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Saúde Indígena
Médico indígena conclui Especialização em Saúde da Família
No último dia 28, a cidade de São Paulo recebeu 997 alunos da “turma 4” do Curso de Especialização em Saúde da Família, modalidade à distância, oferecido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esses alunos defenderam seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) durante o V Encontro Presencial da Especialização. Médicos brasileiros, cubanos, enfermeiros e tantos outros profissionais passaram o sábado chuvoso apresentando suas pesquisas. Porém um deles se destacou: Otan de Lima Pereira, indígena da etnia Macuxi.
Ao dissertar sobre a “Dematite atópica em comunidades indígenas”, o médico conclui sua especialização em Saúde da Família e diz que os conhecimentos sobre a parte prática do SUS para médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior são fundamentais para o cotidiano do trabalho. “O curso é ótimo. Ajudou muito a compreender mais sobre o fluxo dos usuários do SUS e como funciona a Atenção Básica no Brasil. Foi muito importante para compreender as diretrizes brasileiras e também como funciona o sistema de acolhimento aqui”, disse o médico indígena.
Aos 32 anos e nascido na comunidade do Xumina, reserva indígena Raposa Serra do Sol, no município de Normandia (RR), Otan sempre sonhou em ser médico e ajudar sua comunidade. Atualmente, trabalha no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Leste de Roraima e relata que, como indígena, a aceitação da comunidade, em princípio, não foi fácil, porém vem crescendo a cada dia.
“A ascendência indígena facilita a entrada nas aldeias e faz com que a comunidade confie mais em mim, como pessoa. Mas eles acreditam que o médico é o branco, de branco e maleta de couro. Para quebrar isso, atendo mais e brinco menos”, conta o médico.
Para ele, a cultura indígena influencia muito o trabalho. A medicina tradicional e seus costumes devem ser respeitados, porém deve-se ser assertivo quando o pajé não solucionar alguma questão de saúde. “Abrimos oportunidade para que pessoas que trabalham com rezas e orações atuem junto à medicina ocidental. Eu acredito muito nas práticas tradicionais, estudei isso na faculdade, mas não faço essa parte. E na região onde trabalho, eles acreditam muito: primeiro vem o pajé, depois o médico. Mas se o pajé não der jeito, precisamos encaminhar logo”.
Especialização
E Otan não pára. Antes mesmo de concluir o curso em Saúde da Família, já iniciou a Especialização em Saúde Indígena para profissionais vinculados ao programa Mais Médicos, também na modalidade à distância, a fim de não comprometer seu trabalho nas aldeias. Por Déborah Proença