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Saúde Indígena
SESAI prioriza políticas voltadas à qualificação da Atenção Psicossocial
Como identificar, abordar e propor ajuda? A atenção psicossocial de usuários indígenas vem passando por transformações significativas nos últimos anos. A implementação de estratégias de cuidado na ponta dos serviços, somada à realização de capacitações para profissionais que atuam em área e a promoção de ações de saúde nas aldeias, têm contribuído no aprofundamento de conhecimentos que permitem identificar novos casos, realizar a melhor abordagem junto ao usuário indígena e propor projetos terapêuticos que possibilitem o envolvimento familiar e comunitário na sua recuperação.
O preconceito, o racismo, os choques culturais e religiosos, bem como a violência e a questão das disputas de terras, estão entre os fatores que mais acentuam os problemas de saúde psicossociais enfrentados pelas populações indígenas brasileiras. Como consequências diretas destes fatores, observa-se, nas aldeias, o surgimento de doenças e agravos como a depressão, o uso prejudicial de álcool e outras drogas, a violência doméstica e, em escala mais preocupante, os suicídios.
“Em se tratando de suicídios, não há uma única causa determinante. A análise do que leva um indivíduo ao suicídio é multicausal, ou seja, é resultado da interação de fatores sociais, biológicos, culturais, econômicos e ambientais”, explica a psicóloga do Departamento de Atenção à Saúde (DASI/SESAI), Juliana Gama. Dessa forma, explica ela, devem ser rejeitadas todas as explicações simplistas e unívocas para o suicídio, ainda mais quando se trata de um evento em populações indígenas. “Entre indígenas, há várias situações e contextos que podem ser potencializadores do suicídio”, complementa.
De acordo com ela, o trabalho de prevenção aos jovens indígenas deve ser realizado intersetorialmente. “Na área da saúde, especialmente na SESAI, há ações estruturadas que formam a Linha de Cuidado de Prevenção ao Suicídio a serem desenvolvidas pelas equipes de saúde que estão em área. São ações de ‘pósvenção’ que visam acolher a família que teve algum membro que cometeu suicídio e prevenir tentativas futuras de suicídio de pessoas que tenham ideação suicida e/ou que já tentaram cometer suicídio anteriormente”, explica.
Linha de cuidado
Um dos grandes avanços constatados na atenção psicossocial das populações indígenas está na elaboração, em 2014, do “Material Orientador para Prevenção do Suicídio em Povos Indígenas”. “Esse documento é um material didático que serve para orientar as equipes que atuam em área na organização de cuidados em saúde mental para prevenção do suicídio em populações indígenas, que é um agravo que impacta em especial entre os mais jovens”, explica Juliana Gama.
Além de qualificar as ações em área, o guia fornece fundamentos aos profissionais para acolherem pessoas que tentaram suicídio ou que sejam parentes de sujeitos que foram a óbito por essa causa. Esta estratégia visa oferecer suporte e apoio às famílias e grupos com proximidade à vitima de um evento. São realizadas visitas domiciliares de apoio por profissionais especializados junto à equipe e elaborado um projeto terapêutico singular para o acompanhamento de indivíduos e famílias identificados como vulneráveis.
Desafios
Uma estratégia preconizada para o enfrentamento ao suicídio diz respeito à prevenção e promoção de saúde. Estas estratégias visam o fortalecimento das redes sociais de apoio, por meio do fortalecimento ‘identitário’ e cultural das comunidades, além da mobilização social e comunitária sobre temas relacionados aos fatores de risco em suicídio como álcool e outras drogas e violência.
“Neste sentido são realizadas ações como grupos de apoio e escuta, Projeto Terapêutico Local, Grupos de Discussão sobre temas variados, atividades diversas de fortalecimento cultural, entre outras. Estas ações são realizadas pelas EMSI em parceria com psicólogo e/ou assistentes sociais”, explica a psicóloga.
Outro grande desafio imposto à atenção psicossocial na Saúde Indígena está na necessária integração entre as práticas tradicionais e milenares dos povos indígenas, à medicina ocidental. Ou seja, a necessidade de promover um cuidado articulado aos saberes dos pajés e das lideranças religiosas indígenas.
“Em alguns casos, os projetos terapêuticos individuais são construídos com a participação de cuidadores tradicionais, tendo em vista que a saúde deve ser concebida de maneira ampliada e respeitando as múltiplas formas de se produzir e se conceber saúde. É bastante delicado abordar o assunto, e da mesma forma respeitamos os limites e os segredos das comunidades”, explica Regina Juliana Sousa, responsável técnica pelo programa de Saúde Mental no DSEI Alagoas e Sergipe.
Ela destaca que muitos povos têm suas próprias alternativas, rituais e cuidados, porém ficam restritos à sua comunidade e cuidadores, de maneira que não são acessados pelas equipes de saúde. Porém, devem ser respeitados e valorizados, visando-se sempre o protagonismo dos indígenas na produção de Bem Viver pessoal e comunitário.
Por Felipe Nabuco
Arte: Cleison Moura