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Gestantes indígenas têm atendimento diferenciado em maternidade em Roraima
As 480 gestantes indígenas atendidas a cada mês no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), em Boa Vista, Roraima, recebem acolhimento especializado voltado à valorização da cultura da paciente. A maternidade é a única do país a manter uma Coordenação Indígena há mais de 16 anos. Ela é responsável por respeitar e permitir que as gestantes pratiquem os seus costumes sem oferecer riscos para si ou outras pacientes.
A Coordenação Indígena é responsável por ser elo entre paciente, maternidade e Casa do Índio (Casai). Há intérpretes de Língua Indígena à disposição dos profissionais de saúde e usuários do SUS. Além disso, a equipe desenvolve ações para valorização cultural.
O HMI conta com enfermarias com leitos e armadores de redes instalados. O dispositivo de humanização é uma forma de possibilitar conforto e familiarização, pois é dessa forma que os povos indígenas costumam dormir. Caso a paciente precise ficar internada mais tempo, os familiares podem ficar juntos com ela em uma sala preparada para acolhê-los. O costume dos indígenas é de estarem sempre juntos, algo diferente dos não-índios.
Assim aconteceu com o casal morador da comunidade indígena Ajarani, das Terras Indígena Yanomami, próximo de Caracaraí. Maria, uma jovem mãe indígena, que estava internada com o marido Santarém Yanomami e da filha pequena de dois anos de idade. O quarto individualizado na Ala das Margaridas tem camas, mas também armador de rede. A família estava comendo de acordo com os seus costumes e hábitos: pai e filha de cócoras, pés descasos, comida no centro e sorridentes. A criancinha estava nua, com uma fita preta ao redor da cintura.
Outra preocupação é na dieta e nutrição das pacientes. A equipe de nutrição e alimentação da unidade inclui na alimentação frutas conhecidas por eles, como a banana e o mingau de banana no café, além de carnes brancas, sem molho, sem sal e açúcar e sem gorduras. E dependendo da paciente é servido alimentos acompanhados de ovos e farinha com água, o famoso chibé.
A técnica de enfermagem e coordenadora Indígena no HMI há mais de 14 anos, Geralda Lima, fala quatro línguas maternas e acompanha de perto a entrada das pacientes de diversas etnias atendidas, como as tradicionais Macuxi, Wapixana e Yanomami, além de Sanumã, Yekuana, Ingarikó, Patamona, Wai wai, Xiriana e Xirixana. Ela conta que uma das funções é ser intérprete.
Além de Geralda, o setor conta com mais quatro profissionais habilidosos no trato com os indígenas. "O interprete é importante, pois muitos profissionais de saúde não falam a língua indígena, e por outro lado, os indígenas são muito tímidos. Ajudamos na hora de realizar algum procedimento, medicação ou mesmo de externar alguma necessidade da paciente", explicou.
O setor funciona de 7h às 19h, de segunda a sexta-feira. Quando há necessidade final de semana, uma equipe da Casai ou da própria unidade é acionada para dar suporte no atendimento dos médicos e enfermeiros. "Normalmente as indígenas ficam assustadas com o ambiente, têm medo de estar ali e mais ainda, sentem-se observadas pelas outras mulheres. Por serem muito fieis aos seus costumes, acreditam em Canaimé, mal olhado, entre outras coisas. O nosso papel acaba sendo também de psicólogas para acalmá-las durante o atendimento", salientou Geralda.
* Uol