Notícias
Letra por letra: a esperança através do ensino
O posto da Polícia Rodoviária Federal na BR 070, em Ceilândia, distante 40 km de Brasília, é o espaço onde a sensibilidade e dedicação dos PRFs que lá trabalham fizeram a diferença na vida da paraibana Maria do Socorro Alves. Nascida em 1974, na cidade de Malta, no Sertão da Paraíba, ela não teve a chance de aprender a ler e escrever. Atualmente, ela é funcionária terceirizada e presta serviço de limpeza no posto da PRF. No final do expediente, que inicia às 7h e encerra às 16h, Socorro troca o material de limpeza por caderno, lápis, borracha e caneta. Dedicada, comemora o feito de ter sido alfabetizada em apenas sete meses.
A princípio, a PRF Patrícia não imaginava que a paraibana não sabia ler. Já havia enviado mensagens de texto para a colega de trabalho e ela respondeu. Depois, Socorro contou que havia pedido para outras pessoas lerem a mensagem e confessou que ainda tinha um sonho para realizar. Apesar de já ter carro, casa e as filhas criadas, ainda faltava aprender a ler e escrever. Por conta da pandemia, não existiam aulas presenciais disponíveis, e então a PRF resolveu ajudar a colega, fornecendo materiais e dando aulas após o expediente de trabalho delas. A formação de Patrícia – ela cursou Publicidade e Propaganda na PUC de Minas Gerais –, a ajudava a ter afinidade com as letras, o que facilitou a tarefa de ensinar. Além disso, na época o filho estava sendo alfabetizado. Algumas das técnicas de aprendizado das tarefas dele foram aplicadas com a aluna. Socorro também conta que quando tinha dúvidas os outros PRFs do posto a ajudavam.
Patrícia também fez uma busca exaustiva na internet para encontrar materiais que fossem adequados à alfabetização de adultos. Não satisfeita com o resultado, saiu às ruas e visitou mais de quatro livrarias até achar o que julgou adequado. Fez uma vaquinha com outros PRFs do posto e o livro de alfabetização chegou às mãos de Socorro. Além do material oficial, as duas trabalharam com vídeos, “simulados”, e até provas elaboradas por Patrícia, especialmente para Socorro. Em uma das avaliações, de 40 questões, foram 36 acertos.
Foi assim que a vontade de juntar as letras e compreender o que estava escrito em cartazes, bulas de remédios e receitas, foi se transformando em realidade. Socorro deixou emocionados os policiais rodoviários do Posto de Ceilândia, quando leu em voz alta o cartão de aniversário que ganhou deles junto ao livro “Caderno do Futuro’’. Daí em diante, a vida dela tomou outro rumo. Se antes só enviava áudios por aplicativo de mensagens, agora o celular recebe os dedos de Socorro, provando a mais nova conquista. E ela não para de querer aprender. A próxima meta é estudar Matemática para ser professora ou cursar Contabilidade. Está em seus planos também fazer um curso de computação.
A PRF Patrícia Dumont conta que outras pessoas a procuraram para dizer que pensaram em ajudar alguém. “Olhar para quem está do lado, isso me deixa feliz, e as pessoas podem conhecer também um outro lado da PRF. Não é pelo reconhecimento, mas uma semente, para inspirar”, finaliza Patrícia. Depois que Socorro aprendeu a ler, as filhas dela voltaram a estudar, o atual companheiro está pegando os livros emprestados para ler e mais um prestador de serviço está sendo alfabetizado com ajuda dos colegas PRFs em outro posto.
O projeto “PRF – Educação que transforma vidas” apenas começou, mas já se mostra transformador e envolvente. O objetivo é atingir mais unidades da PRF do Brasil, buscando policiais que queiram dedicar um pouquinho do tempo para abrir novos horizontes para outras pessoas por meio do ensino.