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O vanguardismo excepcional de Antonieta de Barros
A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação. É com essa frase, dita por Antonieta de Barros, que chegamos ao último #TBT do mês das mulheres. Antonieta nasceu em 1901 na cidade de Florianópolis. Filha de Catarina Waltrich, escrava liberta, Antonieta foi jornalista, professora e a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular. A bandeira política de Antonieta era o poder revolucionário e libertador da educação para todos.
Antonieta de Barros foi excepcional. Está entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil. Em 1934, veio como deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo. A brasileira Alzira Soriano havia sido eleita prefeita de um município do Rio Grande do Norte, sete anos antes. Vale lembrar que, Antonieta foi eleita menos de 50 anos após a abolição da escravatura e num país fortemente preconceituoso quanto à classe, cor e gênero.
De família extremamente humilde, Antonieta seguiu os estudos cursando o ensino básico e, aos 17 anos, começou os estudos na Escola Normal Catarinense. Se formou professora e fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, que alfabetizava adultos em situação de vulnerabilidade. Sua crença na educação como a única arma capaz de libertar. O analfabetismo em Santa Catarina em 1922, época em que começou a lecionar, era de 65%. Por mais incrível que pareça, esse era um dos índices mais baixos de analfabetismo no país, seguido por São Paulo.
Além de professora, Antonieta escrevia como cronista e sua contribuição gerou mais de mil artigos entre 1929 a 1951. Ela escreveu em oito jornais e criou a revista Vida Ilhoa. Seus artigos eram assinados sob o pseudônimo Maria da Ilha e eram sobre educação, política e a condição feminina. O livro Farrapos de Ideias, publicado em 1937, teve os lucros da primeira edição doados para construção de uma escola para abrigar crianças.
Em 1934, o Brasil inaugura a possibilidade de mulheres poderem votar e serem votadas para o Executivo e Legislativo. Antonieta concorreu para uma das vagas de Deputada Estadual à Assembleia Legislativa catarinense. Foi a primeira deputada estadual mulher e negra do país e uma pioneira no combate à discriminação dos negros e das mulheres.
Em 1935, Antonieta foi responsável por escrever os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo da Constituição de Santa Catarina. Em 19 de julho de 1937, Antonieta presidiu a Sessão da Assembleia Legislativa e se tornou a primeira mulher a assumir a presidência de uma assembleia no Brasil. Seu mandato termina com o início do Estado Novo, que fecha os parlamentos de todo o país. No retorno da democracia, foi novamente deputada estadual, sendo novamente a única mulher no parlamento catarinense. Ela continuou a defesa da educação, sugerindo a concessão de bolsas de cursos superiores para alunos carentes e concursos para o magistério.
Se o pai da data que celebra o "Dia do Professor" é Dom Pedro I, Maria Antonieta é a mãe. Isso porque a primeira grande lei educacional do Brasil foi sancionada por Dom Pedro I em 15 de outubro em 1827, mas, apenas após o projeto de Antonieta, foi criado o Dia do Professor e o feriado escolar no dia 15 de outubro no estado de Santa Catarina. Somente 20 anos depois a data ganhou o país, em outubro de 1963, através do presidente João Goulart.
Seu nome deveria ser conhecido por cada criança que homenageia seus professores no dia 15 de outubro. Por cada mulher que exerce seu direito ao voto e disputa vagas nas eleições. Por fim, por cada brasileiro que sai às ruas indignado com os preconceitos de cor, classe e gênero.
Fonte: El País, Wikipedia