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Luís Oliveira e o ofício de capturar almas e imagens
Foi a extinção da Central de Medicamentos (CEME) que remanejou o servidor Luís Carlos Nunes Oliveira para o Ministério da Saúde em 1997. Técnico em edificações e artista plástico, Luís trabalhou com programação visual na Coordenação Geral de Informação e Documentação (CGDI), na época em que ainda se usava prancheta, normógrafo e esquadro. Em fevereiro de 1999, o Gabinete do Ministro precisou de um servidor para assumir a função de fotógrafo do então ministro José Serra. “Sempre me interessei por fotografia. Assim como arquitetura e programação visual, a fotografia trabalha com a organização de espaços. São áreas interligadas, cada uma com sua especificidade técnica”, compara.
Para trabalhar na área Luís fez os cursos de capacitação oferecidos pelo MS e acompanhou sete ministros a partir de então. Há pouco mais de um ano e meio o taguatinguense de 53 anos captura e aprisiona em belas imagens, as almas de diversos indígenas de norte a sul do Brasil. Convidado para trabalhar no Núcleo de Comunicação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Luís não pensou duas vezes e aceitou o desafio de mudar de área, mais de uma década depois de ingressar no MS. “Por meio dos DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) executamos ação de fato, então, viajamos muito. É uma oportunidade que poucas pessoas têm, de estar realizando ações de saúde nas aldeias, acompanhar debate dos indígenas. É um público muito rico culturalmente”.
Ele procura retratar o cotidiano no qual eles vivem. A primeira viagem foi para registrar os 20 anos de homologação das terras Yanomami. Luis lembra que teve o rosto pintado com urucum e cita a elegância das mulheres Yanomami e as crianças, que desde cedo ajudam a cuidar dos irmãos menores. “Cada etnia tem seus costumes. Entre o povo Yanomami, é a mulher quem leva a carga pesada. O homem caminha na frente, com as flechas na mão, pronto para a defesa da família”, conta.
Luís explica que é bobagem a lenda de que os indígenas não se deixariam fotografar por medo de terem a alma roubada. “A imagem dos indígenas é muito estereotipada. Tive apenas uma experiência em que a indígena se recusou a ser fotografada com este argumento, isto não é comum entre a cultura deles. Os indígenas brasileiros são muito receptivos, alegres, muito amáveis. Se alguns não gostam de ser fotografados é porque não querem ter a imagem comercializada”, explica.
Também há um lado bem árduo e cansativo em viajar tanto. “Na Sesai, usamos todos os meios de transporte, aéreo, terrestre, fluvial. Para o evento de vacinação dos povos indígenas, fui de avião de Brasília para Manaus (AM) e de lá para Tabatinga. Depois viajei 6h entre Tabatinga e Santa Rosa dentro de uma voadeira - uma pequena embarcação movida a motor. Foi tenso. Mas é um aprendizado fantástico”.
Movido por estas viagens e com intuito de mostrar a natureza, Luís montou em Olhos D´Água (GO) a exposição fotográfica Viver. São 17 trabalhos, entre imagens dos rios Araguaia e Solimões, Povo Aconã, Yanomami e a fauna e flora do cerrado. “Eu associei minhas fotografias à frase do cacique do Povo Xucuru de Pernambuco “Tá no querer da natureza, a natureza quem disse, e a gente não pode negar”. O resultado deu muito certo, ficou dentro da sabedoria indígena de viver à natureza”, observa. Ele acrescenta que tenta viver esta filosofia. “Fazemos parte da natureza. Não somos separados dela. Eles me ensinaram isso. Nós trabalhamos com a exploração, eles não acumulam nem alimentos”.
Filho de uma paraibana e um gaúcho, Luis nasceu apenas oitos meses após a inauguração de Brasília, em dezembro de 1960. Viúvo e pai de um casal de filhos, ele tem uma neta de dois anos chamada Rafaela. “A paixão do vovô”, se derrete.
Por Ana Paula Ferraz
Comunicação Interna e Conteúdo Web