Notícias
MAIS MÉDICOS
Neto de João Goulart atua pelo Mais Médicos na Rocinha
Foto: Mais Médicos
O médico João Marcelo Viera Goulart, de 26 anos, do Mais Médicos, atua na Rocinha, maior favela do Brasil, situada na Zona Sul do Rio de Janeiro. Um detalhe, no entanto, chama atenção na história de João: ele é um dos oito netos do ex-presidente João Goulart (Jango), que governou o Brasil entre 1961 e 1964, quando foi deposto pelo golpe militar.
A história do profissional com a saúde pública começou alguns anos atrás, quando decidiu se mudar para Cuba para aprender, como ele mesmo diz, “a melhor medicina do mundo”. Nascido em Porto Alegre (RS) e criado no Rio de Janeiro, foi estudar na capital da ilha caribenha, Havana. “Minha ida foi bem planejada. Sempre tive vontade de conhecer a saúde daquele país. Durante a faculdade, tinha o sonho de me formar e vir logo trabalhar no Brasil como médico de família”, afirma João, que conseguiu concretizar seu sonho. A identificação com o Mais Médicos foi imediata. Logo no início programa, em outubro de 2013, fez a inscrição e voltou para a terra natal como intercambista individual. Como o diploma era cubano, João fez a revalidação aqui no Brasil.
A medicina de família como propósito
João é ardoroso defensor da Medicina Geral de Família e Comunidade (MGFC), uma das bases do Mais Médicos. Esse perfil, no entanto, ainda não é tão comum entre os estudantes de medicina e os recém-formados no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, anualmente, cerca de 15 mil estudantes concluem a graduação em medicina e aproximadamente 400 buscam se especializar em MGFC. Estima-se que haja cerca de cinco mil profissionais com essa especialidade em atuação no país, o que equivale a algo em torno de 1% dos médicos brasileiros. Em países que começaram a estimular a difusão dessa especialidade há mais tempo, como Espanha ou Austrália, essa proporção se aproxima dos 30%.
O médico, por sua vez, se mostra convicto na defesa da importância da atenção básica e relevância de buscar uma formação médica mais humanizada. “É preciso ir mais a fundo na formação médica. O modelo de ensino tem que proporcionar o contato do aluno com a atenção básica. Só quando se tem esse contato é que se adquire o olhar voltados para as pessoas”, diz o neto de Jango.
A experiência na Rocinha
João atua no Centro Municipal de Saúde Albert Sabin, localizado na parte alta da Rocinha. Com 100 mil habitantes, a comunidade tem 100% de cobertura da atenção básica, atendimento que é garantido por três unidades de saúde e 25 equipes de Saúde da Família. No Albert Sabin, atuam seis equipes, entre as quais está a de João, que é responsável pelo atendimento aos moradores do Beco 199, com uma população estimada em cerca de 3,5 mil pessoas.
Em média, o médico realiza 40 consultas por dia. Às terças-feiras pela manhã, faz visitas domiciliares. “Geralmente, são pacientes acamados ou domiciliados (quando têm muita dificuldade para sair de casa)”, conta João. Ele explica que muitos velhinhos estão domiciliados porque vivem no alto do morro, bem lá em cima, e o acesso às residências, muitas vezes, se dá por meio de escadas de barro ou de concreto praticamente verticais, sem corrimão, ou por rampas ou valas, o que impede que esses idosos consigam se locomover para qualquer outro lugar. “Nós conseguimos chegar lá porque a saúde está presente nesses lugares. Temos um bom funcionamento junto à comunidade, cada equipe conhece bem a sua microárea e sabe exatamente quem está precisando mais no momento de uma visita domiciliar”, conta.
O enfrentamento da tuberculose
Na Rocinha, como ocorre em áreas de grande vulnerabilidade social, os problemas de saúde são variados. Entre os adultos e pacientes de terceira idade, destacam-se as doenças crônicas, como a diabetes e a hipertensão. Problemas com controle de natalidade e gravidez na adolescência são frequentes. As crianças apresentam alto índice de infecção respiratória aguda provocada por diferentes fatores.
Na comunidade, porém, uma característica marcante predomina: o ambiente é muito úmido. Como foram construídos de forma desordenada, os barracos, casas e prédios têm condições inadequadas de circulação de ar e luminosidade. O resultado é uma maior incidência de casos de tuberculose no local. “O trabalho com o programa de tuberculose na atenção primária dentro da Rocinha é muito intenso. Temos o apoio de especialistas em pneumologia e do núcleo de apoio à saúde da família, que dão respaldo pra gente sempre que temos uma paciente mais complicado”, explica João.