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Saúde Indígena
Profissionais recebem capacitação para atendimento a povos isolados
A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) está iniciando uma oficina de capacitação sobre atenção à saúde dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (PIIRC), no Vale do Javari, no Amazonas. A meta é contribuir para a qualificação dos profissionais e das ações de saúde no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) daquela região. A primeira etapa do curso foi iniciada nesta segunda-feira (29), no Hospital de Guarnição de Tabatinga. Cerca de 50 profissionais participam da atividade.
“Nós temos, hoje, um grupo nacionalmente constituído com indigenistas e instituições parceiras, como a Universidade Federal de São Paulo, para preparar as equipes dos DSEIs no contato aos povos isolados e de recente contato”, afirma Danielle Cavalcante, diretora de Atenção à Saúde Indígena, do Ministério da Saúde.
Ela explica que a maior diferença no atendimento a esses povos diz respeito à constante situação de vulnerabilidade deles, decorrente da ausência de contato com comunidades não-indígenas. “Por isso, as primeiras ações são de identificação e imunização. Com esse trabalho nós estamos conseguindo romper com o histórico de mortes por contato desses povos, o que culminava com sua extinção. No território Xinane (AC), por exemplo, tivemos um nascimento e não registramos nenhum óbito na etnia Ashaninka, desde 2013, quando o grupo nos contatou”, comenta.
Este primeiro momento da oficina de capacitação visa aprimorar o conhecimento referente às políticas públicas direcionadas aos PIIRC e refletir sobre as práticas indigenistas e antropológicas em interfaces com a sua saúde. Os participantes também vão discutir os princípios, diretrizes e estratégias de atenção à saúde dos povos isolados, discutindo o papel das diferentes instituições no Plano de Ação e Contingência para situações de quebra de isolamento.
“A intenção foi abranger as instituições de referência e que são necessárias à execução do plano de contingência”, explica Maria Angélica Fontão, chefe da Divisão de Programas e Projetos da Saúde Indígena, do Departamento de Atenção à Saúde Indígena.
OUTRAS ETAPAS
A segunda etapa da capacitação está marcada para a semana de 1º a 4 de julho, no município de Atalaia do Norte (AM). Na ocasião serão capacitados os profissionais do DSEI Vale do Javari, membros do Condisi e Secretaria Municipal de Saúde de Atalaia do Norte. A qualificação dos serviços de atenção à saúde naquela região, com foco na população do entorno dos isolados, é um dos temas do encontro. Ademais, as discussões girarão em torno da avaliação da implementação do Plano de Malária e dos indicadores e ações para outras doenças infectocontagiosas.
A terceira e última fase é prática e in loco. Ela acontecerá entre os dias 5 e 9 de julho, na Base da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para cuidado e contato com os Korubo – a etnia do grupo de recente contato no Vale do Javari. “Aquela é a região com maior concentração de povos indígenas isolados no mundo. Estima-se que a maioria deles seja da etnia Korubo”, afirma Maria Angélica.
OS KORUBO
Também conhecidos como ‘índios caceteiros’, os primeiros indígenas da etnia Korubo foram contatados em 1996. Porém, a maior parte do povo – cerca de 200 pessoas – ainda vive isolada, na região de confluência entre os rios Ituí e Itaquarí. Movimentam-se também entre os rios Coari e Branco, sempre visitando alteias da etnia Matis.
Em setembro de 2014, um novo grupo isolado de korubos, com um homem, uma mulher e quatro crianças, estabeleceu contato, desta vez com indígenas Kanamari, no rio Itaquarí.
Atualmente, o grupo vive na Base de Proteção Etnoambiental Ituí-Itaquarí da Funai, mantém diálogo com servidores da Fundação e recebe atendimento médico preventivo na própria aldeia, por profissionais da Secretaria Especial de Saúde Indígena.
“O atendimento aos korubos na Base da Funai vem sendo feito pela equipe do DSEI Vale do Javari – médico, enfermeiro e técnico de enfermagem . O mesmo ocorre com as etnias Ashaninka, no Acre, e Awaguajá, no Maranhão”, pontua Danielle.
Por Déborah Proença