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Saúde Indígena
SESAI e Unicef promovem oficina de Segurança Alimentar e Nutricional para indígenas do Médio Solimões
Localizada às margens do rio Juruá, nas proximidades dos municípios de Fonte Boa (AM) e Juruá (AM), no coração da floresta amazônica, a aldeia Paupixuna, a maior entre as oito que concentram o povo Madjá Kulina, foi a escolhida para sediar, entre os dias 17 e 26, a oficina de ‘Desenvolvimento de competências de famílias indígenas para o direito à segurança alimentar e nutricional’.
A ação é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), com o objetivo é criar estratégias que contribuam para redução da mortalidade infantil e agravos nutricionais em menores de 05 anos além de incentivar e valorizar hábitos alimentares tradicionais, com o protagonismo indígena comunidade, em cinco regiões avaliadas como prioritárias por apresentarem os índices mais preocupantes mortalidade e desnutrição infantil.
Embora vivam numa região farta de caça e pesca, há cerca de 5h via fluvial do município de Tefé (AM), os Madjá Kulinas têm convivido, nos últimos anos, com o surgimento doenças e outros antes incomuns , relacionadas a transição alimentar vivenciada por algumas aldeias indígena nas últimas décadas. “Hoje, nossos parentes vão para cidade receber seus benefícios, participar de reuniões, e acabam voltando para aldeia com bolacha, refrigerante e enlatados. Isso está causando diarreias e dores de estômago em muita gente, principalmente nas crianças”, alerta a indígena Marihá Madjá Kulina, moradora da aldeia Boca do Paupixuna.
As mudanças recentes na cultura alimentar da comunidade, somadas a problemas provocados pelo constante contato com os centros urbanos, a exemplo do alcoolismo nas aldeias, levaram o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Médio Rio Solimões a escolher a região para promover, durante quatro dias, a oficina de segurança alimentar com a participação de homens e mulheres da comunidade, além dos profissionais de saúde que realizam atendimento no Polo Base Kumaru.
“A experiência proporcionou discutir com a comunidade temas diversos como a insegurança alimentar e nutricional das aldeias e a introdução da alimentação "kariuá" (“homem branco” na língua Madjá Kulina) . A monetarização foi um dos motivos relatados pela comunidade para a transição alimentar e o aparecimento de doenças , por outro lado nos chamou atenção o fato dos Madjá valorizarem o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida além da introdução da alimentação complementar de forma satisfatória e em tempo oportuno, frisa a nutricionista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Gisele Mêne.
Oficina
Além da discussão sobre a transição alimentar na aldeia, através da exposição de imagens do que eles comiam antes e o que eles comem agora, também foram realizadas atividades onde os indígenas expuseram seus conceitos sobre uma criança saudável e doente. “Nós ouvimos relatos sobre as doenças da alma, cujo tratamento é realizado somente pela medicina tradicional”, complementa Gisele.
Durante a atividade "Troca de saberes sobre a introdução da alimentação complementar da criança Madjá Kulina", mulheres e homens expuseram como são ofertados os alimentos para as crianças a partir do sexto mês de vida, quando ela deixa de receber o leite materno exclusivamente e passa a se alimentar de forma a complementar o leite da mãe com os alimentos da família.
Expectativas
Além da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) que atua no Polo Base Kumaru a atividade contou com a participação de profissionais que atuam na sede do DSEI com o objetivo de qualificar a abordagem dos profissionais para promoção das ações de fortalecimento das práticas alimentares tradicionais saudáveis. Espera-se que a ação seja expandida para outras localidades visando a prevenção de doenças e outros agravos por meio da troca de experiências e saberes com as comunidades.
“Outra expectativa é que, com esta semente que aqui plantamos, eles (comunidade indígena) possam manter viva a sua cultura alimentar, passando a olhar com mais atenção para o plantio de antigas culturas, além da necessidade de manter o hábito da caça e da pesca”, destaca a nutricionista Hellen Mississipi, que há sete anos atua no DSEI Médio Rio Solimões.
O cacique da aldeia Paupixuna, Luis Madja Kulinna, elogiou a ação e agradeceu pela atividade realizada na aldeia. “Nós estamos muito felizes com esta ação em nossa aldeia. É importante manter viva a nossa cultura e estar atento às mudanças que têm acontecido na nossa alimentação”, disse.
Agenda Integrada de Saúde da Criança
Além do DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes, a Oficina de Competências de Famílias Indígenas para o Direito à Segurança Alimentar e Nutricional em parceria com o Unicef também já foi realizada nos DSEIs: Xavante (situado ao sul do estado do Mato Grosso) e Yanomami (localizado no extremo norte do estado de Roraima). Os próximos a receberem a oficina serão os DSEIs Alto Rio Purus e o Alto Rio Juruá (ambos no estado do Acre).
Por Felipe Nabuco, do Nucom Sesai
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