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Saúde Indígena
Oficina define ações intersetoriais e participativas para redução do consumo do álcool entre indígenas
As ações para redução do uso do álcool entre indígenas devem ser intersetoriais e contar com a iniciativa e a participação das comunicadas indígenas. Esta diretriz irá orientar o trabalho de grupos de trabalho regionais, a serem criados no âmbito de todos os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) do país. A proposta é um dos resultados da I Oficina sobre Povos Indígenas e Necessidades Decorrentes do Uso do Álcool: Cuidado, Direitos e Gestão, realizada em Brasília, entre os dias 12 e 14 de dezembro, contando com a participação de trabalhadores da área de saúde mental, da saúde indígena e da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O objetivo da oficina foi elaborar orientações “ético-políticas” para o trabalho, que envolverá o desenvolvimento de ações locais de promoção do bem-viver indígena, que preconiza o fortalecimento das tradições culturais, da relação com a terra e com a comunidade, entre outros pontos. “As propostas apresentadas na oficina serão sistematizadas para depois compor o planejamento de 2017”, explicou Fernando Pessoa de Albuquerque, da Área Técnica de Saúde Mental e Medicinas Tradicionais Indígenas da Sesai.
A composição dos GTs regionais vai depender dos arranjos locais, podendo envolver não só profissionais da saúde mental e da saúde indígena, mas também da assistência social e até da cultura. Também de acordo com a realidade de cada região, o trabalho poderá envolver trabalhadores dos municípios ou dos estados onde estão sediados os DSEIs.
Experiências
A primeira parte da oficina foi dedicada a exposições de experiências já colocadas em prática, como a da antropóloga Luciane Ouriques, que há mais de uma década desenvolveu um trabalho junto a comunidades indígenas do Rio Grande do Sul, para investigação de fatores que levaram ao consumo do álcool, a pedido do Ministério Público Federal no RS.
“O consumo do álcool por estes povos é multifatorial. Entre estes indígenas, ficou claro que o principal problema era a falta de proteção territorial e o afastamento das tradições ancestrais”, afirmou a pesquisadora, que constatou, na ocasião, maior consumo do álcool em locais onde não havia casa de reza, nas aldeias muito próximas a centros urbanos e entre comunidades onde a liderança tem o hábito de beber.
A falta de proteção territorial é um fator de desestabilização social destas comunidades mesmo em áreas indígenas demarcadas, já que é frequente a entrada de integrantes de comunidades vizinhas (como as ribeirinhas, na Amazônia), para pescar ou caçar, e até de garimpeiros em busca de recursos minerais. Em ambas as situações, o álcool acompanha estes invasores.