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Saúde Indígena
Participação de jovens caciques na 5ª CNSI demonstra renovação do movimento indígena
Os povos indígenas, através dos seus movimentos e lideranças, têm construído a história da saúde indígena no país. A própria Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde foi criada em 2010 a partir de uma exigência dos povos indígenas feita ainda na 1ª Conferência, em 1986. Nesta 5ª CNSI, que aconteceu na semana de 2 a 6 de dezembro de 2013, os movimentos indígenas mostraram seu poder de renovação com vários caciques jovens.
“Apesar de não termos a estatística do perfil etário dos participantes, tenho enxergado um grande número de jovens. A maioria da conferência é constituída por eles. Considero uma renovação muito grande”, opinou o secretário da Sesai Antônio Alves. Para ele, esses jovens têm se mostrado bastante preparados politicamente para lutar por seus direitos.
A presidenta do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro de Souza, também percebeu essa renovação. “É muito positivo vermos cada vez mais mulheres, cada vez mais jovens assumindo lideranças. Esses jovens são exemplo de pertencimento da juventude em continuar a luta do seu povo", disse Maria.
Ainda com 24 anos, o cacique João Antônio Tapajós é coordenador do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns. O Conselho é formado por 12 povos indígenas de 54 aldeias com cerca de 7.500 pessoas em Santarém, no Pará. “A cobrança é muito grande em cima da gente. Por ser jovem, geramos expectativa nos mais velhos. Mas hoje sou respeitado até pelos anciões. Eles que me elegeram como liderança”, explica João. Ele conta que hoje já encara com naturalidade, mas no começo foi bem complicado.
“A liderança tem que ter certa postura. Nem sempre a postura de um jovem condiz com uma liderança. Tem que ser compreensivo, respeitar. Não pode ser autoritário com os parentes, tem que entender e ouvir os mais velhos e, principalmente, o conselho dos pajés”, narra o cacique. João Tapajós começou no movimento indígena desde cedo, seu pai era cacique e sua militância foi instruída pelos mais velhos. “Os mais velhos são nossos espelhos e apoios. Observo como eles tratam as pessoas, como eles lideram”, comenta.
Outra forte liderança é Kleber Karipuna, cacique do Povo Karipuna do estado do Amapá. Hoje com 33 anos, Kleber começou a acompanhar as discussões e debates aos 16 anos. Aos 26, foi eleito presidente da Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque. “Quando perguntaram se tinha candidato coloquei meu nome à disposição e consegui ser eleito pelos caciques e pela maioria, isso me motivou mais ainda”, explica o cacique. Apesar do lugar de liderança, ele tem sempre que dialogar com os mais velhos. “Nós mais jovens estamos ganhando espaço, mas sem tirar o mérito e o respeito às nossas lideranças mais velhas”, disse.
No momento que o jovem indígena vira uma liderança acaba gerando certa desconfiança dos mais velhos. Desconfiança que, segundo Kleber, é vencida aos poucos. “Você começa sendo questionado e depois passa a ser uma referência dentro da comunidade”, comenta o indígena.
Outro problema para administrar é a ansiedade e a pressa comuns nos jovens. “Quando o jovem começa nessa luta tem a gana de querer achar uma solução para aquele problema da forma como ele pensa. Daí você ouve algumas lideranças mais velhas e percebe que a solução que pensava ser boa poderia até trazer mais problemas para a comunidade. E isso a gente aprende com o tempo”, afirma Kleber Kapiruna.
Pajé de 68 anos, o índio Potiguara da Paraíba, Francisco José dos Santos, diz que essa renovação no movimento interessa muito aos mais velhos e eles estimulam essa participação. “O papel dos mais velhos é sentar com os mais jovens e explicar o que for preciso para eles se prepararem para o futuro. Eles que vão cuidar do direito dos filhos deles, dos netos deles e de outros que vão vir”, disse a liderança espiritual dos Potiguaras.
5ª CNSI
Com o tema “Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e SUS: Direito, Acesso, Diversidade e Atenção Diferenciada”, a 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (5ª CNSI) mobilizou delegados, trabalhadores, gestores, representantes de organizações indígenas, convidados não indígenas e usuários indígenas atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os dias 2 e 6 de dezembro, os participantes discutiram as 1190 propostas para a saúde indígena que saíram das 309 etapas locais e 34 etapas distritais da conferência.
Por Lucas Pordeus Leon/Blog da Saúde
Foto: Luís Oliveira/Sesai-MS