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Saúde Indígena
Ministério da Saúde reafirma compromisso de eliminar a oncocercose em território Yanomami
Em Brasília, equipes do Ministério da Saúde e do Programa para Eliminação da Oncocercose nas Américas (OEPA) reuniram-se com o objetivo de discutir estratégias que possam ampliar o controle e até eliminar a oncocercose na região Yanomami, no Amazonas, na região de fronteira com a Venezuela. O encontro, realizado nesta quarta-feira (1º), reuniu gestores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), da Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde (Aisa) e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS).
A oncocercose, também conhecida como ‘cegueira dos rios’, é uma infecção parasitária que ocorre após a picada de um mosquito encontrado nas proximidades de rios de água corrente forte. As lesões provocadas pela infecção podem evoluir para visão subnormal ou cegueira irreversível, assim como para doenças dermatológicas desfigurantes. A doença é endêmica na África Central, Oriental e Ocidental, em partes da América Latina e no Iêmen, no Oriente Médio.
O secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, acredita que eliminar a oncocercose é um grande desafio e uma meta ambiciosa, porém factível. “Temos que continuar essa parceria, tão importante, entre Ministério da Saúde e OEPA. Hoje, nosso Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami está muito mais organizado e nós temos cerca de 90% de cobertura em quase todas as regiões. Por isso, tenho certeza que somos capazes de alcançar essa meta”, garante.
Para o secretário de Vigilância em Saúde, Antônio Carlos Figueiredo Nardi, o importante é agir em parceria e adotar procedimentos únicos de tratamento. “Temos que unificar nossas atuações e protocolos pra que não tenhamos nenhum tipo de divergência de tratamento. Efetividade e resultado são alcançados com um protocolo único”, pontua.
Durante o encontro, que contou com a presença do diretor do Programa para Eliminação da Oncocercose nas Américas, Mauricio Sauerbrey, foi repactuado o compromisso do Ministério da Saúde com a ampliação e resolutividade do acesso aos serviços de saúde pelos povos yanomamis, seja em território brasileiro ou venezuelano.
“Existe um plano binacional em torno da oncocercose entre Brasil e Venezuela que alcança as aldeias na faixa de fronteira, de difícil acesso por ambos os países”, salienta Edgard Dias Magalhães, da Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde.
Ele lembra que o programa brasileiro tem tido um alcance significativamente positivo, com sucesso na administração das quatro rondas de tratamento em quase 100% da população afetada. Com o plano binacional, foi oferecida ao governo venezuelano a utilização dos serviços brasileiros de saúde na faixa de fronteira. “O Plano inclui a possibilidade de conformar equipes mistas de brasileiros e venezuelanos, em um mecanismo de transferência de know-how. Com isso queremos, também, demonstrar que é possível esse modelo de atuação não só na eliminação da oncocercose, mas também na saúde como um todo para a população”.
CONTROLE SOCIAL
Danielle Cavalcante, diretora do Departamento de Atenção à Saúde Indígena, da Sesai, ressalta, porém, que não basta a atuação dos governos e o apoio de organizações como a OEPA. Segundo ela, o controle social deve estar diretamente envolvido no planejamento das ações.
“Sem a participação da comunidade percebemos que a dificuldade de aceitação e evolução no tratamento é maior. Não adianta colocarmos um profissional externo, que não conhece e domina o território, sem acesso aos indígenas. Caso não haja uma compreensão por parte das lideranças da importância de nos apoiarem nas ações de tratamento, não vamos conseguir”, pondera Danielle.
Ela conta que um grupo com membros da Sesai e de organizações Yanomami vem se reunindo para sensibilizar indígenas venezuelanos e levar informações sobre o tratamento para o outro lado da fronteira. “Se não conseguirmos que o controle social nos apoie, vamos continuar essa luta sem uma segurança do paciente e sem adesão, que é o nosso grande desafio”.
Vera Bacelar, coordenadora geral de Atenção Primária à Saúde Indígena, lembra que não há fronteiras para o trabalho. “Como eles estão sempre em movimento, em uma região de difícil acesso, estamos trabalhando muito para capacitar os agentes indígenas de saúde, tanto brasileiros quanto venezuelanos”.
Além do compromisso de eliminação da oncocercose na região Yanomami, pactuou-se um fluxo de informações, com dados coletados, organizados, tratados e disponibilizados mensalmente pelo Ministério da Saúde para subsidiar as ações no território de maneira ágil, assertiva e imediata.
PRÉ-ELIMINAÇÃO
Nas Américas, segundo Vera Bacelar, a doença está em fase de pré-eliminação e restringe-se à área indígena habitada por povos yanomamis, que abrange as fronteiras amazônicas do Brasil e Venezuela.
O Brasil é um dos seis países signatários do Programa para Eliminação da Oncocercose das Américas, criado em 1991 para prestar assistência técnica e financeira aos órgãos oficiais de saúde dos países participantes - México, Guatemala, Equador, Colômbia, Venezuela e Brasil. O objetivo é o desenvolvimento de programas nacionais para eliminação da doença nas Américas.
O tratamento preconizado pela OEPA consiste em quatro doses do medicamento Mectizan e já obteve sucesso em 11 dos 13 focos regionais, restando apenas o Sul da Venezuela e o Amazonas brasileiro.
Além do compromisso de eliminação da oncocercose na região Yanomami, pactuou-se um fluxo de informações, com dados coletados, organizados, tratados e disponibilizados mensalmente pelo Ministério da Saúde para subsidiar as ações no território de maneira ágil, assertiva e imediata.
Por Déborah Proença
Fotos: Alejandro Zambrana / Sesai-MS