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Recursos Terapêuticos no SUS
Pesquisadores de 27 países participam do INTERCONGREPICS
Seguindo as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), que incentivam a inserção de práticas integrativas nos sistemas de saúde, o Ministério da Saúde (MS) incorporou mais 10 novos recursos terapêuticos no SUS. O anúncio foi feito pelo ministro Ricardo Barros na abertura do 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Complementares e Saúde Pública (INTERCONGREPICS), no dia 12 de março.
Para o representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Zhang Qi, o conselho desconhece os progressos no campo científico desde Alma-Ata, no Cazaquistão, há 40 anos. Na época foi definido pelos países membros da OMS um conjunto de princípios para proteger e promover a saúde de todas as pessoas, adotando a atenção primária à saúde como orientadora de um sistema de saúde integral.
“Os países têm adotado a integração entre o modelo convencional e as medicinais tradicionais para atender a demanda da população, assim garantido os direitos essenciais da saúde. Ter conhecimento de diferentes abordagens auxilia na escolha do tratamento mais adequado para o indivíduo, permitindo uma análise não só física mas também mental e emocional”, explica Zhang.
De acordo coordenador nacional das PICS no Ministério da Saúde, Daniel Amado, o evento desta semana é apenas uma vitrine das discussões sobre a pauta que vem sendo discutida mundialmente. O Congresso trouxe 250 pesquisadores sendo 80 internacionais, representando 27 países. Também foram aprovados 900 trabalhos de pesquisa e relatos de experiência.
“Isso é apenas uma mostra de que muitos estudos vêm sendo realizados nos últimos anos. Há diversos grupos de pesquisa com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, recentemente, foi assinado um consórcio acadêmico com mais de 30 universidades, que auxiliam a tomada de decisões nas políticas públicas”, conta.
No evento, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) lançou um portal de medicina complementar para trazer as evidências científicas que existem em diversas publicações acadêmicas de renome para criar uma forma mais fácil de consulta. Além disso, o ministério financia pesquisas para verificar as evidências científicas das PICS.
Atualmente, por exemplo, Mildfullness é usada no Instituto Nacional do Câncer (INCA) para cuidado dos servidores que lidam com pacientes terminais. “Os servidores têm demonstrado uma satisfação com a técnica e melhoria do bem estar. Existem ensaios clínicos sobre hipnoterapia de alta qualidade mostrando que esse recurso possui um potencial benéfico para o tratamento de algumas condições como a fibromialgia e revisões sistemáticas para dor do parto”, explica o coordenador.
Ampliação positiva
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), em apoio à iniciativa do MS, publicou nota de apoio considerando que o incremento de novas práticas à atual PNPIC se traduz num avanço de um modelo de saúde focado nos pressupostos da Reforma Sanitária e dos princípios fundamentais do SUS.
“As práticas integrativas se constituem hoje numa realidade, uma vez que se encontram inseridas em todos os níveis de atenção à Saúde a partir de uma visão ampliada do processo saúde–doença e da promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado”, trouxe a nota do Cofen.
Leia abaixo o que profissionais de saúde e pesquisadores falaram a respeito do INTERCONGREPICS.
Marcelo Amaral – Médico do NASF dá apoio às equipes de Saúde da Família em Brazlândia (DF)
“Trabalho com as PICS há muito tempo e uso as práticas pessoalmente, em mim mesmo. Inclusive, uma dessas que é a bioenergética terapêutica, conhecida no mundo todo. As práticas atuam de maneiras muitos mais integrais, mas não é apenas o rigor acadêmico o único critério de avaliação. Tivemos a oportunidade de ver aqui no INTERCONGREPICS várias pesquisas que já comprovam a eficácia e foram feitas seguindo diferentes metodologias, como ensaios clínicos, protocolos randomizados, entre outros. Essas práticas preenchem uma lacuna que a medicina convencional não consegue. Temos que considerar o impacto das PICS na comunidade e não só a quantidade de trabalhos acadêmicos.”
Emílio Telese Júnior – Secretaria municipal da Saúde (SP) / Atenção Básica com foco nas práticas integrativas e complementares em saúde
“Práticas integrativas ou medicina integrativa é um conhecimento emergente e recente, de 15 a 20 anos pra cá. Muitos dos nossos médicos, da medicina hegemônica e dominante, desconhecem. A medida em que os profissionais médicos vão reconhecendo essas novas modalidades vão mudando de opinião. Esse conjunto de saberes em nenhum momento nega a medicina convencional, mas vem para somar. Pelo visto, muitas pessoas não conhecem muito o que acontece no campo tradicional de conhecimento.”
Bruno Abreu Gomes Pedralva – Médico de Família e comunidade do SUS de Belo Horizonte (MG)
“Várias práticas têm estudos mostrando eficácias, tanto do ponto de vista objetivo biológico, quanto de satisfação das pessoas, de sensação de saúde e de melhora do seu bem estar, do seu conceito de estar bem através das PICS. Então, mente quem diz que as práticas integrativas e complementares não têm evidências científicas ou não reconhece o vasto trabalho que temos feito. O uso do termo “práticas alternativas” é uma posição política de como enxergar a saúde.”