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Saúde Indígena
Mutirão de cirurgias traz qualidade de vida a indígenas de AM
Seu José Barbosa Filho é Agente Indígena de Saúde (AIS) da aldeia Nova Jerusalém, em Maués (AM). Na última quarta-feira (6), ele deixou para trás a esposa e os outros quatro filhos e partiu numa viagem de um dia inteiro de barco com a filha do meio, Beatriz Barbosa, de apenas seis anos, para chegar até a Escola Agrícola São Pedro, no Polo Base de Umirituba (AM). Preocupado com as fortes dores abdominais que a pequena indígena vinha sofrendo, o pai não pensou duas vezes quando teve a oportunidade de levá-la para ser operada no mutirão de cirurgias e atendimentos especializados, que teve início no último sábado (9). A pequena Beatriz passou por uma cirurgia de hérnia, e agora pode voltar a fazer tudo que uma criança saudável na idade dela gosta de fazer: correr, nadar, dançar e brincar. “Agora ela vai voltar a ter uma vida normal, sem dores, sem sofrimento. Isso é motivo de felicidade para mim. Já sabia que se tratava de uma hérnia, mas não tinha coragem de levá-la para cidade para aguardar por uma cirurgia como esta”, disse José Barbosa, que é da etnia Saterê Maué. Além da pequena Beatriz, cerca de 300 indígenas deverão passar por cirurgias até o próximo sábado (16). A montagem desta mega estrutura no meio da floresta amazônica, com centros cirúrgicos e exames de ultrassonografia, é resultado do esforço conjunto entre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Parintins, e os Expedicionários da Saúde (EDS), organização não governamental que há 14 anos vem exercendo um trabalho humanitário entre comunidades indígenas do Norte do Brasil. A ação conta ainda com as imprescindíveis parcerias do Ministério da Defesa, Fundação Nacional do Índio (Funai), das Secretarias Municipais de Saúde de Parintins, Barrerinhas e Maués, além das comunidades indígenas existentes na região, por meio de seus caciques e tuxauas. "Além de praticamente zerarmos as filas por cirurgias gerais e oftalmológicas entre nossos indígenas de quase 120 aldeias da região, nossa expectativa também é de realizar mais de dois mil atendimentos especializados nas áreas de odontologia, clínica geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia", destacou a coordenadora do DSEI Parintins, Paula Rodrigues.
Parceria
O mutirão se concretiza a partir do voluntariado de equipes logísticas e de saúde e dos investimentos feito pelo Governo Federal e outros apoiadores. “Para que este mutirão em Umirituba fosse realizado, nós colocamos nossas equipes do DSEI em área desde o mês de fevereiro, para realizar as visitas aos 12 Polos Base de Saúde, conversar com caciques e lideranças, e realizar uma pré-triagem para dimensionar o quantitativo de indígenas a serem operados ou atendidos no mutirão”, explica Paula. De acordo com ela, todo suporte logístico da expedição também fica a cargo do DSEI Parintins, sobretudo no que diz respeito ao transporte, acomodação e refeição dos pacientes indígenas que são deslocados de diferentes regiões do distrito para o Polo Base onde ocorre a expedição. “Isso demanda, por exemplo, além de profissionais em área e muito combustível, aluguel de barcos grandes com capacidade para transportar até 150 pessoas. Nesta expedição, além de disponibilizar toda estrutura de barcos e lanchas do DSEI, nós tivemos que alugar quatro destes barcos para trazer pacientes de diferentes regiões, como a de Maués, de onde veio o senhor José Barbosa e a sua filha”, disse Paula Rodrigues. A montagem de toda infraestrutura também demandou um trabalho integrado entre profissionais que atuam na logística, saneamento e atenção do DSEI, além dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Saneamento (AISAN), para garantir as adequações que seriam necessárias na estrutura da escola para comportar o mutirão, a exemplo da construção de barracão para o centro cirúrgico, alojamentos para pacientes e voluntários, banheiros e passarelas para o transporte de pacientes entre uma área e outra. O Exército Brasileiro, por meio do Pelotão de Fronteira da região, também tem tido atuação decisiva no transporte fluvial de insumos para operação. “Está sendo uma experiência fantástica para todos nós que fazemos o DSEI Parintins. Além disso, esta expedição também já deixa como legado a união das nossas equipes, já que foi necessária a integração de diferentes áreas do DSEI para que esta ação acontecesse. Tem sido tudo de forma muito harmoniosa”, frisa o odontólogo do DSEI Parintins, Daniel Dantas, que esteve a frente da expedição desde o inicio.
Ação humanitária
Em 35 edições, desde 2004, as equipes dos Expedicionários da Saúde já realizaram mais de seis mil cirurgias e mais de 35 mil atendimentos especializados. A área coberta pelas ações dos voluntários é equivalente ao território da França, sendo a grande maioria de terras indígenas demarcadas. Nesta edição que acontece em Parintins, a expedição levou um diferencial: a entrega de óculos de grau após as consultas oftalmológicas. Até o fim da expedição, cerca de 1000 indígenas serão contemplados com a entrega de óculos, que certamente ajudarão a melhorar a qualidade de vida de quem vive na floresta. “Durante as visitas que realizamos nas precursoras para conversar com a comunidade, ficamos muito sensíveis com os relatos que ouvimos de lideranças e professores indígenas, de que havia muitas crianças com dificuldades em sala de aula por conta de problemas na visão. Então fomos atrás de parceiros e nesta expedição vamos priorizar a entrega de óculos, conforme combinado com eles mesmos, para crianças, professores e anciãos”, ressaltou a coordenadora do EDS, Márcia Abdala.
Por Felipe Nabuco