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Saúde Indígena
Investimentos em infraestrutura estão transformando a saúde indígena em Altamira
A frase no quadro de avisos revelava a expectativa: “faltam dois dias para a inauguração da nova Casai [Casa de Saúde Indígena]”. A contagem regressiva dos profissionais que atuam no dia a dia daquela unidade em Altamira, no Pará, não diz respeito a um processo qualquer de mudança, mas sim a uma transformação expressiva de qualidade na assistência aos povos de dez etnias. São mais de 3.400 indígenas que vivem em 42 aldeias distribuídas nos municípios Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu, São Félix do Xingu e Altamira. O novo e amplo espaço onde funcionará a Casai é parte dos investimentos para ampliar e aprimorar o cuidado à saúde dessas populações.
“Estamos deixando para trás um histórico de superlotação e de acomodações que não refletiam o padrão de assistência que queremos para os indígenas atendidos por nosso Distrito”, afirma Lindomar Carneiro da Silva, coordenador do DSEI [Distrito Sanitário Especial Indígena] Altamira. Nas próximas semanas, ele e suas equipes vão se dedicar à mudança de endereço. O novo local, distante pouco mais de oito quilômetros da área urbana, possui estrutura suficiente para duplicar a capacidade de atendimento na Casai. “O mais importante, no entanto, é dispor de espaços que são devidamente adequados para o trabalho”, acrescenta o coordenador.
A nova estrutura contará com área administrativa e de acolhimento; salas de enfermagem para o atendimento ambulatorial e acompanhamento dos pacientes; equipes de prontidão 24 horas; oito espaçosos dormitórios com capacidade para abrigar confortavelmente cerca de 160 indígenas; doze banheiros; um amplo refeitório e cozinha industrial; lavanderia; churrasqueira e uma área externa bastante arborizada. “A ideia é fazer com que eles se sintam mais próximos do seu ambiente e tenham suas individualidades respeitadas”, pontua Gisele Damiana, chefe da Casai. Ao todo, 56 profissionais atuam na unidade.
O secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, participou da inauguração da nova Casai e também visitou o espaço onde, hoje, são prestados os serviços de apoio aos pacientes encaminhados para tratamento na rede do SUS em Altamira. “Fiz questão de ir até lá para ter em mente aquele cenário que não queremos nem permitiremos jamais que se repita. Temos uma dívida histórica com os povos indígenas, que merecem todo nosso cuidado e atenção”, frisa Alves.
Existem, atualmente, 68 Casas de Saúde Indígena em todo o país. São espaços que garantem alojamento e alimentação para pacientes e acompanhantes, onde equipes prestam assistência de enfermagem e são responsáveis por marcar e acompanhar os indígenas em consultas, exames complementares ou internação hospitalar. Os investimentos para montar e equipar o novo espaço, inclusive com transporte, são da ordem de R$ 400 mil e oriundos do Plano Básico Ambiental a ser cumprido pela empresa Norte Energia, responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
MAIS INVESTIMENTOS
Ainda na região, o secretário Antônio Alves e a coordenadora de Atenção Primária à Saúde Indígena, Vera Bacelar, visitaram a aldeia Kwatinemu, distante cerca de quatro horas e meia de Altamira, num trajeto fluvial que inclui até corredeiras e atesta a dificuldade de acesso às comunidades indígenas na área de abrangência do Distrito. “Para que nossas equipes consigam cobrir as 42 aldeias, temos três rotas de atuação. Numa delas, a Xingu, o acesso às aldeias é 100% fluvial. Em períodos de estiagem, quando os rios estão mais secos, o acesso a uma das comunidades mais distantes, a Raio de Sol, pode durar até 30 horas de barco. Já na rota Bakajá, por exemplo, com a construção da hidrelétrica de Belo Monte, nosso acesso às aldeias passou a ser terrestre; fluvial somente no período de inverno”, comenta Lindomar.
No sentido de garantir mais agilidade e conforto às remoções de pacientes e às viagens das equipes, o DSEI Altamira vem investindo na ampliação e renovação da frota terrestre e fluvial. Só no último mês de agosto, mais de R$ 800 mil foram aplicados na aquisição de oito veículos. A nova Casai também está recebendo mais um carro tipo Van, com capacidade para quinze pessoas, e uma caminhonete. Os automóveis serão utilizados para transportar pacientes e equipes e vão assegurar mais celeridade na marcação de exames e consultas especializadas. Em 2014, o Distrito também adquiriu um micro-ônibus, um caminhão e uma lancha.
A qualidade da água nas comunidades indígenas também tem recebido atenção especial das equipes do DSEI Altamira. Na comunidade Kwatinemu, o secretário Antônio Alves conheceu um dos sistemas de abastecimento que estão sendo implantados, incialmente, em 34 aldeias. O benefício, no entanto, deverá contemplar todas as 42 comunidades que vivem naquela região.
Com 150 metros de profundidade, o poço em Kwatinemu possui vazão de três mil litros por hora, mais que suficiente para atender aos 155 indígenas que vivem ali. “Antes, nós tínhamos um poço raso com apenas 30 metros e condições precárias. O novo sistema possui reservatório metálico, tratamento e filtragem, rede de distribuição e ramais domiciliares em todas as casas”, explica entusiasmado Wawagi Assurini, agente indígena de saneamento da aldeia.
Também em Kwatinemu, a comunidade será beneficiada com uma nova Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) e alojamento para a equipe. No total, são 34 unidades e alojamentos construídos em toda a área de abrangência do DSEI Altamira – estruturas que vão ampliar consideravelmente a qualidade da assistência aos povos indígenas.
Por Bruno Monteiro