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PREVIC 15 Anos
Painel 2: Tecnologia na governança é o futuro das EFPC
Governança atrelada à tecnologia. Essa foi a palavra de ordem defendida por especialistas como ação urgente para que o setor de fundos de pensão possa desenvolver um ambiente mais moderno, seguro, ágil e próximo dos usuários. O uso da inteligência artificial como facilitador e o desenvolvimento de sistemas que possibilitem mais transparência de dados e informações, foram algumas das estratégias apresentadas no painel “A PREVIC do futuro”, do “Seminário PREVIC 15 Anos”. Evento presencial que aconteceu em Brasília dia 13/3, e reuniu mais de 200 participantes entre representantes do Governo, parlamentares, entidades de classe e fundos de pensão.
O painel, que teve como objetivo projetar mecanismos de aperfeiçoamento e expansão do setor, contou com o diretor de Administração da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), Leonardo Zumpichiatti, como moderador do encontro entre Rodrigo Assumpção, presidente da Dataprev; Denise Maidanchen, diretora executiva da Quanta Previdência e Eduardo Carone, CEO e fundador da Atlas Governance.
Tecnologia como investimento
Em pleno século XXI é cada vez mais difícil pensar em um mundo sem tecnologia. Até mesmo no segmento de fundos de pensão (constantemente associado a rigidez de regras, com inovações pontuais), essa ferramenta tem se tornado cada dia mais indispensável. Isso, se o setor não quiser se tornar obsoleto. Segundo Denise Maidanchen, uma forma fácil de entender a necessidade dessas mudanças é comparar as entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) a um relógio. Afinal, quando estava quase caindo em desuso, o relógio tradicional se reinventou. Os chamados smartwatches (ou relógios inteligentes) são capazes de oferecer muito mais do que a hora certa, possibilitando aos usuários acessar informações diversas, como previsão meteorológica, batimentos cardíacos, mensagens de texto e, até mesmo, realizar ligações.
“O smartwatch tem essa relação parecida com o mercado financeiro, que mudou completamente. Hoje as pessoas querem produtos e serviços mais relevantes, com soluções mais personalizadas e mais ágeis. Essa nova era financeira, assim como o smartwatch, é marcada pela agilidade, pela personalização, pela flexibilidade e pela disponibilidade de soluções muito maiores”, explica a diretora executiva da Quanta Previdência.
Pensamento compartilhado pelo presidente da Dataprev, empresa pública que tem como missão promover soluções digitais para o aprimoramento e execução de políticas sociais e previdenciárias. Para Rodrigo Assumpção, o grande erro das EFPC é entenderem o dinheiro usado no desenvolvimento de tecnologias como gastos, e não como investimentos. Ele classifica as empresas em dois modelos: “aquelas que diminuem os seus custos com tecnologia e, portanto, avançam. E aquelas que diminuem seus custos de tecnologia, e essas ficam paradas”.
Rodrigo exemplificou os investimentos em tecnologia como uma curva 80 x 20, “onde 80% você investe para manter a sua operação e 20% para transformá-la. Essa discussão, que parece muito simples, é um lugar que você vai andando e vai saindo decisões cada vez mais complexas. Esse é o espaço da discussão estratégica”.
Governança e tecnologia
Entretanto, um alerta precisa ser feito. Conforme os debatedores que participaram do painel “PREVIC do futuro”, investir em tecnologia com o intuito de crescimento do setor e ser um facilitador para os usuários, está mais atrelado à governança das EFPC do que, simplesmente, investir em computadores novos para a instituição.
Eduardo Carone destacou quatro pilares para essa reestruturação do sistema. Entre eles a necessidade de ter um Conselho de Administração (ou Deliberativo) nomeado conforme os propósitos e desafios enfrentados por cada fundo de pensão. “Sabendo qual é o meu propósito e sabendo quais são os meus desafios somente depois é que eu vou escolher os meus conselheiros. Normalmente a gente faz o contrário. A gente escolhe os nossos conselheiros e coloca todo mundo em uma sala para discutir os desafios e os propósitos, mas isso muda tudo.” E completa lembrando que essa composição precisa ser feita “com pessoas que tenham competências e perfil que eu vou precisar para poder cumprir esses desafios no futuro. Não dá para ter boa governança onde não há papéis bem definidos”.
Sobre a governança nas gestões dos dados, o presidente da Dataprev foi enfático: “o tempo para que cada EFPC tenha uma pessoa que se dedique à gestão dos dados já passou”. Segundo Rodrigo, “não existe IA (inteligência artificial) sem um fluxo quase que interminável de dados. E, se esses dados não forem gerenciados, isso agrava desde o aumento das “taxas de alucinação até a verdadeira pesca com rede de arrasto de dados”. Por isso é importante estruturar a governança, a compreensão de dados, para poder participar desse ciclo que está iniciando. Onde a centralidade dos dados vai ter um impacto em toda a economia, em todo o processo de política pública, em todo processo de autoconhecimento e autorreconhecimento de uma sociedade”.
Muito além da aposentadoria
Se tem algo que ficou claro no debate com os especialistas, é que as EFPC têm muito a ganhar com o uso de tecnologias, como a inteligência artificial. “A otimização de tempo eu diria que é algo que, de imediato, a gente já consegue proporcionar. Depois, na medida que eu crio o conteúdo, a IA pode trazer outros insights. A pessoa que está consumindo o conteúdo começa a fazer algum tipo de interação, respondendo a algum questionário. Eu estou estimulando aí uma identificação de comportamento, onde posso aplicar outras inteligências artificiais. Na medida que ela mapeia o comportamento daquela pessoa, pode vir a oferecer alternativas diferentes, com infinitas possibilidades”, pontua Denise Maidanchen.
Na era da informação, o relacionamento com participantes e assistidos passa a ter um caráter mais imediato, onde os indivíduos buscam atendimento personalizado e ágil em qualquer horário e qualquer dia da semana. A inteligência artificial age nesse sentido, compartilhando dados, ações e informações relevantes, capazes de gerar identificação com a instituição e aumentando o sentimento de segurança dos usuários.
Como lembra Eduardo Carone, essa evolução tecnológica pode ajudar no resgate sobre a verdadeira missão do setor de previdência complementar fechado. Que, muito além do simples pagamento de aposentadorias e benefícios, tem o objetivo de “envolver cada família brasileira em um “abraço de segurança e tranquilidade, garantindo o bem-estar hoje e sempre”. E finaliza ao lembrar que esse “seria um diferencial competitivo enorme do ponto de vista de atração e retenção de talentos (para dentro da EFPC) e do ponto de vista dos desafios que a gente tem que crescer, voltar a vender, voltar a ter planos previdenciários abertos a outros públicos, sair da estagnação comercial que a gente tem para esse tipo de produto hoje”.