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Saúde Indígena
1º Congrepics aborda práticas ancestrais dos povos indígenas
A contribuição das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) no Sistema Único de Saúde (SUS) para a implementação da Agenda 2030, que reúne os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), foi o tema do Painel de abertura do 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Complementares e Saúde Pública (Congrepics), iniciado na manhã desta segunda-feira (12), no Rio de Janeiro (RJ), e que contou com a participação do secretário Especial de Saúde Indígena, Marco Toccolini, e da coordenadora de Programas e Projetos para a Saúde Indígena, Roberta Cerri Reis.
Os dois apresentaram os princípios da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), destacando pontos como a integralidade do cuidado e a atenção diferenciada e demonstrando como o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena prevê o diálogo intercultural entre a biomedicina e os saberes tradicionais de pajés, rezadores e raizeiros, entre outros componentes da medicina tradicional indígena. “Inclusive, acho que vocês vão gostar de conhecer um pouco mais do que tem sido feito na saúde indígena, que vamos mostrar na Tenda de Saberes”, convidou Toccolini.
Veja fotos da abertura do evento
As atividades da Tenda de Saberes, com programação organizada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, foram iniciadas na tarde do primeiro dia de programação, com um espaço para que representantes indígenas falassem livremente sobre as práticas curativas e espirituais de seus povos. O pajé Kolarenê Enawenê Nawê falou como funciona a convivência entre as duas medicinas em sua aldeia, no norte de Mato Grosso (MT). “Quem cuida do paciente primeiro é o pajé, mas se o espírito briga com o paciente, ele precisa da outra medicina”, contou.
Em quase todas as falas, observam-se demonstrações dos estreitos laços entre as práticas curativas e a cosmologia de cada um dos povos indígenas. “Cada doença e cada doente precisa de um remédio, porque a doença pode ser até a mesma, mas o doente é diferente”, explicou o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Altamira, William Xakriabá, que pediu mais respeito aos saberes indígenas. “Por exemplo, a PIC mais antiga do Brasil é a pajelança, que existia antes mesmo da chegada dos brancos e, no entanto, ela não é uma das 29 práticas integrativas e complementares reconhecidas pelo SUS”, disse.
Outros contaram como se tornaram lideranças espirituais e curativas de seus povos, como a parteira Iolanda Macuxi, que coordena um projeto para desenvolvimento de fitoterápicos no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste de Roraima. “Meu pai era pajé e aos 11 anos os deuses me escolheram, os espíritos disseram que eu era uma mão santa e por isso devia fazer os medicamentos para o meu povo. A partir daí, comecei a ajudar e aprender muita coisa com o meu pai”, contou a indígena que já ajudou a quase 300 bebês a vir ao mundo. À frente da Coordenação de Medicina Tradicional do DSEI Leste de Roraima, ela conseguiu resgatar algumas tradições medicinais de povos da região e, hoje, já foram desenvolvidas cerca de 20 fórmulas de medicamentos, como tinturas, xaropes, garrafadas, pomadas e lambedores.
A programação do 1º Congrepics segue até esta quinta-feira (15), discutindo outros temas da saúde indígena, como questões relacionadas ao acesso, à interculturalidade e a integração entre o subsistema de saúde indígena e outros pontos de atenção do Sistema Único de Saúde.
Por Beth Almeida, do Nucom Sesai
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