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Saúde Indígena
Povos Yanomamis da Amazônia têm novo mapa georreferenciado
Em Brasília (DF), no último dia 26, o secretário Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves, recebeu o Mapa Território e Comunidades Yanomami Brasil-Venezuela, um mapa binacional contendo informações básicas necessárias para subsidiar políticas públicas dos dois países. O trabalho foi desenvolvido pela Hutukara Associação Yanomami e o Instituto Socioambiental (ISA), que entregaram o Mapa em primeira mão para o secretário da Sesai.
“Estamos querendo ajudar os nossos vizinhos. Depois entregaremos esse mapa para o governo venezuelano”, conta Dário Yanomami.
Feliz com o resultado do mapa, Alves salientou a importância do trabalho na organização de estratégias de ação em áreas de fronteira e de difícil acesso.
Além das duas instituições brasileiras, a Horonami Organização Yanomami (HOY), da Venezuela, também foi parceira no projeto, que demorou dois anos para ser concluído e contou com dados georreferenciados fornecidos pela Sesai para retratar a situação das comunidades yanomamis brasileiras e venezuelanas.
Com duas edições bilíngues (português e yanomami – idioma yanomami mais falado no Brasil – e espanhol e xamatari – o mais falado na Venezuela), o mapa traz informações sobre educação, transporte, comunicação e saúde.
“Temos o número de comunidades e a população nos dois lados da fronteira, além de informações sobre municípios, escolas indígenas, postos de saúde, radiofonia, pontos de internet, pistas de pouso, heliporto, estrutura militar e missões religiosas”, pontua o representante da ISA, Marcos Wesley de Oliveira.
O Mapa e o combate à Oncocercose
O mapa binacional identifica que, no Brasil, existem 72 postos de saúde e 230 Agentes Indígenas de Saúde (AIS) para 258 comunidades, enquanto a Venezuela tem 29 postos e 30 AIS assistindo 379 comunidades yanomamis – um grande desafio para o Subsistema de Saúde Indígena (SasiSUS) brasileiro, pois, como diz o pajé Davi Kopenawa Yanomami, “para nós não tem fronteira”.
No combate à oncocercose (uma doença parasitária crônica transmitida por picada de mosquito), por exemplo, comunidades do país vizinho vêm para o Brasil à procura de atendimento já que as ações de governo venezuelanas são pontuais, tal qual expedições sem uma rotina de trabalho definida como no Brasil. “O atendimento lá não é, realmente, para todo mundo, como é no lado brasileiro”, afirma o representante do ISA.
“Nas expedições [de oncocercose] que tiveram lá houve uma sensibilização sobre a importância disso se tornar uma ação de rotina. E a primeira questão colocada foi que nenhum dos dois países conhece, em detalhe, o mapa da região de fronteira”, pondera Vera Bacelar, técnica da Diretoria de Atenção à Saúde (DASI), da Sesai.
Danielle Cavalcante, diretora do DASI, lembra que o trabalho em conjunto das comunidades yanomamis no combate à oncocercose é fundamental. “A gente depende muito dessa relação mais próxima. A intervenção tem que ser lá e cá, como uma pró-ação dos indígenas”.
A ideia das ações binacionais não se restringe somente à oncocercose. “Essa é uma forma de o Brasil ajudar a Venezuela com ações de promoção de saúde integral, o que do lado da Venezuela não se faz. As expedições para oncocercose são estritamente para oncocercose”, afirma Rafael França, representante da Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde (AISA/MS).
Durante o encontro, o secretário da Sesai se comprometeu a qualificar as ações de saúde para oncocercose no lado brasileiro enquanto a relação binacional não se concretiza. “A proposta que temos é melhorar as ações no lado brasileiro, ir ao Condisi fazer a discussão e nosso mapeamento de área para qualificar o processo de trabalho”.
Também estiveram presentes Ronaldo Scholte, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS); Bianca Moura, assessora para o Controle Social da Sesai; Edgard Magalhães, da AISA/MS; e Alberto Góes, presidente do Conselho Distrital de Saúde Yanomami.
Texto e Fotos: Déborah Proença