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Saúde Indígena
Parceria entre governo e sociedade civil já beneficiou milhares de indígenas
O esforço coletivo do Governo Federal, da organização sem fins lucrativos Expedicionários da Saúde (EDS) e de outros importantes parceiros vai beneficiar mais comunidades indígenas este ano, levando atendimento médico especializado a povos que vivem geograficamente isolados. A expectativa é de realizar novamente três expedições até o fim de 2016, com localidades e datas ainda a definir. O cronograma de ações será discutido no final deste mês, numa reunião envolvendo equipes da EDS e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde.
“A gente tem conseguido realizar três expedições ao ano, pois cada uma delas costuma exigir quatro meses de preparação das equipes. O trabalho é complexo e requer uma grande logística. São toneladas de equipamentos e dezenas de profissionais envolvidos, já que a missão é montar uma estrutura de centro cirúrgico em plena floresta, com salas de pré e pós-operatório, alojamentos para os pacientes e equipes, consultórios, cozinha e refeitório, dentre outros espaços. Para isso, claro, contamos com o apoio das próprias comunidades indígenas”, pontua o secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza.
Cada expedição, em média, costuma ter uma semana inteira dedicada exclusivamente ao atendimento médico e à realização de cirurgias. O trabalho de montagem de toda a estrutura, no entanto, pode durar até 30 dias. Meses antes, médicos e enfermeiros da EDS e equipes locais de saúde indígena dedicam-se à triagem dos pacientes, visitando todas as aldeias do território que será coberto pela ação. Além dos procedimentos cirúrgicos, durante as expedições são realizados atendimentos nas áreas de odontologia, clínica geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia.
Marcia Abdalah, coordenadora-geral de logística da organização Expedicionários da Saúde, diz que os investimentos e a participação efetiva de órgãos do Governo Federal, a exemplo do Ministério da Saúde, por meio da Sesai, e do Ministério da Defesa, com o Exército e a Força Aérea Brasileira (FAB), são decisivos para o êxito de cada expedição. “Nossos parceiros são a grande riqueza desse projeto que leva cidadania e qualidade de vida aos povos indígenas. A ação se concretiza a partir do voluntariado de equipes e dos investimentos feitos pelo governo e por outros apoiadores, como laboratórios farmacêuticos e redes de supermercado”, ressalta.
“Cuidando dessas populações, nós garantimos a preservação delas e da floresta. É uma forma de mantê-los em seu território, sem que haja necessidade de buscarem tratamento em centros urbanos. Assim, mantêm-se afastados de nossa sociedade e de tudo aquilo que ela oferece de não-benefícios para eles”, comenta Márcia.
Evolução Gradativa
Toda a estrutura montada durante as expedições busca sempre seguir características locais para melhor acolher os indígenas. “Desde os alojamentos à alimentação, tudo é pensado de acordo com as especificidades de cada povo. A cada edição, inclusive, nossas equipes passam por uma capacitação com antropólogos que explicam melhor as particularidades da região e das etnias que serão contempladas”, frisa o enfermeiro Genário Kanashiro, coordenador de enfermagem do EDS.
O ortopedista Ricardo Afonso Ferreira, um dos idealizadores do projeto, destaca a evolução gradativa do Expedicionários da Saúde. “Desde a primeira edição, em abril de 2004, o escopo e os desafios têm aumentado a cada vez. Os custos, por exemplo, são bastante elevados, embora a gente saiba que os bens imateriais deixados para essas comunidades não têm preço”, observa. Só nas duas últimas edições o aporte de recursos feito pela Secretaria Especial de Saúde Indígena foi superior a R$ 5 milhões.
“Em regra, são populações escassas e que vivem dispersas em regiões muito vastas. Como elas já recebem atenção básica, por meio das ações da Sesai, unimos esforços para promover cirurgias e atendimento especializado. Para isso, contamos com um grande grupo de profissionais médicos, enfermeiros e logísticos, todos voluntários. São pessoas que deixam suas rotinas de trabalho por um período e embarcam conosco numa experiência antropológica”, acrescenta o ortopedista.
Solidariedade
Em 34 edições, desde o ano 2004, as equipes de voluntários já realizaram cerca de seis mil cirurgias e mais de 36 mil atendimentos. A área coberta pelas ações do projeto Expedicionários da Saúde é equivalente ao território da França, sendo a grande maioria de terras indígenas demarcadas.
“Contamos com equipamentos de ponta e profissionais muito experientes, sempre buscando fazer o melhor e com o menor risco. O voluntariado das equipes locais de saúde indígena e da própria comunidade também é fundamental, pois é esse esforço conjunto que nos garante tantos casos exitosos. É preciso entender que solidariedade deixou de ser altruísmo; é condição indispensável para que a gente possa garantir a sobrevivência das próximas gerações”, conclui Ricardo Ferreira.
Assista ao vídeo produzido pela TV NBR sobre a expedição realizada em Maturacá, no Amazonas.
Veja mais imagens da expedição que aconteceu em meados de agosto, em território Yanomami.
Por Bruno Monteiro
Fotos: Alejandro Zambrana / Sesai-MS