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Saúde Indígena
Experiência do DSEI Amapá selecionada para Prêmio de Educação Popular
O trabalho desenvolvido pela Casa de Saúde Indígena (CASAI) de Macapá (AP) na promoção da saúde por meio da educação e conscientização das comunidades indígenas está entre os selecionados na segunda edição do Prêmio Victor Valla de Educação Popular em Saúde. A elaboração da “Cartilha de Promoção da Saúde na Língua Tupi-Guarani dos Waijãpi/Amapá” foi selecionada na categoria ‘Narrativa’, obtendo a quinta colocação geral. A experiência dos profissionais da Casai será premiada com uma menção honrosa do Ministério da Saúde.
“Apesar do título se referir apenas a uma etnia, o conteúdo abrange muito mais ações e todos os grupos étnicos do DSEI Amapá. Além disso, a cartilha enfoca como o trabalho da fisioterapia trouxe avanços significativos no atendimento prestado na CASAI de Macapá”, explica a fisioterapeuta da unidade e autora do projeto, Fellícia Ferreira da Mota.
Interação
O ponto de partida para elaboração do material educativo, relata Fellícia, foi a necessidade de melhorar a comunicação com os usuários indígenas que eram atendidos na Casai, já que a grande maioria deles não fala português e precisa da mediação de um intérprete indígena para ser atendida.
Desta forma, foram priorizadas as línguas das etnias que mais tinham dificuldade de comunicação, que eram a tupi-guarani dos Waijãpi; a língua karib dos Tiriyo e a língua apalay das etnias do Parque Tumukumake. “Fomos cada vez mais procurando aprender palavras novas. Cada dia eram anotadas três palavras em uma folha de papel, sendo uma de cada etnia, e, aos poucos, as palavras soltas começaram a formar pequenas frases nas línguas indígenas”, recorda Fellícia.
Ocupação
Ao perceber que muitos indígenas em tratamento acabavam passando um período às vezes prolongado na Casai, a equipe passou a promover atividades com o objetivo de ocupar o tempo ocioso destes pacientes, sobretudo com ações e mecanismos de promoção da saúde, a exemplo de palestras, atividades de ginástica laboral, brincadeiras, vídeos educativos, atividades de pintura, entre outras coisas.
“Por outro lado, aproveitando o esforço que já vínhamos empreendendo para conhecer as línguas indígenas, também iniciamos um trabalho de informação em saúde nessas línguas. Devido à dificuldade de muitos indígenas para entender o português básico, mais distante ainda seria entender orientações de saúde com termos técnicos e nomes difíceis”, frisa a fisioterapeuta.
Para produção desses materiais educativos, a equipe contou com a grande rotatividade de indígenas em tratamento na Casai. “Passamos a obter a ajuda deles para conhecer melhor o sentido das palavras; a organização temporal, que é diferente; a de sentimentos; a manifestação da doença; o processo de adoecimento; a fragilidade e vulnerabilidade, de forma que fossem criadas cartilhas informativas de prevenção e orientação em saúde a serem compreendidas por todo o grupo”, explica Fellícia Mota.
Cartilhas
A princípio, pequenas frases de orientação de saúde foram sendo traduzidas e afixadas nas áreas de convivência da Casai de Macapá, e, a partir daí, vários materiais educativos passaram a ser produzidos. A elaboração desses materiais levava em conta os principais problemas que acometiam os pacientes que chegavam ao serviço de fisioterapia da Casai.
Entre os temas trabalhados nas cartilhas estão: qualidade de vida, prevenção de doenças crônicas, combate ao sedentarismo e obesidade, saúde da mulher, saúde da criança, higiene corporal, além de cartilhas com exercícios terapêuticos para auxiliar o paciente em caso de dificuldade respiratória.
“Os materiais traduzidos nas línguas indígenas têm um poder de alcance muito maior e facilidade de entendimento pelos indígenas, uma vez que retratam algo próximo da sua realidade local e ilustram de uma forma de fácil compreensão a mensagem que se deseja transmitir”, frisa Fellícia.
Em agosto deste ano, o DSEI Amapá e Norte do Pará realizou a reprodução de 250 cartilhas de três línguas diferentes, que serão utilizadas nas palestras e rodas de conversas promovidas na CASAI de Macpá. São elas: “Promoção da saúde física na língua apalay”; “Promoção da saúde física na língua tiriyó”; “Promoção da saúde física na língua waijãpi”; “Cuidados necessários de pacientes com doenças respiratórias na língua waijãpi”; e “Higiene corporal e prevenção na língua waijãpi”.
Prêmio Victor Valla de Educação Popular em Saúde
Criado em 2010, o Prêmio Victor Valla de Educação Popular em Saúde tem por finalidade apoiar e contribuir com o fortalecimento dos grupos, coletivos, movimentos populares e acadêmicos, assim como dos serviços de saúde, que desenvolvem ações de Educação Popular em Saúde, de forma democrática e dialógica.
O Prêmio é uma homenagem ao professor Victor Vincent Valla (1937-2009) que em sua trajetória de militância e produção acadêmica construiu legado que nos inspira a refletir sobre os modos de viver e produzir saberes populares e suas relações com a saúde.
Incluído entre as ações prioritárias da Politica Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS), o Prêmio Victor Valla é produto do diálogo entre a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa – (SGEP) e os diversos coletivos e movimentos sociais e populares que atuam na educação popular, organizados no Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde (CNEPS), instituído em 2009 pelo Ministério da Saúde.
Por Felipe Nabuco
Fotos: DSEI Amapá/Norte Pará