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Saúde e Bem-estar
Meditação pode tratar doenças
Imagine uma comunidade vulnerável por conta da violência e da pobreza, além de problemas como o alcoolismo e o uso de drogas, usando técnicas de meditação no tratamento contra dores de cabeça. Essa situação foi relatada pela pesquisadora norte-americana Marilyn Kay Nations, que estuda o uso da Mindfulness numa comunidade carente de Fortaleza, no Ceará.
O estudo realizado por Marilyn Kay será apresentado no 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Complementares e Saúde Pública (INTERCONGREPICS), que acontece até 15 de março no Rio de Janeiro (RJ).
Em português, Mindfulness significa Atenção Plena, que é o estado mental alcançado por meio de técnicas de meditação. Esse conjunto de técnicas passou a ser usado, desde a década de 70, em prol da saúde.
Na experiência de Fortaleza, a pesquisadora identificou um grupo de pessoas, especialmente mulheres, que sofriam com fortes e constantes dores de cabeça, por diversos motivos. “Nós tivemos um impacto positivo com a prática diária de Mindfulness, como menos dores de cabeça, mais controle sobre os sintomas e mais qualidade de vida depois das sessões”, conta Kay, que fez o estudo para mostrar os benefícios desses exercícios mentais como um tratamento complementar à cefaleia crônica.
Um dos desafios de Marilyn Kay relata que, como a meditação tem origem vinculada a tradições culturais e religiosas orientais, há certa resistência por parte de equipes das unidades de saúde. Foi assim com a primeira equipe médica procurada por ela no interior do Ceará. Houve recusa ao estudo. Para a pesquisadora, este é o desafio da técnica de Atenção Plena: a aceitação por parte dos profissionais de saúde.
“Foi bastante difícil trabalhar com essas metodologias alternativas. Foi mais complicado convencer as equipes de saúde do que a população. Infelizmente, ainda existe a dominância do modelo biomédico, que trata a doença e sempre com intervenções farmacológicas e não integrativas. Ao menos esse paradigma está mudando”, observa Marilyn. Vale ressaltar que as técnicas usadas em Mindfulness tendo a saúde como finalidade foram totalmente desvinculadas à religião ou à cultura.
A prática
De acordo com o Marcelo Piva, coordenador do Centro Mente Aberta - o Centro Brasileiro de Mindfulness, com este tipo de meditação, o usuário pode alcançar uma o momento presente. Primeiro é preciso conhecer, com a ajuda de um instrutor, as técnicas Mindfulness – respiração e movimentos corporais -, depois elas podem ser aplicadas no dia-a-dia, de forma autônoma, em casa ou no trabalho, por exemplo.
“Para a gente treinar este estado mental de Atenção Plena, que seria uma contraposição a viver desatento ou hiper-reativo às situações, é preciso aplicar as técnicas. E os programas de treinamento são laicos e usam uma linguagem científica. É como se fosse uma releitura da meditação”, esclarece Marcelo Piva, que é médico da família e já acompanhou a execução da prática de Mindfulness como professor da Universidade Federal de São Paulo, em mais de mil pacientes.
Segundo o Centro Mente Aberta, o programa é estruturado ao longo de oito semanas, em que os participantes se reúnem semanalmente por aproximadamente duas horas para vivenciar técnicas de Mindfulness. “As técnicas são adaptadas à vulnerabilidade de cada público que se está trabalhando”.
A Mindfulness pode ser usada como terapia clínica com pessoas que sofrem com a depressão, esquizofrenia, compulsão alimentar, dores crônicas e até com usuários de drogas, por exemplo. Os especialistas explicam que não se trata de uma substituição a tratamentos medicinais convencionais, mas sim um complemento às demais formas de tratamento.
Erika Braz, para o Blog da Saúde