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Saúde Indígena
Equipes de saúde indígena na BA debatem estratégias para incentivar o parto normal
A preocupação com o aumento do número de cesarianas realizadas por indígenas na área de cobertura do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Bahia levou as equipes do órgão a iniciarem um trabalho no sentido de buscar reverter esse quadro. Num primeiro momento, 20 profissionais discutiram o tema com a exibição do filme ‘O Renascimento do Parto’ (Eduardo Chauvet, 2013), que denuncia a “epidemia de cesáreas” no Brasil e no mundo. O debate é parte de um projeto de Educação Permanente implantado pelo Distrito.
“Esse tema foi escolhido porque, no primeiro semestre de 2015, o percentual de partos cirúrgicos realizados por mulheres indígenas aldeadas no DSEI Bahia apresentou um aumento significativo se comparado ao mesmo período de anos anteriores, chegando a 26% do total de partos. Nos últimos três anos esse índice se manteve abaixo de 20%”, explica o enfermeiro e responsável técnico pelo programa de Saúde da Criança, José Anacleto Neto. Em 2012, 2013 e no ano passado, o percentual de cesarianas foi de 17%, 19% e 17%, respectivamente.
Além dos técnicos da Divisão de Atenção à Saúde Indígena (Diasi), participaram colaboradores e servidores de vários setores do DSEI. Depois da sessão de cinema houve uma roda de conversa sobre experiências de vida relacionadas ao tema abordado no filme. “A articulação com questões do trabalho, aspecto básico da Educação Permanente, fez dessa experiência inicial um indicativo da necessidade de continuarmos esses encontros para a construção de espaços coletivos onde arte, educação e saúde, assim como a gestão e o cuidado, caminhem juntos”, complementa o psicólogo e referência técnica Programa de Saúde Mental, Leonardo Mendes.
“O encontro foi maravilhoso. Para mim foi muito gratificante poder informar e compartilhar a minha experiência. Espero que esse trabalho não fique apenas na sede do DSEI, mas seja levado para todos os profissionais da base”, disse Rosilene Carvalho Maciel.
A temática do filme despertou em Rosilene a vontade de resgatar as práticas tradicionais e o trabalho feito pelas parteiras em alguns Polos Base do Distrito. “Seria muito interessante que a gente fizesse a busca ativa dessas mulheres para, depois, iniciar um trabalho com as comunidades sobre a importância das práticas tradicionais e do tratamento utilizando materiais que elas cultivam na floresta onde vivem”, acrescenta.
AÇÕES NA PONTA
Para tentar diminuir o número de cesarianas realizadas no território do DSEI Bahia, algumas ações já foram colocadas em prática, como a participação da equipe técnica de referência para a Rede Cegonha, construindo parcerias intersetoriais e interfederativas; atualização das equipes em pré-natal, com foco no plano de parto para as indígenas grávidas; capacitação para as parteiras e visita técnica ao Centro de Parto Normal (CPN).
Uma das parceiras do DSEI nestas iniciativas é a enfermeira coordenadora do CPN, Suzana Monte Negro, uma das 50 enfermeiras brasileiras enviadas ao Japão, pelo Ministério da Saúde, para capacitação em parto natural domiciliar e com parteiras. “Articulamos com ela um treinamento para os nossos enfermeiros e médicos. O objetivo é que eles possam trocar informações, além de contar com o espaço físico do Centro”, acrescenta José Neto.
“Nosso intuito é construir um espaço de Educação Permanente, onde a abordagem de temas propicie reflexões que repercutam no trabalho e possam contribuir e inspirar ações locais nos diversos territórios do nosso Distrito”, conclui o coordenador Jerry Adriane Santos.
Por Graziela Oliveira
Fotos: Acervo / DSEI Bahia
Assista ao trailer oficial do filme ‘O Renascimento do Parto’