HIV são de notificação obrigatória. Entretanto, entre as doenças mais comuns estão a Clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem mais de um milhão de novos casos de ISTs diariamente no mundo. A faixa etária mais afetada por essas infecções é a de pessoas entre 15 e 49 anos. É sempre importante reforçar que um único indivíduo pode estar infectado por mais de uma IST ao mesmo tempo ou contrair várias ao longo da vida.
A razão para números tão altos de casos de IST entre os jovens é a diminuição no uso da camisinha, que deveria ser utilizada em todas as relações sexuais. Estes jovens não vivenciaram o início da epidemia de Aids, nos anos 80, onde havia o medo de morte e, portanto, uma maior adesão ao preservativo.
Atualmente, o uso da camisinha é mais frequente no início dos relacionamentos, mas quando as pessoas consideram que o relacionamento está consolidado, isso se perde. Considerando que os jovens vivem uma fase de descobertas, eles se expõem a maiores riscos por ter uma vida sexual mais ativa. Eles têm mais relacionamentos sexuais e com um número maior de pessoas, portanto, maior perigo de ficarem doentes.
Quais são os principais desafios para o controle dessas doenças no Brasil?
Acredito que a organização de estratégias de educação em saúde para a população jovem seja um dos grandes desafios que temos hoje no país. A informação é essencial para que as pessoas criem consciência dos riscos que algumas atitudes podem gerar.
Além disso, é fundamental o desenvolvimento de estratégias de ampliação do acesso a preservativos masculinos e femininos, principal forma de prevenir infecção por doenças sexualmente transmissíveis. Falar mais sobre prevenção e cuidado em saúde a partir dos meios de comunicação, buscando aliar linguagens e tecnologias que dialoguem, em especial com o público jovem.
O controle de ISTs implica ainda na produção de conhecimento científico e na divulgação de boas práticas a partir da educação permanente de profissionais de saúde.
O Brasil oferta assistência gratuita para as doenças sexualmente transmissíveis, mas mesmo assim vemos o número de casos aumentando. Quais são as principais estratégias e desafios em relação à oferta de assistência e medicamentos no SUS?
O Ministério da Saúde compra e distribui itens de prevenção, como camisinhas masculinas e femininas para a rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e medicamentos diferentes para cada tipo de doença.
É importante ressaltar que o aumento de taxas de detecção de sífilis, por exemplo, aponta para o aprimoramento da vigilância e controle epidemiológico, bem como demonstram a efetividade de acesso à aos Testes Rápido para a Sífilis disponível nos serviços do SUS. O total de testes rápidos de sífilis distribuídos na rede pública de saúde, desde 2016 e até setembro de 2019, por exemplo, correspondeu a 31,3 milhões de unidades. Em 2016, foram 4.731.930 testes distribuídos, em 2019 até setembro foram 7,1 milhões de testes distribuídos, demonstrando o esforço crescente de ampliação do acesso a este insumo.
Em relação às camisinhas, 392,3 milhões de camisinhas masculinas foram distribuídas em 2019, aumento de 18% em relação ao ano passado. Sobre as camisinhas femininas, quase 6 milhões de unidades foram distribuídas neste ano.
A sífilis é uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns. Qual o principal impacto do não tratamento da doença?
A sífilis adquirida (geral), quando não tratada, pode causar comprometimentos sérios do sistema nervoso central, com alterações neurológicas (quadros de demência), auditivas, oculares, cardíacas e ósseas. É importante lembrar que não existe uma vacina para a doença. A única forma de prevenir a sífilis é através do sexo seguro.
Entretanto, o principal impacto da sífilis hoje no Brasil é a sífilis congênita, infecção passada de mãe para filho, que pode resultar em aborto. A doença também pode ficar disfarçada e causar o nascimento prematuro de bebês com baixo peso, com outros sintomas como coriza, sinais e sintomas ósseos, alterações do fígado e do baço, pneumonia, edemas, fissuras nos orifícios, entre outros, que podem resultar na morte da criança.
A doença tem cura e o tratamento é feito de forma gratuita pelo SUS a partir da aplicação de penicilina benzatina. O quanto antes o tratamento for feito, melhor a resposta contra a doença.
Quais são as complicações da gonorreia e clamídia?
As infecções causadas pelas bactérias clamídia e gonorreia são infecções que podem atingir os órgãos genitais masculinos e femininos. A clamídia é muito comum entre os adolescentes e adultos jovens. A gonorreia pode infectar o pênis, o colo do útero, o reto (canal anal), a garganta e os olhos.
Essas doenças, quando não tratadas, podem causar infertilidade, dor durante as relações sexuais, gravidez ectópica (fixação do embrião às trompas), problemas na gestação e parto. Não existe vacina contra a clamídia e gonorreia. A única forma de prevenir a transmissão dessas bactérias é o sexo seguro com o uso de preservativos.
O que é o HPV e qual a importância da vacina?
O HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) é um vírus que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto de homens quanto de mulheres, provocando verrugas anogenitais (região genital e no ânus) e câncer, a depender do tipo de vírus. A infecção pelo HPV não apresenta sintomas e em alguns casos, o HPV pode ficar latente de meses a anos.
A vacina para proteger contra o vírus HPV é segura, eficaz e a principal forma de prevenção contra 4 tipos do HPV (6, 11, 16, 18) que são os mais comuns relacionados ao câncer de colo de útero. A imunização ajuda a prevenir o aparecimento desse tipo de câncer, que é a quarta maior causa de morte de mulheres por câncer no país.
Por Jéssica Rabelo, da Agência Saúde
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