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Saúde Indígena
Inclusão e protagonismo juvenil são realidade em aldeia alagoana
A promoção da saúde e o fortalecimento da identidade cultural indígena caminham de mãos dadas em parceria inédita no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alagoas e Sergipe. Vinte e seis jovens indígenas da aldeia Wassu Cocal concluíram, na última semana, a primeira fase do curso Coletivo Coca-Cola, que acontecia desde o início de março deste ano, na capital alagoana, Maceió.
Com o objetivo de atender demandas específicas para a juventude e a comunidade, apresentadas pelos jovens da etnia Wassu Cocal durante oficinas sobre ‘Juventude e Identidades’– idealizadas pela assistente social, Ana Pereira, e a psicóloga, Wanessa Barbosa –, a coordenação do DSEI buscou o apoio de instituições com expertise em protagonismo juvenil.
O trabalho do Centro de Inclusão Social Inaê e do Coletivo Coca-Cola já eram conhecidos entre comunidades de jovens negros da periferia de Maceió. A parceria com o DSEI Alagoas e Sergipe foi estabelecida menos de um mês depois.
“Queremos que fiquem no passado da Wassu Cocal aqueles jovens cabisbaixos. Precisamos fortalecer a cultura indígena e potencializar a juventude para que tenham orgulho de serem indígenas Wassu”, comenta emocionada a assistente social do distrito, Ana Pereira.
A iniciativa
Em consonância com a missão do Ministério da Saúde, a ideia primária da ação é contribuir para a melhoria da qualidade de vida e exercício da cidadania, preparando os jovens indígenas para o primeiro emprego.
Genilda Leão, coordenadora do DSEI Alagoas e Sergipe, garante que a iniciativa vai além da Política Nacional de Saúde dos Povos Indígenas (PNSPI), mas que é fundamental na atenção à saúde e que representa outra contrapartida da Sesai para a sociedade.
“Nós extrapolamos a política de saúde. O Distrito desenvolve todo um trabalho de cuidado e promoção da saúde indígena e, dentro dessa perspectiva de fortalecimento da identidade cultural, entramos na seara social. Acreditamos que saúde também é isso”, assegura a coordenadora.
Com duração de dois meses e aulas semanais, o curso trabalha o empoderamento desses jovens por meio da inclusão digital e capacitações voltadas ao mercado de trabalho. A assistente social pontua que, durante a capacitação, os jovens são preparados identificando suas potencialidades e, a partir disto, 30% deles são encaminhados para o mercado de trabalho.
Empoderados e conscientes de suas escolhas e potencialidades, Ana acredita que eles redescobrem um brilho pessoal e se tornam mais suscetíveis às ações de promoção da saúde da equipe.
Desafio Jovem
Assumindo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que saúde é, também, bem-estar social, o curso trabalha não apenas a definição do termo e suas implicações, mas questões como ‘O que é sujeito político?’, ‘O que é ser indígena?’ e ‘Empoderamento da juventude’.
A programação foi montada conjuntamente – DSEI e Centro de Inclusão Social Inaê –, adaptando para a realidade e necessidade dos povos indígenas o que já vinha sendo desenvolvido pelo Centro de Inclusão Social Inaê, em parceria com o Instituto Coca-Cola desde 2010.
Desta adaptação nasceu o ‘Desafio Jovem’, uma ação psicossocial de responsabilidade do DSEI, que deve trabalhar o fortalecimento da identidade étnica, promoção da saúde, protagonismo juvenil, responsabilidade comunitária e empreendimento social. Essa é a próxima etapa do curso, que deverá acontecer até o mês de junho.
Leandro Antônio dos Santos, um dos jovens que participou do curso, lembra que não havia muitas perspectivas para ele e seus parentes, mas que o curso mudou seu olhar. “Terminamos o ensino médio e não temos nada pra fazer. Estamos muito felizes com essa oportunidade”, conta.
Aos 22 anos, Leandro é agente administrativo em uma escola da região e acredita que o curso foi muito produtivo e aprimorou suas habilidades e formação profissional. “Pretendo um dia sair da minha aldeia e trabalhar em outras coisas. A perspectiva, não só minha, mas de todos que participaram, é de crescimento”.
Para além da realidade indígena, o curso tem ainda uma última etapa para aqueles que já completaram o ensino médio ou estão cursando seu último ano: Logística. A metodologia de ensino é interativa e tecnológica, utilizando jogos online competitivos, bem como workshops e rodas de conversa com gerentes de empresas multinacionais..
Expectativas futuras
Como o curso necessita de uma estrutura tecnológica robusta, é preciso que ele aconteça na capital, Maceió, com mais recursos disponíveis. A Aldeia Wassu Cocal, a maior e mais próxima, foi escolhida como projeto piloto. Mas jovens de outras aldeias já estão procurando e estão, todos, ansiosos com o futuro.
“Semana que vem teremos uma reunião com o DSEI para avisos e preparação da próxima etapa. Sei de muitos jovens levando o certificado do curso para o mercado de trabalho. Imagina com mais qualificação? Estamos bastante ansiosos”, acrescenta Leandro.
Nesta primeira turma, a demanda foi espontânea e sem desistências. Nas próximas, um processo seletivo deverá ser empregado, pois já são 50 na fila de espera para apenas 25 vagas. Ana Pereira afirma que o principal critério é a disponibilidade para o aprendizado e ter concluído o ensino fundamental. Para a última etapa (Logística), porém, os candidatos devem ter concluído o nível médio também. “Enquanto houver o Coletivo, teremos vinte e cinco vagas por ciclo”, assegura a assistente social.
Por Déborah Proença
Fotos: Arquivo DSEI Alagoas Sergipe