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A educação transformadora de Carolina Maria de Jesus
Contrariando todas as estatísticas e a previsão de um futuro de dificuldades, num país com desigualdades sociais e poucas oportunidades, Carolina Maria de Jesus rompeu todos os paradigmas, usando, como arma, a educação e a literatura.
Segundo um estudo de 2020 lançado pelo World Inequality Lab, os 10% mais ricos no Brasil, representam 58,6% da renda total do país e as estatísticas disponíveis indicam que os 10% mais ricos sempre ganharam mais da metade da renda nacional. Defender, neste contexto, que o único caminho para o sucesso é a meritocracia, seria uma falácia. Entretanto, esta porta fechada se tornou um portal para a personagem da nossa história real de hoje.
Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais. De origem muito humilde, neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, desde criança, Carolina possuía um desejo intenso de aprender a ler e tinha uma curiosidade imensa sobre o mundo.
Ela ingressou aos sete anos no colégio e concluiu a primeira e a segunda séries do primário, mas infelizmente teve que deixar a escola quando a família se mudou da zona rural.
Após passar por algumas cidades de Minas Gerais, Carolina chegou a São Paulo em 1947 e foi trabalhar com empregada doméstica. No ano seguinte, ela engravidou e foi despedida. Na época, era muito difícil uma mãe sozinha conseguir um emprego e Carolina foi morar na rua. Após alguns meses, conseguiu construir seu barraco na comunidade do Canindé, onde ela deu à luz a seus três filhos.
Carolina estava sempre envolta de livros, lápis e cadernos, onde registrava tudo a sua volta. Até que, em determinado dia, seu talento foi descoberto. Um jornalista que estava na comunidade em busca de material para uma reportagem sobre a favela, conheceu Carolina.
Eles conversaram sobre os livros que ela escrevia e o jornalista percebeu o talento daquela mulher e escritora. Resolveram, então, publicar alguns dos escritos no jornal e, em seguida, o primeiro livro: O Quarto de despejo. Ele foi lançado em 1960 e foi um sucesso de crítica e de vendas.
Carolina foi convidada para diversas entrevistas e viagens, e virou assunto entre escritores famosos, como Rachel de Queiroz e Manuel Bandeira. Ela lançou mais dois livros, gravou um disco com canções de sua autoria.
Seus livros falavam sobre denúncia social, pois ela efetivamente vivia as condições de uma vida pobre e difícil. Carolina escreveu mais de cinco mil páginas, entre romances, contos, crônicas, poemas, peças de teatro, canções e textos de gênero híbrido.
Ela possuía um estilo próprio, que confrontava com a tradição literária e a norma padrão culta da língua. Seus livros foram publicados em mais de 40 países e traduzidos para 14 línguas.
Fontes: Mundo Educação, BBC, Brasil Escola