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A escassez de combustíveis ao longo da greve dos caminhoneiros demonstrou como o petróleo é um produto essencial para o funcionamento da sociedade contemporânea. Sem petróleo (e eletricidade), retornamos todos, na prática, ao estilo de vida da Idade Média. Em que pese o avanço das fontes renováveis de energia, os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) continuarão no centro da matriz energética global pelos próximos 30 anos – pelo menos. Daí a importância do pré-sal brasileiro – uma nova fronteira produtora de óleo que revigorou as reservas nacionais e as perspectivas de crescimento da Petrobras como empresa produtora de energia.
Sendo uma commodity – por sinal a mais comercializada do mundo –, o petróleo tem seu preço determinado pelas leis de mercado, ou seja, oferta e demanda. Entretanto, pela característica estratégica desta matéria-prima produzida pela natureza e distribuída geograficamente de forma desigual pela superfície da Terra, o seu preço oscila mais em função de questões geopolíticas do que mercadológicas. Isso torna ainda mais imprevisível a expectativa de preços futuros. As quatro crises de petróleo que ocorreram até hoje (1973, 1979, 1991 e 2003) tiveram como fato causador a geopolítica – em particular – a do Golfo Pérsico, onde se encontram os maiores produtores e 70% das reservas mundiais de petróleo convencional.
O barril tipo Brent, cotado a US$ 50 no final de 2016, alcançou patamares entre US$ 70 e US$ 80 nos últimos meses, acarretando alta de combustíveis e derivados em diversas partes do mundo – inclusive no Brasil. Entre os motivos que levaram à alta do preço do barril, podemos identificar: o acordo realizado entre a Rússia e os grandes produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de reduzir coletivamente a produção de forma a gerar aumento de preço; a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, aumentando as tensões no Oriente Médio e a perspectiva de novos conflitos naquela região; a falta de investimento da petrolífera venezuelana, cuja produção caiu de 2,5 milhões (2016) para 1,5 milhão de barris por dia (2018), entre outros.
Neste sentido, a Petrobras se confirma cada vez mais como uma empresa estratégica e fundamental para o Brasil, evitando que o país fique nas mãos de petrolíferas estrangeiras que tomam suas decisões de acordo com interesses próprios – muitos dos quais em desacordo com o interesse nacional. É importante lembrar, todavia, que a Petrobras não está desconectada do mundo e lida com uma commodity, cujos preços são determinados por fatores internacionais, em escala global.
Ricardo Ghizi Corniglion é professor de Relações Internacionais, coordenador do Curso de Administração da PUC-Minas (unidade São Gabriel) e doutor em Geopolítica de Energia.