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Saúde Indígena
Reforma e construção de unidades de saúde vão fortalecer assistência à etnia Potiguara
O corpo franzino e as marcas de uma vida prestes a completar 90 anos podem até dar a dona Terezinha da Conceição a aparência de uma pessoa frágil. No entanto, a potiguara moradora da aldeia Grupiúna dos Cândidos, em Marcação (PB), ainda mantém a rotina diária de trabalho na roça, plantando feijão, milho, mandioca e outras culturas comuns da região. É ali, onde nasceu e permanece até hoje, que dona Terezinha verá ser construído um posto de saúde para a comunidade que reúne cerca de 70 indígenas. "Essa notícia é a melhor possível", afirma, com a vivência de quem perdeu 10 filhos, dos 15 que nasceram. "A maioria morreu antes de completar um ou dois anos. As coisas sempre foram bem difíceis aqui", comenta Terezinha. A dificuldade a que se refere é o que motivou o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Potiguara a incluir em seu planejamento a construção de uma pequena unidade de saúde naquela aldeia.
Da sede do município à comunidade, o percurso é de pouco mais de 20 quilômetros. "No entanto, a depender da época do ano, o tempo de trajeto pode levar até uma hora e meia ou duas horas; é o acesso mais difícil nessa região. Por isso, construiremos um espaço para que as equipes de saúde façam de forma mais adequada o atendimento aos indígenas, o que hoje ocorre numa pequena paróquia", explica Adriano Andrade, coordenador do DSEI Potiguara. A construção da unidade, que deverá ser licitada nos próximos meses, ilustra o volume de investimentos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para reforçar a assistência aos mais de 17 mil indígenas que vivem na área de abrangência do DSEI Potiguara, nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. "Cerca de R$ 2 milhões serão investidos na reforma de todas as unidades de saúde e na construção de outras", acrescenta o coordenador distrital.
Postos de saúde e polos base que serão reformados em aldeias nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição, na Paraíba, foram visitados pelo secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza. Nesta semana, durante dois dias de agenda, Alves também conversou com equipes e ouviu as demandas de profissionais e da população. "Nosso compromisso é fortalecer cada vez mais a atenção primária aos povos indígenas. A sociedade brasileira tem uma dívida enorme com essas populações", destaca.
AMPLIAÇÃO
Na aldeia Forte, na Baía da Traição, o secretário inspecionou os trabalhos de reforma e ampliação do Polo Base Cacique Daniel Santana, hoje uma das principais obras do DSEI Potiguara, com investimentos da ordem de R$ 540 mil. "Ampliaremos o laboratório de análises clínicas, que passará a oferecer quase todos os exames de atenção básica. A comunidade terá à disposição equipamentos de ponta, itens que não se encontram disponíveis nem em alguns hospitais da capital, por exemplo", reforça Adriano Andrade.
O coordenador também destaca que a ampliação vai permitir implantar um laboratório para análise da água coletada em aldeias, serviço que reforçará o trabalho de monitoramento já feito pelas equipes. "A qualidade da água é fator decisivo para a saúde. Todos os meses fazemos coleta e o material é analisado numa unidade móvel da Funasa [Fundação Nacional de Saúde], parceira nesta iniciativa. Depois da reforma, as análises vão passar a ser feitas em nosso laboratório", pontua.
CONGRESSO
Ainda na Paraíba, em João Pessoa, o secretário Antônio Alves participou da abertura do 3º Congresso Norte Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde, na noite desta terça-feira (9). Até o final da semana, durante o encontro, gestores municipais e equipes também vão debater experiências exitosas na atenção básica, inclusive na saúde indígena.
"Os municípios têm papel fundamental na complementaridade das ações e serviços que a Sesai oferece aos indígenas. Além do mais, é justamente nas regiões Norte e Nordeste que está a maior parte dos povos - cerca de 70%", frisa Antônio Alves.
Por Bruno Monteiro
Fotos: Alejandro Zambrana