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Saúde Indígena
Sistemas de abastecimento levam mais qualidade de vida ao povo Xavante
A pequena população da aldeia Pedra Branca, em Água Boa, no Mato Grosso, deixou para trás o passado de buscar água num pequeno manancial distante aproximadamente seis quilômetros de suas casas. Novos sistemas de abastecimento implantados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante passaram a garantir mais qualidade de vida àquela e a outras 32 comunidades indígenas que vivem no Mato Grosso. O investimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) nesta iniciativa é de quase R$ 10 milhões e vai assegurar a entrega de mais 16 sistemas que começarão a ser construídos esta semana.
"Essa aldeia já foi abandonada diversas vezes, justamente pela dificuldade de acesso à água. Por isso, a importância da ação não se resume somente à garantia de um bem que é indispensável à saúde. Ela acaba fixando famílias numa determinada localidade, o que também é muito bom", comenta o conselheiro distrital indígena Crisanto Tseremey'wá, que tem um motivo ainda maior para se alegrar por este benefício às comunidades Xavante.
"Na época de transição [das ações e serviços de saúde] da Funasa para a Sesai, liderei o movimento para que a questões de saneamento ambiental estivessem diretamente vinculadas à Saúde. Não dá para pensar em atenção básica dissociada da oferta de água. Sempre tive consciência do que defendi, porém, hoje, sendo testemunha dessas obras entregues ao meu povo, tudo ganha outra dimensão. Fico feliz por perceber que valeu a pena insistir num sonho", afirma emocionado.
Distante aproximadamente 300 quilômetros de Pedra Branca, a comunidade Rio Kuluene, que vive na reserva indígena Couto Magalhães, em Campinápolis, também foi contemplada com um sistema de abastecimento. Um poço com profundidade de 120 metros e duas placas solares que fazem funcionar a bomba, já que a aldeia não dispõe de energia elétrica, estão assegurando uma vazão de 3,4 metros cúbicos por segundo - muito mais que o suficiente para abastecer a pequena aldeia onde vivem cerca de 80 indígenas.
O cacique André Serewápre comemora o benefício e fala com muita consciência sobre o uso racional da água. "A gente buscava num córrego logo ali [distante menos de um quilômetro da aldeia] e transportava em bacias, baldes e garrafas. Agora, até o banho das crianças é nas torneiras, mas todos obedecem a hora de usar. Estamos muito felizes", afirma. O horário a que se refere o cacique foi estipulado para racionalizar o uso da água: às 6h e ao entardecer, banho; às oito da manhã as mulheres lavam panelas e demais utensílios; as roupas são lavadas às 10h.
MAIS INVESTIMENTOS
Enquanto percorre boa parte das aldeias para inaugurar os novos sistemas, o coordenador do DSEI Xavante, Cláudio Rodrigues, também checa cada detalhe das obras. "O investimento é alto e nós fazemos tudo com muito empenho, pois sabemos da importância que é garantir água de qualidade a essas famílias. Muitas dependiam de mananciais que costumam secar na época de estiagem ou ficam bastante sujos de terra no período de chuvas. Outras tinham poços artesianos muito antigos, às vezes sem revestimento e, consequentemente, com água inadequada para consumo", explica.
"Assim, além dos 33 sistemas já entregues, iniciaremos esta semana a construção de outros 16, perfazendo um investimento total de quase R$ 10 milhões", ressalta Cláudio. Ele informa, ainda, que mais 23 projetos de sistemas simplificados de abastecimento foram encaminhados ao Departamento de Saneamento e Edificações de Saúde Indígena (DSESI), da Sesai. "Com a autorização para construir esses outros, serão mais R$ 5,7 milhões investidos na saúde de famílias Xavante", afirma entusiasmado.
O coordenador também destaca que a qualidade da água é objeto permanente de fiscalização por parte dos técnicos de saneamento do DSEI "Iniciamos a implantação de mais três laboratórios para suporte a esse trabalho: em Água Boa e Campinápolis, e na sede do Distrito, em Barra do Garças", frisa. Soma-se a esse esforço a atuação dos agentes indígenas de saneamento nas comunidades - são 149 profissionais trabalhando em todo o território coberto pelo DSEI.
PROJEÇÃO
Os novos sistemas são planejados para atender a uma demanda ainda maior que o volume atual de água utilizado pela comunidade. "A partir do momento em que recebemos o pedido de uma aldeia, nossas equipes vão a campo e analisam uma série de questões determinantes à elaboração do projeto. As taxas de natalidade e mortalidade, por exemplo, nos dão uma projeção de crescimento daquela população. Em média, os sistemas são desenvolvidos levando em conta a estimativa para um período de dez anos à frente", pontua Heronias Roberto Linhares, chefe do Serviço de Edificações e Saneamento Ambiental Indígena (Sesani), do DSEI Xavante.
"Como o volume de demandas é muito grande, depois de toda a análise técnica a gente sempre procura o Condisi [Conselho Distrital de Saúde Indígena] para definir quais localidades serão priorizadas. O Controle Social tem um importante papel nesse processo", finaliza Linhares.
Por Bruno Monteiro
Fotos: Alejandro Zambrana / Sesai-MS