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EDUCAÇÃO
Projeto da Universidade de Brasília adapta partituras para o braile
Estudante Carolina Lima, demandante do material de estudo em braile, ao piano - Foto: Reprodução UnB TV.
Os desafios para quem quer cursar o nível superior em uma universidade pública são grandes. E não é só da aprovação no vestibular o Enem. Na graduação há novos barreiras a serem superadas. Esse é o caso da estudante Carolina Lima, que neste primeiro semestre de 2020 cursará o 5º semestre de licenciatura em Música. O desafio dela? É a primeira aluna com deficiência visual a cursar Música na Universidade de Brasília (UnB).
No começo, ela contava com o apoio da Escola de Música de Brasília (EMB) – de onde é egressa – para acessar materiais e partituras em braile. Mas, com o avanço na graduação, a demanda de material aumentou e extrapolou a capacidade da EMB em auxiliá-la.
Assim, a estudante entrou em contato com a Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência da Universidade de Brasília (PPNE-UnB) e fez um pedido mais que especial: adaptar partituras musicais para o braile. Assim nasceu o projeto Musicografia Braille. O objetivo da iniciativa é diminuir a desistência de alunos em razão da falta de acessibilidade nas instituições de ensino.
“Essa estudante [Carolina] precisa de uma série de adaptações no formato dos materiais acadêmicos, principalmente em áudio para textos e no caso das partituras em formato braile, utilizando uma codificação específica no caso do braile, que é a musicografia braile”, explicou a coordenadora da PPNE, Thaís Imperatori.
O projeto tem parcerias com o Departamento de Música e com o Laboratório de Apoio ao Deficiente Visual da Faculdade de Educação da UnB, e da Escola de Música de Brasília (EMB). Isso porque o Musicografia Braille foi realizado a partir dos materiais utilizados por Carolina. A lista inclui canto coral, regência e disciplina de flauta.
"O projeto tem me ajudado a avançar melhor na graduação. Poucos professores têm formação para adaptar a música ao braile. Então, a fase piloto do foi muito importante, inclusive na capacitação dos bolsistas que precisaram aprender braile para recodificar as partituras", relatou Carolina.
Desenvolvimento do projeto
A produção de material próprio do curso começou em agosto. Já foram desenvolvidos uma apostila de coral com dez partituras de canto, cinco cânones — composição de duas ou mais vozes entoando uma mesma melodia —, três partituras de piano, material e gráficos de matrizes para regência.
Outras instituições já possuem pesquisas nessa área, como é o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mas, a Musicografia em Braille é o primeiro projeto com o objetivo de dar acessibilidade à partituras em braile na UnB. A iniciativa já gerou frutos fora da Universidade.
“Temos recebido um retorno positivo principalmente com jovens com deficiência interessados em dar continuidade nos seus estudos na educação superior e que tem visto a carreira da música como uma das possibilidades”, disse a coordenadora Thaís Imperatori. “Um dos pressupostos do projeto é entender que a acessibilidade precisa estar presente tanto nas condições de ingresso desse estudante — na realização do Enem, do vestibular —, quanto na garantia de permanência do estudante no seu curso”, completou.
Voluntários
O projeto contou, no semestre passado, com seis alunos bolsistas, dois voluntários e uma revisora de braile. Para o início do semestre 1º/2020, um edital está aberto com vagas para dez estudantes pelo período de um ano. Para participar é preciso ter conhecimento em teoria musical e noções de acessibilidade. O material adaptado está disponível para quem se interessar: basta solicitar na Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência da UnB. E, em breve, a coordenação do curso que disponibilizar a produção no Acervo Digital e Sonoro da Biblioteca Central da UnB para que estudantes de todo Brasil possam ter acesso.
A experiência com os materiais desenvolvidos para a estudante Carolina Lima fizeram o grupo perceber a necessidade de dominar técnicas de adaptação e de criar soluções inovadoras para alcançar o resultado esperado. Foi o caso, por exemplo, da criação de uma codificação para a partitura para flauta doce. A tarefa é descrita por Ana Karoline, do curso de Língua de Sinais Brasileira/Português como Segunda Língua, como uma das mais difíceis realizadas pela equipe.
Futuro
Agora, a estudante Carolina Lima já olha com expectativa para o futuro do projeto. "Com o Musicografia Braille já é possível sonhar com a criação de uma disciplina específica nesse tema para a formação dos futuros professores de música. Assim, mais alunos, não só de graduação, mas dos ensinos Fundamental e Médio, poderão ter uma formação musical adaptada às necessidades das pessoas com deficiência visual", acredita Carolina.
Com informações do Ministério da Educação e UnB