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Saúde Indígena
Mutirão de cirurgias no Alto Rio Negro bate recorde
Quase três mil pessoas atendidas, 312 cirurgias, 220 trabalhadores e outras milhares de pessoas felizes e realizadas por terem melhoria na sua qualidade de vida, nos 10 dias que se realizou a 36ª Expedição de Saúde em uma das regiões de mais difícil acesso da Amazônia.
A ação realizada na localidade de Assunção do Içana, em São Gabriel da Cachoeira (AM), ampliou as atividades de atenção básica de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto do Rio Negro (DSEI/ARN). Na ocasião, além do número recorde de cirurgias, uma grande quantidade de exames e outras consultas de média e alta complexidade fortaleceram o compromisso de ajudar a comunidade indígena.
As ações que sucederam uma das mais desafiadoras atividades dos Expedicionários da Saúde foram reforçadas com a parceria da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (SESAI/MS), da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira.
O senhor Valdir Silva, 73 anos, da etnia Makuxi, que é agricultor e fala inglês fluente, além de sua língua indígena, disse que era a oportunidade de melhorar a visão e voltar a estudar e trabalhar na roça. “Vou fazer uma cirurgia de catarata, e logo vou poder trabalhar. Os trabalhadores do DSEI e dos Expedicionários fazem o bem para o povo indígena, não vamos esquecer jamais dessa ação”, afirmou.
Para possibilitar a realização desses procedimentos, o Ministério da Saúde destinou recursos para instalação adequada de um hospital completo, em plena floresta, contando com o apoio do Ministério da Defesa no transporte de 15 toneladas de equipamentos.
Para Vera Lopes, coordenadora geral de atenção primária à Saúde Indígena (CGAPSI-SESAI/MS), a soma de todas as forças é que possibilita o sucesso da ação. “A união de parcerias faz com que a ação seja efetiva e conseguimos levar adiante esse trabalho, garantindo um atendimento qualificado para a população indígena do Alto Rio Negro”, destacou.
Para complementar a atividade, foram fornecidos vários medicamentos necessários para o atendimento da atenção primária, e 83 profissionais, entre enfermeiros e técnicos do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro (DSEI ARN), realizaram a triagem dos indígenas para os procedimentos, além de outras atividades logísticas.
Em 35 edições, desde 2004, as equipes dos Expedicionários da Saúde já realizaram mais de 6 mil cirurgias e mais de 35 mil atendimentos especializados. A área coberta pelas ações dos voluntários é equivalente ao território da França, sendo a grande maioria de terras indígenas demarcadas.
Trabalhadores
Claro que a ação dos Expedicionários é uma obra que se destaca pelo voluntariado das equipes de saúde dos mais renomados hospitais brasileiros, mas sem apoio técnico de enfermeiros, técnicos de enfermagem, engenheiros, nutricionistas e barqueiros da região atendida a atividade é impossível de ser realizada.
Segundo o secretário da SESAI/MS, Rodrigo Rodrigues, que esteve presente no local, estes profissionais do DSEI Alto Rio Negro foram primordiais para o sucesso da 36ª Expedição. “Desde o início, na montagem e limpeza de barracas, instalações de banheiros e apreciações balanceadas de milhares de refeições servidas durante a ação foram feitas integralmente pelas equipes do DSEI. Claro que a parceria com outras entidades do governo federal e da sociedade civil é que torna o projeto grandioso e um sucesso, mas a força de trabalho do DSEI, fortalece esse mutirão em favor da saúde indígena”, afirmou.
O enfermeiro do DSEI, Wagner Santos, lembrou que a ação possibilita aumentar os conhecimentos, auxiliar o profissional de área e qualificar a saúde indígena. “O esforço de todos que estiveram na ação tem um único propósito, que é de ampliar o acesso à saúde indígena para a comunidade. Isso nos anima, por essa somatória de todos os trabalhadores do DSEI indo ao encontro disso, que é trabalhar em prol da comunidade”, ressaltou.
Tracoma/Triquíase
Junto com a 36ª Expedição foi incluída a primeira ação com foco na erradicação da tracoma/triquíase. O objetivo da atividade pioneira é erradicar os casos de Tracoma entre os indígenas da região de Yauaretê, localizada ao norte do município de São Gabriel da Cachoeira (AM).
Uma equipe composta por três cirurgiões realizou cirurgias plásticas, reparadoras em 68 pálpebras de 32 pacientes, para casos em que a doença já apresentava quadros mais avançados de deformidade (triquíase) em indígenas.
De acordo com o médico Oscar Soares, o tracoma/triquíase é uma conjuntivite bacteriana que se estabelece, inicialmente, sem sintomas na conjuntiva do olho. Ela começa com uma simples coceira e vai se perpetuando de forma silenciosa. Ao longo dos anos, a doença passa a acumular cicatrizes nas pálpebras dos olhos, decorrente da ação bacteriana. Essas cicatrizes vão deformando a pálpebra que, com o passar do tempo, passa a se contorcer e lesionar a retina ocular. Essa lesão pode levar a uma cegueira irreversível.
Mais números
Nesta 36ª Expedição houve um ganho de atendimento, de logística e número de profissionais. Foram 83 trabalhadores do DSEI/ARN, outros 75 militares do Exército e 62 voluntários EDS. Cerca de 20 embarcações, 2 aviões e 1 helicóptero deram apoio logístico na busca de pacientes e transporte de colaboradores.
Cirurgias: geral - 185 (incluindo hérnias e cistos); oftalmológicas – 125 (entre cataratas e pterígio) e outras duas ginecológicas, totalizando 312 procedimentos.
Atendimento ambulatorial: foram feitas triagens, consultas em aldeia e na expedição nas modalidades: cirurgia geral – 285; oftalmologia – 494; clínica médica – 292; pediatria – 82; ginecologia – 176; pré-anestesia – 162; odontologia – 204, somando 1.695 atendimentos.
Foram 2.914 atendimentos e exames. Na ginecologia somaram-se 300 procedimentos; oftalmologia houve 816 exames; de odontologia outros 851. Exames complementares como eletrocardiograma foram 295, biopsia-cirurgia geral 16 e 78 ultrassonografias.
A 37ª Expedição da Saúde deverá ser realizada na mesma região amazônica, em abril de 2017.
Por Tiago Pegon
Fotos: Alejandro Zambrana