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Saúde Indígena
Humanização e respeito norteiam trabalho na Casai do DF
Ambiente acolhedor e adaptado às necessidades físicas e culturais dos indígenas, num amplo casarão localizado no entorno da capital federal. São 14 alojamentos para abrigar pacientes e acompanhantes, pessoas que deixaram suas aldeias e o convívio com a família em busca de tratamento e recuperação. A Casa de Saúde Indígena do Distrito Federal (Casai-DF) é um espaço de referência onde humanização e respeito norteiam o trabalho das equipes. A unidade mantém todos os seus serviços funcionando 24h por dia, sete dias por semana.
José André da Silva é da etnia Wapixana e veio da aldeia Wapun, em Roraima, para acompanhar o tratamento de sua filha Andreia, que aos sete anos já é uma vencedora. “Nem os médicos acreditam quando veem ela assim (sic); chegou quase morta e agora está ficando boa”, comenta.
Andreia é um dos muitos exemplos em que o carinho, a dedicação e a proatividade são fundamentais na recuperação do paciente. “Eu anoto tudo. Fiz um calendário com todas as coisas que acontecem aqui para eu explicar aos agentes de saúde no retorno à aldeia”, relata o pai. Ele acredita que isso ajudará os agentes indígenas de saúde (AIS) e outros profissionais da equipe a melhorar o atendimento na comunidade e a entenderem como funciona a média e alta complexidade.
Todos os pacientes da Casai-DF são acompanhados por uma equipe multidisciplinar composta por médico, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionista, pedagogo, psicólogo, assistente social e farmacêutico. Sejam consultas de rotina no Hospital Universitário de Brasília (HUB), cirurgias no Hospital de Base ou tratamentos oncológicos no Hospital da Criança de Brasília (HCB), cada paciente tem acompanhamento integral da equipe em seus tratamentos.
PROTAGONISMO
O enfermeiro chefe da Casa de Saúde Indígena, Marcos Aurélio Silva, conta que a equipe percebeu a necessidade de incentivar o protagonismo dos pacientes e acompanhantes durante os tratamentos, na medida em que se certificam de que os indígenas compreendem o processo pelo qual estão vivendo.
“Já melhorou muito, mas ainda temos dificuldade com a referência. Então, passamos a conversar com os pacientes e acompanhantes para que eles fiquem ativos no processo saúde-doença. Assim, quando voltarem à aldeia, saberem o quê e de quem cobrar e o que deve ser feito, dando continuidade ao tratamento”, afirma o enfermeiro.
Lázaro Tsererõno Titomowe, Xavante da aldeia Nova Diamantina, é um caso exitoso de regulação e participação ativa do paciente. “Me machuquei (sic) numa corrida de toras, em 2012, e vim pra Casai em setembro de 2014. Em junho voltei para minha aldeia na ocasião do nascimento do meu filho e fui muito bem cuidado. Passei para eles tudo o que aprendi aqui”.
O coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante, Claudio Rodrigues, acredita que a busca pelo modelo ideal de atenção à saúde é o grande anseio de todo gestor e trabalhador da saúde. “É nosso compromisso e dedicação diária avançar cada vez mais em prol do alinhamento da comunicação entre o Distrito e as referências de saúde. Melhorar o fluxo dos encaminhamentos, para que ocorram de forma efetiva e completa, é imprescindível”.
Claudio pontua que o DSEI Xavante sistematicamente realiza reuniões entre as equipes envolvidas no acompanhamento de pacientes referenciados. “A Casai-DF tem nos auxiliado muito neste processo [de referência e contrarreferência], com profissionais atenciosos sempre nos atendendo com muita presteza e dispostos a contribuir com o for possível”, destaca.
ROTINA
O processo de regulação e o perfil dos pacientes atendidos também foi aprimorado a partir da implementação do Programa Mais Médicos, é o que atestam as equipes da Casai. “Percebemos um grande avanço no encaminhamento de pacientes, que agora apresentam patologias novas, não agudas. Essa articulação é toda feita pelos profissionais da Casai-DF junto à Rede de Atenção à Saúde, tanto do Governo do Distrito Federal quanto de outros estabelecimentos da região”, explica Jaime Enrique Valencia, um médico de família colombiano que trabalha na Saúde Indígena brasileira desde o início do ano 2000 e na Casai-DF desde 2009.
A política rígida de respeito à interculturalidade dos povos é outro importante componente da Casai-DF. Por isso, a rotina dos profissionais vai muito além do acompanhamento às consultas, exames e procedimentos, visitas diárias a pacientes hospitalizados e tratamento supervisionado, por exemplo. Semanalmente, a unidade promove oficinas de artesanato e atividades educativas individuais e em grupo, sempre no esforço de minimizar a dor e o sofrimento de pacientes e seus acompanhantes.
Por Déborah Proença
Fotos: Alejandro Zambrana / Sesai-MS